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Com 2 anos descobri o que era uma A La Ursa.

Eu sei que existem alguns medos bem irracionais, o meu é de A La Ursa. Eu não entendo o porquê de eu me tremer tanto quando a vejo chegando, de acordo com meu pai, tive meu primeiro contato com uma quando tinha dois anos, no meu primeiro carnaval de rua. Papai disse que eu botei a moeda no copinho como ele pediu e ri batendo palminhas e "dançando" ao som dos tambores. Então sério, eu não sei quando isso virou um pesadelo, mas virou.

Se você não é a eu do futuro, e não sabe o que é uma A La Ursa, vou explicar:

A La Ursa é uma brincadeira do carnaval aqui de Pernambuco, de origem cigana, que consiste em uma figura central vestida de Urso, geralmente com um grande macacão e máscara de papel machê, que sai por ai junto com um grande grupo, que as vezes incorporam outros personagens como o caçador, domador e afins, e uma banda, que pode ser formada utilizando dos mais diversos instrumentos como sanfonas, triângulos, bombos, reco-recos, ganzás, pandeiros, violões, cavaquinhos, clarinetes e até trombones, que balançando suas latinhas e dançando fervorosamente, cantam "A La Ursa quer dinheiro, quem não dá é pirangueiro."

E sério, quem não der vai ser muito chamado de pirangueiro. Só pra deixar claro, do dicionário pernambuquês, pirangueiro é gíria pra mão de vaca.

Apesar de ser uma figura carnavalesca, a nossa querida A La Ursa tem fama de aparecer de surpresa, e no verão, dá uns pulinhos nas praias também. No fundo eu aprecio como é divertida, é gambiarra, é euforia, é algazarra, é arriação e acima de tudo é simplicidade, humildade, mas no fundo muita riqueza cultural. Normalmente depois de ter me escondido no mar e voltar me tremendo quando ela vai embora, abraço minha água de coco e digo "Amo a cultura do meu estado" e meu pai ri da minha situação medrosa.

Bom, falando de personagens carnavalescos, sem mais delongas, vamos falar do Carnaval do colégio, porque sério, foi per-fei-to!

Ai a liberdade de poder ir andando pela rua até o colégio de top, shorts e tênis preto, uma saia de tule laranja cheia de brilhinhos e estrelinhas, e uma tiara com molas que expõem o planeta Júpiter e estrelas, e ainda mais estrelinhas penduras em fitas nos fins das hastes, Umi você arrasou nos nossos arquinhos!

A direção tentou até fazer com que a gente assistisse as primeiras aulas, mas eu nem estava na minha sala, e sim na banca em frente a Thalita pacientemente esperando-a me encher de glitter e imitar sardas falsas com pequenos adesivos de estrelas em meu rosto.

Professora Janaina logo apareceu com seu tule dourado e tiara imitando os raios de sol, e sinceramente, tiramos as melhores fotos em grupo possível! Quando estávamos em meio a uma exibição engraçada na sala dos professores, que adoraram a criatividade da fantasia, alguém começou "Ô sol vê se se não me esquece e me ilumina", e mesmo com Sol com aquela cara impagável de quem odeia essa música por motivos óbvios, Vitor Kley não pensou na coitada quando fez uma música com seu apelido viralizar em todo o Brasil anos atrás, todas formamos uma ciranda em volta da professora e dançamos muito todas as músicas brasileiras que os professores conseguiram lembrar envolvendo astros, espaço e via láctea, acho que a última foi "Lindo Balão Azul" de Guilherme Arantes, antes do sinal tocar e podermos descer pra festa de verdade.

A rua na frente do colégio foi fechada e contrataram um trio elétrico que ficaria imóvel no fim dela, dançamos muito, com direito a trenzinho e muito suor. Os professores ganharam 2 latinhas de espuma cada. Meu pai, vestido de Carl de Up Altas Aventuras, deve ter gastado as duas em mim e em minhas amigas, ficando óbvio a uma distância bem segura da muvuca junto com quase todos os professores.

Agradeço também ao Ipê-amarelo por colocar o sacolé sabor fruta artificial por 2 reais, eu devo ter tomado pelo menos uns 5, minha boca vai ficar numa mistura linda de rosa e azul pelo resto de minha vida.

Furacões Em JúpiterOnde histórias criam vida. Descubra agora