De cima da rocha eu era capaz de avistar toda a cidade.
Eu conseguia enxergar cada ser humano andando na praia. Brincando na água. Nadando no mar.
Eu não gostava muito de sol e por isso só saia em dias mais nublados.
Eu não tinha total desprezo pela raça deles, mas - vez ou outra - gostava de caçar algum macho desavisado.
As bandeiras vermelhas balançavam pelo ar indicando a presença de tubarões. O que eles não sabiam é que eu não era um tubarão.
O cardume sempre caçava por ali e por isso esse pensamento de que a área era de risco. Mas eles pareciam não ligar se havia algum perigo debaixo d'água, continuavam vindo pro mar como presas iam atrás do Peixe Diabo. O mar era atraente.
Voltei para as profundezas e o cardume se preparava para a colheita. Era a nossa época de reprodução.
Éramos todas fêmeas e por isso tínhamos que ir em terra para acasalar. A transformação era dolorosa. Nossa cauda se dividia em dois para formar nossas pernas. Nossa espinha se alinhava novamente com o novo corpo. Nossa pele mudava de cor e textura. Nos tornávamos lindas. Afinal, éramos sirenas.
Para nós, a colheita era simples. Padrão.
Para os humanos, era o último sopro de vida.
Depois de acasalar, tínhamos que nos alimentar para poder gerar a filhote. Não era sempre que dava certo, mas precisávamos dos hormônios sexuais caso a filhote vingasse.
A colheita sempre ocorria em noites de lua cheia. Saíamos da água e vagávamos pela praia em busca do parceiro ideal. O canto das sirenas sempre atraem o macho perfeito para cada integrante do cardume. Ele não consegue resistir e vem ao nosso encontro de onde quer que esteja.
(...)
Todo o cardume se retorcia na areia e se fôssemos de outra espécie, estaríamos aos gritos pela dor agonizante. Mas gritos atraem predadores maiores e não podíamos nos dar à esse luxo. Nem em água nem em terra.
Cada uma se dirigiu para um extremidade da praia. Eu conseguia ouvir ao longe o canto de algumas de minhas irmãs. Conseguia ouvir quando o canto parava e a cópula começava.
Eu precisava agir logo se não ficaria sem parceiro para me nutrir. Mesmo sem uma filhote, o macho ajudava com nossa força. E sem sua nutrição, eu seria um membro fraco do cardume. Seria descartável.
A lua estava alta no céu. E a noite estava escura como a parte mais profunda e distante do oceano. Comecei meu canto admirando toda a extensão de água e senti quando meu parceiro recebeu meu chamado.
Quando isso acontecia nosso corpo humano ficava em êxtase.
Eu me sentia excitada, com vontade de tocar cada parte de mim.
Me dirigi até uns rochedos baixos e me deitei sobre as pedras. Acariciei meus seios com força e desci minhas mão para o meio de minhas pernas. Usava os dedos de uma mão para me penetrar e os da outra para acariciar a parte externa.
Não tínhamos esse tipo de prazer em nossas formas originais e acredito que por essa razão, essa era uma época tão esperada.
Meu canto se misturava com meus gemidos e eu sentia que meu parceiro era sensível às minhas sensações.
Quando cheguei ao meu primeiro clímax notei que meu macho estava se aproximando.
Ele era alto e moreno. Tinha olhos que brilhavam verdes como algas sob o sol. Imaginei que ele era considerado um bom macho para sua espécie. Minha filhote nasceria forte e atraente para conquistar seus próprios parceiros.
A colheita era puro instinto. Ele se despiu enquanto se aproximava de mim e se posicionou entre minhas pernas. Colocou meu seio direito em sua boca e chupou com vontade. Puxava de leve meu bico com os dentes enquanto acariciava o outro seio com uma das mãos.
Se dirigiu para o meu pescoço dando sugadas e mordidas no meu lóbulo. Segurou meu rosto e me beijou com força.
No meio do beijo, senti seu membro teso penetrando meu corpo. Gememos em uníssono.
Ele investia forte contra mim e eu sentia minhas costas arranharem na superfície de pedra. Ergueu meus joelhos, me deixando exposta e penetrou mais rápido ainda. Nessa velocidade, eu sabia que ele chegaria ao clímax logo e decidi inverter as posições.
Cavalguei sobre seu colo de forma calma e delicada no início para depois sentar forte e sedenta. Ele massageava meus seios e eu arranhava seus braços.
Fui mais rápido quando seus gemidos começaram a aumentar e joguei minha cabeça para trás sentido todo o seu líquido me preencher e todo o meu líquido o lambuzar. Por questão de natureza, meu gozo tinha um aroma doce e envolvente que servia como alucinógeno. Passei meus dedos em mim e os levei para a boca dele.
- Lamba.
Ele obedeceu e o efeito foi quase imediato. A partir daquele momento, ele estava em outra dimensão. Não teria percepção do que aconteceria a seguir.
Senti que meus olhos brilhavam sob a luz da lua e minhas presas se deslocaram para fora da minha arcada. Era hora da colheita.
Sua carne era macia e tinha um gosto suave.
Seu sangue ainda era quente e deixava cada pedaço úmido.
Eu não aguentaria comer um macho todo sozinha e como era colheita não tinha ninguém do cardume para dividir. Arrastei o restante dele para o mar comigo. Enquanto minhas pernas se transformavam na minha cauda, o corpo jazia boiando sob a água.
O carreguei o mais distante que consegui para que nenhum rastro afetasse a colônia do cardume. Também não queria que tubarões aparecessem seguindo o sangue.
Cada sirena tinha o seu tempo. Quando nadei em busca do cardume pude ver algumas de minhas irmãs voltando para casa também.
Voltei à superfície e encarei a terra. A praia. As luzes da cidade. A lua acima da minha cabeça. Minha colheita tinha sido ótima.
Mergulhei em direção à colônia com a certeza de que tínhamos sido fecundadas.
O cardume será forte, uma vez mais.
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Under Water
FantasyDe cima da rocha eu era capaz de avistar toda a cidade. Eu conseguia enxergar cada ser humano andando na praia. Brincando na água. Nadando no mar. (...) As bandeiras vermelhas balançavam pelo ar indicando a presença de tubarões. O que eles não sabia...