-A escuridão não pode expulsar a escuridão, apenas a luz pode fazer isso - o professor de filosofia falava o óbvio enquanto os alunos cheios de tédio dormiam e piscavam pesado na última aula esperando para saírem e irem embora para suas respectivas férias, não que eu esteja fora disso.
Nesse semestre estávamos estudando o amor e o ódio, qual seria a comparação e a semelhança entre esses "elementos". Márcio, o professor de filosofia que tinha uma barba preta -como aqueles atores de novela americana- e olhos tão escuro quanto, estava tentando explicar a teoria luz e trevas, amor e ódio e como eles andam lado a lado, ou algo assim. Não estava e nem estou entendendo nada desde o começo do ano, mas não ousaria perguntar. Aposto que todos iriam rir da minha cara.
Como se eles mesmos não estivessem entendo - bufo interiormente pensando, me comparar ao meu irmão mais velho- que por sinal é sempre o perfeito, inteligente, bonitão, que todas meninas babam em cima mesmo ele tendo uma namorada - tornou-se hábito desde... Desde sempre! As pessoas o veem como a melhor pessoa desse mundo e eu o vejo como o meu irmão mais velho. Nada mais.
-Jimmy! Jimmy! - o professor me tira dos devaneios me encarando como se eu fosse algum ser sobrenatural que estivesse ali só por estar.
-Sim?! - falo voltando a realidade. Sempre penso em como seria estudar em uma escola pública longe desses mauricinhos e desses professores que ficam me perseguindo como se fosse um osso para um cachorro faminto, sem precisar ser comparado com Peter.
-Pode responder a minha pergunta? - ele fala com a voz calma, de sobrancelhas arqueadas e com os braços cruzados.
-Tudo bem...- faço uma pausa olhando para as minhas mãos que estavam suando frio - ...mas qual foi a sua pergunta? - pergunto por não ter ouvido nenhuma palavra dita. A sala inteira ri da minha cara enquanto eu me encolho entre os ombros já que estavam todos me olhando.
-A pergunta foi: Qual a semelhança ent... - ele é interrompido pelo sinal que ecoava pelos corredores.
Salvo pelo gongo. - penso de um modo que até eu admito ser muito clichê.
Tenho que conter um suspiro longo de alívio, pois sabia que a pergunta seria difícil, como sempre é para depois ser comparado com Peter.
"Arrumo" minhas coisas dentro da mochila, socando tudo dentro por querer sair o mais rápido possível. Fecho o zíper da bolsa rapidamente, confiro debaixo da mesa, que era sem fundo, então vejo o professor me encarando em sua mesa como não tinha nada debaixo dela. Sinto o meu rosto arder ficando cada vez mais quente.
Não suporto que me olhem, principalmente nos olhos.
Ser encarado é quase uma tortura, afinal nunca tive o privilégio de ser olhado com orgulho ou admiração. Normalmente os olhares que me são lançados é de pura pena ou de tremendo desgosto.
Coloco a mochila nas costas, vou ziguezagueando pelas fileiras de carteiras desarrumadas sentindo o olhar do professor me perseguindo. Quando chego a porta sou parado pelo professor.
-Jimmy... - Márcio diz de sua carteira. Me viro para ele com grande paciência para não manda-lo tomar bem naquele lugar.
-Professor, estou com pressa será que não poderia mandar a. . . - falo dando passos para trás deixando ele cada vez mais distante.
-Não Jimmy, é rápido e não é sobre a pergunta. - ele me interrompe.
"Não é sobre a pergunta" - meu inconsciente repete várias vezes como um alívio para o meu cérebro.
-Tudo bem então, o que é? - entro na sala novamente me sentando em cima de uma carteira próximo a da dele.
-Sobre suas férias! - abro a boca para falar, mas ele me interrompe com a mão.
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Fos kai Skiés
Fiksi IlmiahOs últimos raios de sol morreram junto com as esperanças dos habitantes de Griclaw. A escuridão tomou posse aos poucos e envolveu o mundo matando-o lentamente. "-Será que os ditos na profecia aparecerão?" - os habitantes do reino se perguntavam ain...