Memories - Pág 08

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"A million dreams for the world we're gonna make"

Manuel

Bia e eu estávamos na sacada do meu apartamento em Madrid. A lua estava no topo do céu, esbanjando todo o seu brilho, seguida pelas milhares de estrelas ao seu redor, cada uma com sua própria luz. 

A Urquiza tinha a cabeça apoiada no meu peito enquanto cantarolava uma música baixinho. Nós não tínhamos programado nada para aquela noite de folga, então a minha linda noiva teve a brilhante idéia de apenas ir para fora e admirar o céu. Ela amava fazer isso, e apesar do frio do inverno, eu não me importei em atender ao seu desejo.

Coloquei um cobertor no chão, resolvendo jogar outro por cima, mesmo estando agasalhados devidamente. O frio europeu não é brincadeira, principalmente para amantes do verão. 

— Quando você era pequeno, qual era o seu maior sonho? 

Bia perguntou de uma hora para outra, se acomodando mais entre minhas pernas na espera de uma resposta. Não entendi muito bem qual o sentido daquilo, mas respondi:

— Surfar. 

— Sempre foi esse? 

— Sim. - Confirmei, ainda sem entender o que ela queria com o assunto. - E qual era o seu maior sonho?

Repassei a pergunta, firmando minhas mãos pela cintura da brasileira, e pousando-a sobre a dela. Me inclinei um pouco para o lado e pude vê-la sorrir.

— Eu tinha um milhão de sonhos. - Seus olhos brilharam. 

— Conte-me. 

Ela mexeu, puxando o cobertor, fazendo com que o ventinho frio passeasse por nós. Logo, fechou os olhos sentindo um provável arrepio, mas logo os abriu. Mirei sua íris e pude ver diante daquele mar castanho escuro um brilho intenso, seu sorriso era largo e sonhador. Eu podia olhar para ela assim todos os dias, e nunca iria me cansar, muito pelo contrário, me apaixonava por ela cada vez mais.

— Eu fechava os olhos e podia contemplar um mundo que esperava por mim. Um mundo que ninguém nunca esteve antes. O meu mundo. 

Bia ainda sorria, seus olhos transmitiam um sentimento que eu não conseguia distinguir. Eu estava curioso e apaixonado, ainda mais apaixonado, a escutando prosseguir.

— Eu entrava no meu quarto, e deitava na minha cama. Quando fechava os olhos, era como se eu entrasse por uma porta que me afastava de tudo, da escuridão, das trevas, me deixava livre de tudo isso. Minha mente viajava para um mundo diferente Manuel, onde ninguém esteve antes, e o mais engraçado era que eu me sentia em casa.

Foi a minha vez de sorrir. As suas palavras saiam igual de uma garotinha sonhadora. O sorriso em seu rosto ao pronunciar cada palavra era de uma criança prestes a desbravar o mundo inteiro, sem medo ou amarras que a algemassem, e ela parecia disposta a levantar dali só para sair atrás desse "mundo".

— De noite quando íamos dormir, depois do beijo de boa noite, um milhão de sonhos coloridos enchiam a minha mente e me deixavam acordada por horas e horas. Eu pensava em como o mundo poderia ser, e logo vinha o pensamento do mundo que eu via. O meu mundo, o meu lar.

Toquei seu rosto com sutileza, sentindo sua voz chegar aos meus ouvidos como uma melodia gostosa. Eu sabia várias coisas sobre minha garota das ondas, mas isso era uma das coisas ocultas sobre ela que eu desconhecia.

— Me sinto tão superficial ouvindo você  falar isso. - Confessei e ela riu. - Mas olha... - Puxei-a para o meu peito outra vez. - Suas palavras me fizeram ter uma visão diferente agora.

— Conte-me. - Usou das mesmas palavras que eu. Respirei fundo, antes de continuar.

Primeiro, olhei para o céu novamente, levando a morena a fazer o mesmo e naquela posição, a contei.  

— Eu vejo uma casa que vamos construir juntos. A sala está cheia de coisas que você gosta, colocamos porque isso faz você sorrir, e é tudo que importa pra mim. Em qualquer tempestade nós vamos estar seguros da chuva, eu vou te chamar para sentar comigo de frente à lareira, e você vai contar pra mim todos os seus um milhão de sonhos. 

Bia se aconchegou mais, e pelo canto dos olhos pude vê-la sorrir. A sensação satisfatória atingiu o meu coração, todas as vezes que de alguma forma contribuía para a sua felicidade. 

— Eu não sei que mundo é esse Bia, mas me deixe fazer parte dele. Me deixe fazer parte de tudo isso. Compartilhe comigo os seus sonhos. Independente se você estiver certa ou errada, mas diga-me que me levará com você para esse mundo.

A Urquiza se virou para mim repentinamente, e seus lábios encontraram os meus em um beijo sereno e terno. Ela se afastou olhando em meus olhos na intensidade que deram-me a certeza que apenas ela poderia dar.

— Eu não posso te levar comigo. - Sussurrou. Meu coração apertou por um mísero segundo. - Por que você já está nele a muito tempo. Eu só consigo enxergar esse mundo agora com você, meu bicampeão. 

Suspirei aliviado, a brasileira sorriu brevemente, e logo em seguida eu tomei seus lábios novamente.

O mundo que estamos pode ser complicado, Pode trazer decepções, mágoas, tristeza e outras coisas complicadas. Mas, também, eu posso afirmar que a partir desse dia, não enxergo apenas esse mundo, posso enxergar o mundo em que eu e ela estivermos vivendo. Mais unidos ainda, um mundo só nosso. Um mundo feito por nós. 

Me pergunto se neste dia, ela já carregava o nosso fruto, porque duas semanas depois retornamos à Califórnia para ter o prazer de oficializar nossa união. O resto vocês devem lembrar, na cerimônia tive a surpresa, um arco-íris estava prestes a colorir o mundo que criamos, realizando os sonhos que se tornaram, os nossos sonhos. 

"Um milhão de sonhos para o mundo que vamos fazer"

Surfando no Amor: Parte III (Binuel)Onde histórias criam vida. Descubra agora