Capítulo único.

207 28 7
                                    

Ela se foi.
Em uma quinta feira chuvosa de Abril.
A data eu não lembro, mas está lapidada em seu túmulo.
Quando partiu, deixou um vazio em meu peito.
Nunca pensei que fosse existir esse sentimento e nem que fosse tão doloroso assim.
Eu me culpo por não ter notado que Chaeyoung precisava de ajuda.
Me culpo por não ter chegado a tempo.
Me culpo por não ter dito antes que a amava. 
Talvez se eu tivesse dito... poderia ter adiado ou até evitado sua partida.
A única coisa que deixou foi uma carta.
Disse que não aguentava mais viver e que o mundo a oprimia, dizia que não poderia ser livre e que nem se sentia assim. Disse que queria amar, mas que as pessoas a diziam que o amor não cabia a ela. 
A Chaeng queria ser livre e poder ser quem ela realmente era, mas nem isso conseguiu ser.
Em todos esses cinco anos de amizade nunca percebi que ela precisava de ajuda.
Sempre foi alguém alegre e amiga de todos, nunca se mostrou triste e sempre foi a dona do meu sorriso.
Percebi que estava completamente apaixonada no último ano do colegial, mas foi no início da faculdade que ela se foi. 
Queria ter tido coragem para dizer que meu coração sempre pertenceu a ela, mas nem isso eu consegui fazer.
São doze e quarenta e cinco da tarde, o céu estava clarinho.
Tenho uma garrafa de vodka meio vazia em minhas mãos.
E onde estou? No último lugar que ela existiu.
Em cima do prédio que ela se jogou para ser mais exata.
O prédio fica em frente ao Rio Han
Uma bela vista para o fim e um longo caminho até o chão.
Foi aqui que ela cortou seus pulsos.
Foi aqui que ela tomou sua última decisão.
E foi daqui que ela pulou.
Se estou pensando em fazer o mesmo? Talvez, mas talvez não.
Acontece que eu sou muito medrosa.
Mesmo querendo muito fazer isso, eu sei que nunca serei como ela.
Eu nunca conseguirei acabar com essa dor e nunca conseguirei chegar até ela.
Ela se foi .
Hoje só me resta o vazio e uma decisão.
Devo ou não pular?
Devo ou não acabar com todos os problemas que sua morte me fizeram descobrir?
Toda a insegurança, ansiedade, depressão, vazio, baixa-autoestima e tristeza profunda?
Não faço a mínima ideia.
Em um surto de coragem subo em cima do parapente.
Dou o último gole e jogo a garrafa para o lado.
Minha vista está meio turva, mas isso não me impediu de dar o próximo passo.
No momento que fiz isso, senti alguém me puxando.
Nesse exato segundo cai para trás, para longe daquela beirada e direto para o chão.
Procurei quem tinha feito isso e não vi ninguém.
Talvez seja um aviso.
Ou talvez seja ela dizendo que não devo fazer isso.
Talvez ela seja meu anjo da guarda e esteja me olhando nesse exato momento.

— Obrigada. - Disse em um sussurro.

Estou deitada nesse acho frio e sujo.
Olhando para o céu.
Como se ela estivesse ali.
Me encarando e julgando todos os meus pecados.
Talvez ela me queira viva.
Talvez eu deva viver por ela
Talvez Park Chaeyoung tenha me salvado.
Mas isso não muda um fato.
Ela se foi e não vai mais voltar.

Ela se foi. - Chaennie.Onde histórias criam vida. Descubra agora