Sob Minha Proteção

2 - Emily

— Whatever tomorrow brings I'll be there...

Eu cantava animada e ofegante a música Drive de uma das minhas bandas favoritas, Incubus. Parte da trilha sonora que eu usava nos dias em que conseguia uma folga na agenda para correr até o parque. Alguns quilômetros separavam o meu apartamento no Upper East Side do meu lugar favorito para correr, o Central Park. Minha vida era uma loucura com tantos eventos e desfiles, mas sempre que eu podia, e estava em casa, gostava de correr ao ar livre, e música era uma coisa que nunca faltava, gostava da marcação que ela me dava para ditar o ritmo das passadas e, claro, do isolamento que eu precisava pra pensar na vida.

Eu não tinha do que reclamar, aos 24 anos, já estava no auge da minha carreira de modelo, com quase todos os meus sonhos e planos alcançados. Quem diria que a menina desajeitada iria tão longe? Com certeza eu não.

Quando aos 15 anos, fui descoberta por um agente que almoçava no restaurante em que eu trabalhava como garçonete em meio período para ajudar em casa, não poderia imaginar que faria tanto sucesso no mundo da moda. Nem me achava tão bonita para isso, mas Mark Colton, com seu olhar crítico e observador achava que sim, e quem era eu para discordar.

Hoje, quase uma década depois de muito trabalho e empenho, muitos quilômetros de passarelas e mais alguns milhares de fotos de campanha para diversas marcas, estava eu, a menina que nunca conheceu o pai e que perdeu a mãe antes de se tornar adulta, pronta para se aposentar.

Amadureci em frente às câmeras e no corre-corre dos desfiles, viajei por lugares que jamais sonhei conhecer, morei um tempo no Japão, Londres, Paris e por aí vai.

Aos 18 anos e com uma carreira já bem sólida, logo depois de perder minha mãe, conheci Samantha, minha agente, confidente, amiga, assessora, irmã, mãe e uma infinidade de outros adjetivos. Sam era a pessoa que eu mais amava no mundo e também a única com quem eu podia contar de verdade, sempre preocupada com tudo o que acontecia comigo, e com o meu bem-estar acima de qualquer coisa, me conhecia melhor até do que eu mesma.

Sim, eu dei muita sorte na vida, com alguns obstáculos e decepções no meio do caminho, mas com certeza uma vida boa. E agora, com as novas decisões que eu havia tomado, tinha certeza de que o que estava por vir seria ainda melhor, me aposentar do mundo da moda. Ainda faltavam alguns detalhes para decidir que caminho seguir. Seria um desafio enorme abrir meu próprio negócio, tão longe dos holofotes e mundo da moda, mas não estava muito preocupada com isso.

Apesar de modelar desde cedo, nunca deixei de estudar, descobri minha paixão por livros na faculdade. Foram 4 anos estudando e lendo durante as noites malucas de trabalho, foi bem difícil conciliar o trabalho e faculdade, mas foi uma coisa da qual não abri mão, afinal, eu sabia que um dia a beleza acabaria e não poderia depender dela para sempre, precisava pensar no meu futuro, que começaria naquele momento da minha vida.

Não que eu não gostasse do mundo da moda, não me entendam mal, sempre gostei do que fazia, mas chegou a hora de fugir dos holofotes, essa vida pública não estava mais me agradando. E além do fato de não poder fazer nada sem que acabasse com o rosto estampado nos tabloides, ainda tinham as ameaças.

Durante toda a minha carreira, sempre recebi cartas apaixonadas, bilhetes de admiradores e muitas propostas indecentes, mas de uns meses para cá, Sam e eu estávamos preocupadas com algumas ameaças que eu estava recebendo. No início não eram muito preocupantes. Apesar de serem mensagens inocentes, o fato de serem escritas com pedaços de revistas e jornais nos deixou com uma pulga atrás da orelha e com o passar do tempo, elas começaram a nos assustar um pouco mais, com coisas do tipo: "Você será minha custe o que custar", "Quero você pra mim" e também alguns detalhes pessoais, como saber em que hotel eu estava ficando em determinada cidade, que roupa estava usando e em que local almoçava. Tudo isso acionou em mim um alerta de que essas cartas eram mais que uma simples declaração de um fã.