Se o que estimava estava certo, ainda deviam faltar quatro semanas para o fim do inverno.
Foram dias longos, e difíceis, não apenas pela friagem. Se durante a gestação já sofria com fome e desejos, então amamentar era ainda pior, mas precisava ser razoável para não se acabar antes do fim da estação.
E também o estado de sua alma.
Não era culpa da criança, mas lhe era impossível não o associar ao sofrimento que passou. Além de ter que cuidar sem seu corpo ter tempo de se recuperar.
Ainda tinha medo das costelas quebradas perfurarem algo importante.
Talvez por isso não sentisse a alegria que ouvira sobre tantas vezes. Cuidar do filho lhe parecia um dever, mas mais como um fardo que precisava carregar do que um dever que sua alma tomou.Talvez por isso continuava sem nome, mesmo já tendo se passado um mês.
O problema não era falta de criatividade, era que a ideia de o dar algo que não fosse fisicamente necessário, mesmo que fosse algo como um nome, lhe davam uma sensação ruim.Não devia ser uma boa mãe.
Depois que a criança parou de sugar, o tirou de perto do seio formado e se vestiu direito, o embalando melhor no tecido. Ele havia crescido bastante no último mês - já o enrolava com pouco mais de uma volta em vez de duas completas.
-- Obrigado por não morder. -- murmurou.
E o bebê moveu a cabecinha como se tivesse entendido.Sua mente dizia para o segurar melhor, o apoiar em seu peito, como a bruxa fizera antes, mas parecia que seu corpo rejeitava a ideia. O mantenha longe do que é importante.
Mas, já era uma evolução, considerando que nos primeiros dias sequer queria o deixar segurar seu seio para mamar.
-- Às vezes nem parece que você é um recém nascido. Mas, quem sou para falar? Falando com alguém que não entende.
E, dessa vez, ele puxou sua roupa como imaginava que faria mais tarde para lhe chamar a atenção.
-- ... Você me entende?
E a criança acentiu.
-- Então, ainda não fala, mas consegue me entender. Você realmente é uma criança estranha.~~~~~~
Quatro semanas se passaram. Havia parado de nevar a alguns dias, mas a passagem estava apenas começando.
Estava na entrada da casa, em roupas pesadas, e a criança enrolada em várias camadas em seus braços.
Ele o entendia, um bocado, mas ainda era um bebê, não pensava muito. O que entendia era que Encre era sua mãe e não queria o perturbar demais.
E, como dizem, o tempo cura todas as feridas. Em qualquer sentido, lhe parecia, já que quando ficou mais confortável amamentando as feridas em seus ossos pareciam começar a se curar mais rapidamente.As fraturas que deveriam deixar fendas ou pontos tortos haviam nesse tempo fechado retas e com a aparência de cicatrizes velhas. Seria mais crível se dissesse ter caído de uma árvore na infância do que que as teve dando à luz a dois meses. Alimentar a criança estava o curando, era nítido. Tinha quase certeza que já havia lido algo semelhante em contos, então havia reduzido a possibilidade a quatro seres. Todos com uma fraqueza em comum: sair durante o dia.
Mas a luz solar não incomodava. Pelo contrário, aqueles olhos amarelos e inocentes brilhavam com admiração diante da luz maravilhosa refletida na neve branca ainda no início do degelo.-- Você toma o melhor de dois mundos. É uma mistura. -- mesmo se quisesse, não poderia conter seu sorriso; talvez aquele rancor no começo foi apenas algo passageiro? -- O que me lembra, você ainda precisa de um nome.
O trouxe de volta para dentro de casa, tirando as roupas pesadas e o desenrolando. O primeiro tecido a o tocar sempre era aquele de duas cores. Ainda não sabia o que era, mas ela havia o enrolado nele quando nasceu, então provavelmente era para o cobrir com ele.
-- Talvez eu devesse te dar o nome de algum dos meus antecessores, para o honrar...
O bebê pareceu tristonho.
-- ... Ou eu posso arranjar outro e honrar que você é sua própria pessoa.
Ele pareceu feliz.
-- Tá bom, seu fresco.Justamente por não saber, talvez fosse melhor não cortar ou algo semelhante. Iria o fazer enrolar em alguma parte do corpo até saber o que fazer.
-- Para a minha criança de sangue misturado, Mélanger!... Não, não, muito boca cheia, e não soa muito como um nome. Um pedaço, talvez? Mélan? Mélie? Soam femininos... Lang? Langer? Langer.
O brilho nas orbitazinhas foram o bastante para saber que foi uma boa escolha.
-- Seu primeiro mimo foi sei próprio nome. Para muitas crianças o primeiro mimo é algo que os pais querem que aprenda a gostar de comer. Você é sortudo.
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Vampire Verse - Sun and Moon
FanfictionEm uma área longe da capital, em um país essencialmente mandado pela igreja, festividades não cristãs eram o próprio fruto proibido. Mas, seria inocência demais achar que quem quer não daria um jeito. Encre podia não ter crenças, fossem cristãs ou...