Capítulo 3

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     Por se localizar entre as montanhas e as planícies, o reino de Gandara era onde as cortes de todos os reinos se reuniam. Lorde Remus conversou com Serena sobre isso - depois do herdeiro de Lorde Harry ir embora; de que precisariam montar um baile para todos, e assim, recebê-los neste período de cortejo. Depois de uma longa conversa, Serena concordou e autorizou o planejamento do baile.

     Uma semana depois, estavam carregando a carruagem que os levaria até o castelo do rei e da rainha, os falecidos pais de Serena, Darya e Callan. Seria a primeira vez deles indo visitar o castelo desde a invasão que os obrigou a fugir. 

     Darya havia pedido para que Lorde Remus fosse em outra carruagem, para eles terem essa primeira viagem de volta ao lar juntos e sozinhos. A ideia de voltar para o lar depois de tanto tempo iria provocar uma mistura de sentimentos, que Serena sabia que Darya não queria mostrar para mais ninguém além dos irmãos. Callan ficara feliz e ansioso com a viagem, ele não lembrava do castelo, era muito novo na época, e ao saber que passariam o seu aniversário lá ele ficou mais animado.

     O caminho foi tranquilo. Conforme se aproximavam Callan fazia mais perguntas sobre como era o castelo, a maioria das respostas eram de Serena pois Darya não desviava o olhar da construção conforme se aproximavam. 

- Estou cansada de responder perguntas Callan, quando chegarmos você poderá ver com os próprios olhos. - Serena disse desviando o olhar para Darya. - Está tudo bem? 

     Serena tocou no ombro da irmã que sentava no banco a sua frente. Como se tivesse saído de uma transe, Darya desviou o olhar e sorriu para os irmãos.

- Estou. - Ela respondeu e ajeitou a saia do vestido. - Só estou pensando em como deve estar depois de todos esses anos, como vai ser entrar no castelo de novo...

- Eu pensei nisso ontem a noite, em como seria voltar ao castelo depois da morte deles. - A atmosfera pesou sobre a carruagem. - Não consegui dormir.

     Novamente os irmãos olharam pela janela da carruagem e viram a última aldeia que os separava do destino. O cheiro de pães recém assados invadiu o ar que respiravam. As pessoas transitavam tranquilamente pelo pequeno porto comercial, enquanto várias especiarias eram oferecidas por seus vendedores que anunciavam os preços.

- Eu sei que eu era um bebê na época em que fugimos. - Disse Callan quebrando o silêncio. - Mas, pelo menos estaremos juntos. 

- Sim, sempre. - Darya se virou e estendeu a mão para o irmão que estava ao seu lado.

- Sempre. - falou Serena dando um leve sorriso.

     Depois de alguns minutos, os irmãos estavam atravessando os grandes portões do castelo - onde soldados paravam o serviço para olhá-los. 

     Um rapaz que aparentava ter a idade de Serena, se curvou e sorriu para ela. O soldado mais velho, que aparentava ser o seu superior reprimiu a sua atitude. Serena sorriu e voltou seu olhar para os irmãos. Callan acenava e cumprimentava todos que estavam no castelo, sua animação era percebida até pelos jardineiros - que paravam o serviço para retribuir o cumprimento. Darya sorria e olhava á tudo e á todos com muita curiosidade.

     Ao descerem da carruagem, Lorde Remus os esperava na entrada do castelo, uma mulher estava ao seu lado junto com mais dois guardas - um de cada lado da entrada principal.

- Majestades. - A mulher fez uma reverência. - Permita-me me apresentar, sou a governanta do castelo, podem me chamar de Dara.

- Olá Dara, meu nome é Callan. - O irmão se apresentou. Lorde Remus riu baixinho.

- Eu sei Vossa Majestade. - Dara sorriu para o príncipe. - Vamos entrando, acredito que já conheçam a estrutura do castelo, mas lhes mostrarei algumas reformas que foram feitas.

