Riot Heart - Tsukkiyama

8

Yamaguchi
[Quando vamos sair de novo?]

Tsukishima
[Eu to tendo que estudar pras provas :/]
[Desculpa]

Yamaguchi
[E você tá estudando em casa?]

Tsukishima
[Não, na biblioteca central da faculdade]

Tsukishima estava corado só de receber mensagens de Yamaguchi, ele não entendia porque se sentia assim. Desde a última vez que se viram ele só pensava naqueles olhos manchados de maquiagem, no cabelo bagunçado e espetado, nas roupas rasgadas, nos piercings, na tatuagem no ombro. Tudo em Tadashi Yamaguchi era poesia e Tsukishima queria conhecer cada letra e cada verso.

Ele não conseguia recuperar a atenção para os livros, sua mente estava ocupada demais, até que uma voz ecoou pela biblioteca, quebrando o silêncio característico do ambiente.

- Tsukki! - Yamaguchi sorria enquanto ia em direção a mesa em que o outro estava, as bibliotecárias repreenderam o barulho, mas Tsukki sorria olhando o garoto se aproximar. Dessa vez, ele não usa sua jaqueta de couro ou sua jaqueta jeans, estava usando o casaco de algodão que Tsukki havia emprestado, o que destoava completamente do resto da roupa preta, rasgada e coberta de símbolos de lutas sociais, mas, para Tsukishima, era como enxergar o paraíso.

- Yama... - Tsukishima estava sem palavras enquanto observava o outro sentar a sua frente com um sorriso tímido.

- Desculpa, Tsukki. Não percebi que tava falando alto. O que você tá estudando?

- Romantismo... - Ele não disfarçava, olhava fixamente para o garoto.

- Ah, eu adoro essa parte da literatura. Já assisti alguns vídeos sobre isso.

- Quem...quer dizer, qual sua fase favorita?

- Hmm, não sei dizer. Eu gosto muito da segunda geração, sabe, toda essa questão do sofrimento, do pessimismo. Mas a terceira fase, com as poesias de denúncias sociais, também é muito forte.

Yamaguchi sempre tinha um jeito confiante de falar, Tsukishima poderia ficar horas ali, só ouvindo e admirando.

- Você é tão inteligente...

- Que? Não, não, não sou - Yamaguchi sorriu sem jeito, ele realmente acreditava ser burro. Isso foi o que ouviu a vida toda.

- Tô falando sério, você fala muito melhor do que meus colegas de turma - Ele também sorria, enquanto o rosto de Yamaguchi corava.

- Tsukki, eu não terminei nem o ensino médio...

- Ah, você deveria! Você é muito inteligente, sério. Por que não terminou?

- É bem vergonhoso na verdade... - Yamaguchi olhou pra baixo, passando a mão pelo cabelo.

- Pode falar, eu não te julgo.

- É que eu não conseguia acompanhar...Tipo, tudo era muito rápido e os professores ficavam putos porque eu leio mal e escrevo pior ainda!

- ...Isso não tem nada a ver com inteligência, não se aprende só lendo e escrevendo e...calma, você é disléxico então?

- Dis o que? - Yamaguchi tinha pedido a linha de raciocínio de Tsukishima.

- Disléxico.

- Não sei o que significa.

- É um transtorno de aprendizagem, eu tava vendo isso semana passada na disciplina de Psicologia da Aprendizagem.

- O que? Mas você não faz literatura? Vai com calma, mano, eu me perdi lá no começo.

- Eu faço, só que eu tava só com 4 matérias esse semestre ai peguei duas de psicologia pra contar como optativa, mas isso não importa. Me conta mais, o que seus professores diziam? - Tsukishima não sabia lidar com o nervosismo que a presença de Yamaguchi o causava, então começou a falar sem parar. Yamaguchi continuava sem jeito.

- Ah...falavam que eu tinha preguiça de escrever e...A gente pode mudar de assunto? Não quero lembrar não.

Tsukishima percebeu que, mais uma vez, tinha deixado Yamaguchi sem jeito.

- Desculpa, quer sair daqui? Não dá para falar direito por causa dos outros.

- Mas eu não queria atrapalhar seus estudos, só queria ficar aqui com você, sabe?

- Vem, vou alugar um livro e você me ajuda a estudar, mas lá fora.

Yamaguchi ajudou Tsukishima a guardar seus materiais na mochila e o esperou enquanto ele alugava um livro, foram pra praça da faculdade e sentaram na grama na sombra de uma árvore. Aproveitando a oportunidade, Yamaguchi deitou no colo de Tsukki.

- O clima tá tão bom hoje! - Ele sorriu, sem perceber que o rosto todo de Tsukishima estava ficando vermelho e seu coração batia mais rápido. Nenhum poeta do mundo seria capaz de descrever o que Tsukishima sentia quando Yamaguchi estava por perto, mas muitos chamariam de paixão.

- Hm...Posso..é. Posso ler um poema pra você?- Tsukishima disse escondendo o rosto com o livro.

- Claro! Eu quero ouvir desde aquele dia! - Tsukishima abriu o livro em uma página aleatória pelo nervosismo e limpou a garganta antes de ler.

- Veja você, eu que tanto cuidei minha paz
Tenho o peito doendo, sangrando de amor
Por demais
Agora eu sei a extensão da loucura que fiz
Eu que acordo cantando
Sem medo de ser infeliz

Quem te viu e quem te vê, hein rapaz?
Você tinha era manias demais
Mas aí o amor chegou
Desabou a sua paz
Despediu seu desamor pra nunca mais
Algum dia você vai compreender
A extensão de todo bem que eu lhe fiz
E você há de dizer: Eu agora sou feliz
Quem te viu e quem te vê, hein rapaz?

Mesmo com dificuldade, Tsukishima leu até o fim, a escolha não intencional se encaixou no momento. Ele lembrou de um comentário despretensioso feito por Hinata: "Yamaguchi veio para te tirar a paz e te fazer viver a vida!"

Era isso. Yamaguchi, que se achava um nada, era tudo que Tsukishima aguardou a vida toda. O problema estava nessa paixão, tão rápida e tão fácil. Ele não acreditava que o amor era assim, espontâneo, sempre pensou que o amor era construção, mas lá estava ele, com o coração acelerado pela presença de um garoto que mal conhecia.

- Tsukki! Que incrível! Parecia mesmo que você tava sentindo essas coisas! Você é muito bom, no próximo sarau, você vai recitar no microfone!

Yamaguchi sorriu, tirando o livro das mãos de Tsukishima para que pudesse ver seu rosto. Seu rosto corado. Seu olhar tímido. Ele era fofo tentando disfarçar. O moreno podia sentir que tinha alguma coisa diferente, mas ele não conseguia entender o que era. Pra ele, não fazia sentido que alguém sentisse qualquer coisa por ele. Isso poderia ser por todas as vezes que foi desprezado e abandonado por pessoas que deviam o amar. O amor só tinha o machucado e abrir seu coração de novo não seria tarefa fácil.