NARRATIVAS SEM DESTINO

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"Eleições para escolha do Novo Ministro da Magia são antecipadas!"

Essa era a manchete do profeta diário naquela manhã.

Aurelia folheava o jornal em busca de possíveis detalhes sobre as eleições, com ênfase nas entrevistas do candidato à ministro do partido de oposição ao governo atual.

Harold Minchun assentia e acenava para a foto sem expressar qualquer sentimento. O par de olhos caídos do bruxo, somado ao rosto muito redondo e cheio de rugas, lhe dotavam de certa semelhança para com um cachorro bulldog. Do lado oposto da folha, a atual ministra, Milicent Bagnold, sorria confiante e acenava para a imprensa.

Muito embora a ministra aparentasse segurança, as críticas ao atual governo eram massivas e a aprovação da população à administração vigente no Ministério apenas decaía. Assim, Harold era o favorito a assumir o cargo como novo Ministro da Magia da Grã Bretanha.

Tal constatação preocupava Aurélia imensamente, uma vez que era comum que novos ministros substituíssem os chefes de departamento do ministério ligados ao governo anterior. Ela não podia perder seu emprego, ainda mais agora.

A casa dos Waters em Londres era organizada, limpa e discreta. Não era possível escutar qualquer som de moradores lá dentro caso alguém passasse em frente à casa. Thomas não fazia um som sequer andando no andar de cima, muito embora Aurelia soubesse que ele perambulava pela casa inquieto.

A mulher fechou o jornal e levou sua xicara de chá preto aos lábios, bebericando o liquido fumegante com cuidado, enquanto observando o ambiente ao redor.

Mal parecia que sua residência havia sido invadida alguns dias atrás.

Aurelia suspirou e, largando sua xicara sobre o pires com um som suave, afastou-se da mesa e subiu as escadas. Na parede que acompanhava a subida dos degraus, havia uma serie de porta retratos da família: casamento de Tom e Aurelia, fotos dos dos quando eram crianças, seus pais, registros de viagens e muitas, muitas fotos de Kate ao longo de sua vida. No entanto, o retrato da família Waters não se fazia presente alí, não mais.

Aquele espaço em branco na parede era um lembrete da insegurança que a família enfrentava naquele momento. A mulher contornou com o dedo indicador o espaçou retangular que antes era preenchido por uma memória linda e seguiu seu caminho para o segundo andar.

Descendo o corredor de paredes impecavelmente brancas, havia um banheiro, um escritório e o quarto de Kate. Sempre que virando as escadas, Aurelia dava de cara com a porta do quarto da filha e sentia um ímpeto de bater, muito embora aquele cômodo mais parecesse um quarto de hospedes do que o real quarto de Katherine uma vez que todos os itens pessoais dela eram mantidos na fazenda há muito tempo.

Ela bateu na porta do escritório e abriu a porta.

Thomas estava parado bem no meio do lugar com os pés descalços sobre o carpete cinza e as mãos na cintura, enquanto encarava um quadro branco cheio de fotos, fragmentos de jornais, linhas, setas e post its que começara a montar havia um bom tempo.

A mulher estendeu os braços e o abraçou, encostando o peito contra as costas do marido e apoiando o queixo em um de seus ombros. Tom suspirou.

-Alguma coisa?

-Nada ainda.

Tom havia feito uso de seus privilégios como agente do governo americano o máximo que pôde. Assim foi fácil conseguir uma permissão para buscar fitas de segurança na unidade de policiamento responsável pelo setor em que ficava sua casa. As câmeras de segurança, no entanto, ainda eram uma novidade para a segurança pública nos anos setenta. Muito embora elas existissem, havia apenas uma no início da rua dos Waters e que mal alcançava a casa deles.

UNDER BLACK WATERSOnde histórias criam vida. Descubra agora