     Eles adentraram o castelo. Dara se provou uma governanta exemplar, além de organizar toda a estrutura do castelo impecavelmente, era gentil com todos no castelo - desde guardas até as camareiras. 

     Ao entrarem no corredor que havia pegado fogo anos atrás, viram que onde antes havia algumas mesas de negócios, agora era uma área de convívio. Grandes sofás preenchiam o espaço, em uma das paredes, uma pequena estante de livros ocupava o espaço, ao seu lado tinha uma grande janela com visão para os jardins. Quadros de pintura e cadeiras foram postos na parede oposta da estante.

- Aqui é onde poderão vir para se divertir, há livros e quadros a sua disposição. - Dara apontou para um armário. - Lá dentro é onde alguns jogos ficam guardados. Qualquer coisa que quiserem ou sentirem necessidade, é só me comunicar.

- Posso trazer o José para cá? - Callan perguntou. - Ele adoraria brincar comigo.

- Não sei se pode... - Disse Serena enquanto olhava para o irmão.

- Claro que pode Majestade, qualquer amigo do príncipe é bem vindo. - Disse Dara rapidamente.

- Acredito que esse não será Dara. - Darya falou sorrindo para a governanta. - José é o cavalo que ele ganhou de presente no seu último aniversário.

- Ó meu deus. - A governanta pareceu constrangida. - Podemos arrumar outro espaço para você e o cavalo, digo José brincarem Majestade.

    Serena e Darya soltaram risos enquanto Callan concordava e seguia a governanta para o próximo lugar.

     Depois de terminarem de olhar o último cômodo, os irmãos foram para direções opostas. Callan se despediu rapidamente e foi explorar o castelo - com um guarda o seguindo para vigiá-lo. Darya queria algo para comer e, chamou um guarda para acompanhá-la até a cozinha. Serena ficou no salão, olhando tudo a sua volta. Pinturas de seus falecidos familiares preenchiam as paredes do castelo enquanto lustres luxuosos enfeitavam os tetos.

    Instintivamente, Serena caminhou até a sala do trono - onde costumava encontrar os pais quando era mais nova. As portas estavam fechadas, parecia que o ambiente do outro lado estava vazio. Depois de inutilmente tentar abrir as portas, Serena se virou para a ponta do corredor onde um guarda estava.

- Com licença. - Ela disse se aproximando e apontou para a porta. - Você tem a chave que destrava aquela porta? 

- Sim Majestade. - Ele fez uma breve referência e saiu de seu posto á caminho da porta.

     O soldado aparentava ser um pouco mais velho que a princesa. Seus cabelos eram um loiro reluzente, a pele embora clara estava bronzeada e seus olhos, Serena reparou que eram verdes - mesmo com o jovem tentando desviar o olhar. Ele se aproximou da porta, puxou um molho de chaves da armadura e destrancou a porta.

- Ficarei do lado de fora. - Ele abriu um lado da porta e recuou um passo. - Se precisar estarei aqui Majestade.

- Obrigada. - Sem mais delongas, Serena entrou na sala do trono.

     Mesmo sem as portas estarem abertas, a vidraça no teto reluzia a luz do sol em todo o ambiente. Ao fechar a porta atrás de si, Serena olhou a sua volta. Intocada. A sala permaneceu intocada durante o ataque, a vidraçaria que representava o reino permanecia intacta e os tronos, estavam nas mesmas posições, como se nada tivesse mudado.

     Depois de alguns minutos, ou talvez horas, Serena caiu de joelhos e começou a chorar. Esse sentimento que a sufocava queria sair, precisava sair. Absorta em seus sentimentos, Serena não reparou na presença do guarda até ele lhe alcançar um lenço para secar as suas lágrimas. Quando a princesa se virou para agradecer ele já havia saído e fechado a porta.

A Coroa - bela_uniqueOnde histórias criam vida. Descubra agora