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John
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Encaro aquele papel pela milésima vez antes de assinar na linha preta ao final da página.

Josephine me encara, impaciente, aguardando que eu ponha logo um fim naquilo, como se nossa história não significasse nada.

- Pronto. - digo, empurrando o papel do divórcio em sua direção, derrotado.

Não imaginei que ela fosse resistir de mim no primeiro erro, que nosso relacionamento fosse tão frágil e que todas as promessas feitas no altar não tivesse efeito algum nela.
Eu tentei.

Mas estava longe de mim dar a ela o que tanto queria.

Sua vontade de gerar um bebê era maior do que seu amor por mim, então ela largou o barco, mesmo depois deu ter sugerido outras pessoas.

- Não quero adotar filho de alguém. Eu quero o meu bebê, quero passar por todo o processo, John. E se você não pôde me proporcionar isso, encontrei quem possa. Estou grávida. E apaixonada por outra pessoa. - foi o que disse antes de anunciar que estava pedindo o divórcio.

Na hora não me atentei aos erros dela, por que sabia que de alguma forma eu era culpado. Nunca menti pra ela, eu não sabia que não poderia ter filhos até um médico confirmar depois de dois anos de tentativas frustradas.
Ele havia dito que as chances eram pequenas, mas que não era impossível.

Só que pra Jô aquilo era motivo suficiente pra abandonar todos os planos que fizemos juntos.

- Obrigada. - diz, antes de sair da minha sala como se fossemos estranhos.

Ela encontrou outra pessoa e não se importou em gerar um filho em uma traição, muito menos com o que eu fosse sentir. Desde aquele dia, tudo o que Josephine fez foi pensar apenas nela, e mesmo assim não consigo ter raiva.

Ter uma família importava pra ela mais que qualquer coisa, e ela não se importava em como chegaria lá, quantos corações partiria, desde que seu objetivo fosse concluído.

Eu só não sabia que ela poderia me descartar com tanta facilidade. Mas é isso o que as pessoas fazem o tempo todo. É o que sempre leio e vejo.
Ainda assim, o baque é forte.

De qualquer forma, viajarei esse final de semana para o casamento do meu melhor amigo, talvez seja o que preciso para por as coisas em ordem.

[...]

- Como isso foi acontecer? - minha mãe pergunta, inconformada - Vocês não tinham tudo planejado?

Me acomodo na banqueta, abrindo a lata de refrigerante e despejando o líquido no copo enquanto dona Marta prepara o jantar.

- Tínhamos. Até o médico dizer que as minhas chances de ter um filho são mínimas. - digo, dando de ombros.

Ela me encara, aflita, mas não a encaro por muito tempo porque sei o que vem por aí.

Jo e eu conversamos muito e já tínhamos decidido que iríamos tentar assim que nos casamos. Demoramos a descobrir de onde vinha o problema por que acreditávamos que era por causa da ansiedade ou qualquer outro problema causado pela nossa euforia.
E apesar da frustração, estávamos indo bem.

Mas quando um dos vários médicos que consultamos disse que eu não poderia ter filhos, Jo mudou completamente. Nada que eu fazia era o suficiente e com o tempo ela passou de esposa preocupada para uma estranha.

- Filho, ela simplesmente desistiu por causa disso? - perguntou.

- É. Mas pra ser sincero, não sei se foi realmente por isso. Acho que ela já tinha outra pessoa e... - suspiro - De qualquer forma, fiz a minha parte e não foi suficiente pra ela. Então não tem por que ficar me lamentando. Ela está feliz com outra pessoa e finalmente esperando o bebê que nunca lhe daria. - murmuro, erguendo o copo e ingerindo o líquido gelado.

- John... Como consegue não ter raiva daquela mulher? Ela te traiu e engravidou do amante. Te fez de idiota. - dona Marta diz, irritada.

- Irritação não vai mudar a situação, mãe. Não posso culpa-la por não ter conseguido atingir as expectativas dela. Se ela procurou por outro na rua, era por que como marido, fui um bosta. - disparo, desviando o olhar da minha mãe para a bancada.

Sei que ela não compreende, que vai sempre tomar partido pra me defender. Mas não consigo ter raiva da Josephine, embora ela devesse ter sido sincera comigo em vez de sair com outro cara.

Até por que, ela só pediu divórcio quando descobriu a gravidez. Ou seja, venho sendo de idiota já bastante tempo.

- Você se livrou daquela idiota. - escuto minha mãe resmungar.

Quando meu pai adentrou no cômodo, mamãe já estava mais calma. Porém, a conheço. Ela está chateada e muito irritada por que a mulher que jurou me amar não importasse as circunstâncias me trocou no primeiro obstáculo.

E isso não vai passar enquanto ela não encontrar com Josephine e por as cartas na mesa. Seu lado maternal nunca mudou, e não importa que eu seja um homem adulto, ela continua ali pra mim.

- Ela ainda está espumando? - inchada, se aproximando do fogão para espiar a comida e recebendo um.olhar raivoso quando seus dedos tocam a tampa da panela.

- Nem pense em beliscar, Richard. - diz.

Ele se afasta e sorri pra mim, antes de sair da cozinha e da mira da esposa.
Balanço a cabeça e termino minha bebida.

- Mãe, não fique remoendo isso. Já passou. - digo ao me aproximar para beijar sua bochecha - As vezes, algumas coisas precisam dar errado para que possamos melhorar pelo o que estar por vir. - garanto, embora não acredite nem um pouco em minhas palavras.

Só não quero que a mulher a minha frente saiba como estou me sentindo para que sua raiva aumente.
Ela suspira.

- Vou tentar, mas não responderei por mim quando a ver. - reclama - Você vai ao casamento do Jeff? - questiona e eu assinto - Ótimo, talvez você se divirta e relaxe. Embora a ocasião não seja apropriada. - comenta.

Sorrio.

- Relaxe. Vou ficar bem. Não tem como a situação piorar. - respondo - Agora, vou ajudá-la a terminar o jantar. - digo, ignorando seu protesto silencioso e indo até a pia, juntando a louça e arrecando as mangas da blusa.

Escuto os resmungos baixos de minha mãe enquanto cuido da limpeza.

Chamo meu pai quando colocamos a mesa e sorrio ao escutar os dois me contando sobre a semana. Mamãe reclamando do papai enquanto ele se defende, usando as dores como desculpa.

Estar ali com eles me faz feliz, apesar de tudo, por que não importa o que aconteça, terei eles comigo.

Summertime Sadness|Conto CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora