Escritores

1 1 0
                                    

Aquele trabalho... decidir como eles nascerão ou morreram? A ponto de escrever suas crueldades e seus atos de bondade. Até mesmo para ele aquilo era agonizante, matá-los depois de escrever o que aconteceria com eles sem nem mesmo ajudá-los? Isso era muito embaraçoso.

Alguns os chamam de Anjos da Morte, outros os chamam de destino, eu prefiro chamá-los de Escritores.

Lá estava Never em sua cadeira solitária ao lado de milhões, seu pincel riscava cada segundo de uma vida, seus olhos desesperados tremiam, seus dedos soltavam o pincel e suas lágrimas borravam as letras do livro da vida, seus gritos de angústia socando a mesa eram justificáveis.

- Está tudo bem, você é um Escritor aceite o seu destino. - dizia outro Escritor que apoiava sua mão nos ombros de Never.

- Nunca vai ficar bem, eu não sou um Escritor... eu sou um assassino!

Never o empurrou para o lado e caminhou pelo corredor eterno.

- Never, venha à minha sala.

O alto-falante soava agudamente com aquela voz irritante. - Never olha para o alto-falante, e a porta do final do corredor abre.

- Entre e feche a porta.

- Sim senhor.

Never com a cabeça baixa escondia seu rosto inchado e sentava na cadeira olhando para o enfeite do lado esquerdo da mesa, era apenas um boneco feito por humanos.

- Never, Angie tinha que morrer um dia.

- Mas...

- Tenho nessa mesa sua nova vida, escreva.

- Tudo bem, senhor.

Never pega em suas mãos o caderno, levanta da cadeira e caminha até a porta.

- Never, faça que a história dela...

- Sim senhor.

Never interrompe o velho e bate à porta com força, vai em direção de sua mesa, senta e começa a escrever a história dela.

A luz estava na barriga de sua mãe, já fazem nove meses, era possível ouvir sua mãe gritar e respirar profundamente.

- Mais força! - dizia o médico.

- Aguenta firme amor! - falava o pai com medo apertando uma das mãos da mãe.

- Amor... Aaarg... Você... uff uff... Está... Machucando minha mão. -gritava a mãe.

- É uma menina! É uma menina! - dizia o médico com um grande sorriso no rosto, depois de limpá-la, o médico a coloca nos braços quentes da mãe. Ela sorria com lágrimas em seus olhos, a felicidade do pai curvando-se para vê-la era emocionante.

- Minha pequena princesa. Falava o pai orgulhoso.

- O seu nome vai ser.... Angie. - falava a mãe chorando.

- Angie! - assustado dizia Never, ao escrever o nome da menina no caderno, trêmulo não conseguia segurar o pincel, tonto se levanta da cadeira e caminha até a sala do velho. Empurrando a porta, Never não conformado bate as mãos na mesa e grita:

- Por que... Diz-me... Por quê?

- Achei que você gostaria de escrever a história da neta de Angie.

Never furioso joga a mesa contra a parede, e segura na blusa do velho e o levanta.

- Você acha mesmo que eu gosto de escrever a morte de alguém?

- Você gosta de sorrir com a' 'sua vida'', como aos três anos' 'dela'' quando ela andou de bicicleta pela primeira vez ou quando...

- Cala boca! -gritou Never soltando-o.

- Never, quer que eu deixe' 'sua vida'' com outra pessoa?

- Não, vou fazê-la feliz do meu jeito.

- Entendo. Ao sair feixe a porta.

- Sim senhor. - Never correu para sua mesa e começou a escrever sua história maravilhosamente e a cada pincelada fazia que' 'sua vida'' fosse o mais alegre o possível, porém dentro de sua alegria ele ainda havia tristeza e culpa.

- Preciso vê-la. - falava Never para si mesmo, ele pega o caderno e o pincel e decide partir para o mundo humano.

Angie estava dormindo no berço, como um pequeno broto de anjo, Never em pé olhando para menina, que então abre os olhos e sorri, Never espantado se afasta.

- Você pode me ver? - que idiotice ele pensava consigo mesmo, a porta do quarto se abre, Never assustado fecha os olhos.

- Oi princesa, está acordada? Volte a dormir. - o pai pega a criança e a põe no colo e a balança murmurando uma canção de ninar. Ela logo dorme nos ombros do pai.
'' Ainda bem, ele não pode me ver, quase esqueço. ''

O pai da menina a põe no berço e olha atentamente aquela criança, ele desliga a luz e fecha a porta, Never continua no quarto olhando cada respirar, suspiros, movimentos.

- Angie ...

Destinados e o Livro da VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora