- O Senhor já teve um sonho? - Perguntou o jovem ao seu avô.
O senhor se encolheu e tremeu. Ele baixou os olhos. Se fosse falar sobre isso, ele não conseguiria falar olhando nos olhos de seu neto.
Porque ele tinha que perguntar sobre isso?, pensou o velho. Agora a pouco estávamos falando de futebol.
- Mas como, diabos, entramos nesse assunto? - Disse o velho em voz alta. Ao se calar, ele se encolheu mais e se sua pele não fosse tão enrugada, seria possivel ver seu rosto vermelho de vergonha.
- O senhor me perguntou como eu estava na escola, então eu lhe disse que já estou na faculdade e que me formo ano que vem e que eu gostaria que o senhor pudesse vir na minha formatura. Falamos sobre minha filha de dois anos e minha esposa e eu disse que meus sonhos estão se realizando.
O velho bufou. Pedro Henrique não precisava mais continuar, pois ele se recodara das palavras que disse alguns segundos atrás: Nunca vi motivo pra ter uma familia. Percebi que o amor não é nada além de decepções. E faculdade? Besteira. Eu nunca fui, meus pais também não e nem mesmo sua mãe. Isso é para os riquinhos metidos e esnobes!
- Por que tem de ser tão amargurado?
- Eu... Eu... - O velho estava nervoso. Ele havia se chateado com a pergunta.
- Vovô, sou incapaz de acreditar que você nunca teve uma ambição.
- E você acha que todo mundo tem? - Ele rosnou. - Você é tão cego Pedro Henrique! Você é tão idiota ás vezes... Tão... Tão... Tão imbecil e sonhador! - Gritou Tobias. Que logo depois começou a tocir. Ele havia dito "sonhaor", como se dissesse "alienigena".
- Por que sempre que venho visitar você, o senhor cisma em ser severo comigo? Provavelmente devo ser a única pessoa que ainda se importa com você e que vem o visitar. - E ele era.
- E por que ainda se importa? - Rosnou Tobias.
- Tem razão... - Pedro Henrique se levantando e se dirugindo depressa e ofendido até a porta.
Mesmo que parecesse que jamais iria voltar... Ele voltaria, porque ainda se importa. E ele nem sabe o porque.
- Espere! - Gritou o velho.
Pedro Henrique estava perto da porta e se virou e olhou pra ele.
- Quando eu era uma criança, olhei pro céu e vi uma lua. Essa lua era imensa, linda e redonda. Eu olhei pra ela, acreditando que era uma deusa... Então lhe fiz um pedido, pedi de presente um anjo... E ela me deu um. Mas a lua me deixou claro que era meu dever cuidar daquele anjo, com muito amor e carinho e que eu não podia de jeito nenhum deixar de lhe dar atenção. Mas eu cresci e comecei a namorar, paquerar, ter muitos amigos. Cheguei a sair pra várias festas... Fiz várias besteiras. Dei ouvido demais aos outrosve tive uma vida totalmente mudada. Quanto ao meu anjo... Até hoje não sei o que aconteceu com ele. - Disse Tobias.
Pedro Henrique sorriu, se lembrando que seu avô sempre teve um grande talento pra criar histórias.
- Nunca pense que nunca é tarde demais! - Tobias olhou para o chão e segurou as lágrimas.
- Obrigado! - Disse Pedro. E depois, foi embora.