Capítulo 1

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Segunda-feira, primeiro dia de aula na escola em que Agatha estudava desde seus oito anos de idade. A cada ano que se passava, esse dia se tornava apenas mais um dia comum, com os mesmos colegas e sua melhor amiga Carol. Porém neste ano, havia algo diferente. Um aluno novo que mexeu com a atenção de Agatha, seu olhar a intrigava, como se já o conhecesse de algum lugar, e o azul de seus olhos era tão forte que a fazia se sentir olhando o próprio oceano.

Sua "viagem" nos olhos do garoto foi interrompida quando ela sentiu sua amiga cutucar- lhe as costas.

- Terra chamando Agatha... Amiga! Você está há mais de cinco minutos encarando o aluno novo. Cinco minutos! Eu sei que faz tempo que essa escola não recebe gente nova, mas também não é para tanto.

- Ele tem algo diferente Carol. No olhar...

- Sei... O garoto chegou hoje e você aí, toda caidinha.

- Caidinha... Pare com bobagens! - falou Agatha, rindo da expressão da amiga.

O rapaz atravessou o corredor da escola entrando na sala de aula, que por coincidência era a mesma sala em que ela e a amiga estudavam.

Ao entrar na sala Agatha, meio atrapalhada, sentou-se em uma das ultimas cadeiras da sala com Carol. No fundo ela sabia que, se sentasse perto do aluno novo, não prestaria atenção na aula olhando seus olhos azuis e seu estonteante cabelo negro caindo no rosto.

Durante a aula, Agatha podia notar os olhares furtivos do garoto. César era o nome dele. Descobriu logo após a chamada, quando ele respondeu apenas um "aqui!" ao chamado da professora.

O sinal tocou, intervalo. Agatha ergueu a cabeça para tentar ver César no meio da multidão alvoroçada de alunos que corriam em direção à porta da sala, disputando quem chegaria primeiro para o lanche. Nada. Ele simplesmente havia desaparecido. Ou talvez já estivesse saído antes que ela o procurasse com o olhar.

Sentiu Carol puxar seu braço direito enquanto via a sala esvaziar, e a olhou impaciente.

- O que foi?

- Noossa! Também não precisa falar nesse tom com a sua melhor amiga. Vai lanchar ou não? A fila já deve estar bem grande.

- Ahm... Acho que não vou lanchar hoje, amiga. Se quiser ir, eu te espero na arquibancada da quadra.

- Então, tudo bem. Não demoro muito. - afirmou Carol, saindo correndo para entrar na fila.

***

Agatha dirigiu-se até a parte mais alta da arquibancada , era o local que mais gostava de ficar na hora do recreio com a amiga. Lá batia um refrescante vento que saciava seu imenso calor no verão. Desde criança, em dias de sol, sua pele parecia queimar tanto quanto as próprias chamas solares. Seu pai dizia que isso era normal, e que algumas pessoas tinham essa sensação ao calor extremo. Por isso, nunca se questionou muito sobre esse assunto.

Enquanto sentia o vento bater em seu rosto, César se aproximou e sentou-se ao seu lado.

- Agatha?

Ela levou um susto instantâneo ao ver que ele a chamou pelo nome, mas refletiu que ele poderia ter usado o seu mesmo método para saber o seu nome. A lista de chamada.

- Ahm...Oi. César, não é?

Ele assentiu com a cabeça.

- Lembra-se de mim?

- Não... Acho que não.

- Apagaram sua memória. - falou César, de forma quase inaudível.

- O quê? Quem?

Ele a olhou sério como se quisesse dizer algo que não lhe fosse permitido, e então , abriu a mochila tirando papel e caneta para anotar algo.

- Me encontre neste endereço depois da aula.- disse entregando o papel para Agatha e se levantando.

- Espere!

Ela se levantou subitamente e o puxou pelo braço, soltando imediatamente ao sentir a mesma sensação de quando se coloca a mão em uma tocha de fogo.

César sem dizer nenhuma palavra a mais, virou as costas e se misturou em meio aos alunos no pátio. Minutos depois Carol chega segurando um bolinho de baunilha e e um copo com suco de abacaxi.

- Desculpe a demora, amiga. A fila estava enorme, e olha só que mixaria de bolinho!

Agatha forçou um sorriso, o que fez a sua amiga perceber algo errado.

- O que houve? Está diferente.

- César veio falar comigo.

- Hum... Então o nome dele é César. Nome bonito. E o que conversaram?

- Ele me disse muitas coisas que eu não entendi.... E disse também que alguém havia apagado minha memória.

- Caramba! Que garoto estranho. E ele disse quem?

- Não. Talvez ele me conte depois da aula. Disse-me para eu encontrar com ele neste endereço. -disse mostrando o papel que César havia lhe dado. O endereço era uma lanchonete nova que tinha aberto na esquina da escola.

- E você vai?

- Vou. Quero ouvir o que ele tem para falar.

- Tudo bem. Se ele te seqüestrar, eu não estarei lá para te salvar.

- Boba!- falou Agatha rindo.

Barreiras entre água e fogoOnde histórias criam vida. Descubra agora