Cabelo de fogo

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  Tudo estava escuro e estranhamente confortável. Quer dizer, quase tudo estava escuro. A luz alaranjada do sol atravessava as minhas pálpebras fechadas, tentando fazer com que acordasse. Em resposta, fechei meus olhos com mais força ainda a fim de bloquear sua luz.

  Apesar de estar sentada com a coluna toda torta, e com uma leve dor no pescoço, o sono invadia meu corpo de uma maneira bem-vinda, relaxando meus músculos e me convidando para dormir mais uma vez.

  A lateral da minha cabeça estava encostada em algo rígido e um tanto quanto gelado, mas isso não atrapalhava muito a minha preguiça de levantar.

  Senti alguém chacoalhando meu ombro. Era esse o motivo por ter acordado? Aquela mão era provavelmente de um homem, mas, surpreendentemente, não me sentia ameaçada com isso. Seu toque era realmente gentil.

  E ficar quietinha assim é tão bom. Será que não posso ficar mais alguns minutos apenas aproveitando essa sensação?

  Traindo minha própria mente, meus olhos se abriram lentamente. Desencostei a cabeça do vidro da janela e bocejei enquanto alongava os braços para cima. Devo ter grunhido como um cachorrinho que acaba de acordar de uma soneca, mas não fui capaz de escutar isso. Espero que não tenha soado muito alto.

  Onde é que eu estava mesmo? Correndo os olhos por todas aquelas fileiras de bancos vazios, dei de cara com um rosto sorridente.

  Uma... Coruja?! Não, isso é um humano.

  Um rapaz sorridente me encarava com seus olhos vermelho/dourados. Ele cruzou os braços e disse alguma coisa que não entendi direito. Na verdade, eu não entendi nada. Reconheço suas sobrancelhas estranhas e seu cabelo cor de fogo, provavelmente se tratando do filho mais velho do Pilar das Chamas.

  Sem dar muita atenção para o que não consegui ouvir, pego a nichirin que descansava no chão e a prendo em meu cinto ao levantar. Ainda ignorando tudo o que ele estava dizendo por conta do sono que ainda dominava minha mente, saí andando pelo vagão do trem completamente vazio. Só falta a gente descer? Por acaso me acordar foi uma tarefa tão difícil assim?

  Sem me preocupar com a resposta para as minhas perguntas, pulo para fora da locomotiva e me vejo no meio de uma multidão apressada, que andava de um lado para o outro naquela estação banhada pelos últimos raios solares do dia. Parecia que o cochilo que devia durar uns trinta minutos se estendeu por umas boas horas.

  Bocejando mais uma vez, me misturo no meio de toda aquela galera. Me pergunto se Yuube irá vir me dar mais instruções ou se terei que procurar o oni por conta própria. Espero que aquela cara esteja me seguindo, se não vamos nos perder no meio dessa multidão.

  Ontem, Tieko-san havia mexido uns pauzinhos, fazendo com que a pequena equipe que iria liderar na missão para exterminar umas das Doze Luas Demoníacas fosse trocada por um único espadachim. Isso me deixou um pouco irritada, pois era a primeira vez que tomaria a liderança de um grupo. Em sua defesa, a ex-Pilar da Pena insistiu em dizer que precisava melhorar meu trabalho de equipe antes de começar a ditar ordens para outras pessoas.

  E se isso não bastasse, ela ficou enchendo o meu saco o dia inteiro, jogando bilhetes em meu rosto e contando sobre Kyojuro. Cheguei ao ponto de conhecer praticamente tudo da vida dele antes mesmo de conhecê-lo.

  Aparentemente, após a morte de sua mãe, seu pai se tornou um alcoólatra que não liga mais para os seus filhos. Também possui um irmão mais novo chamado Senjuro, que insiste em se tornar um espadachim como seu pai e irmão, mas Tieko-san afirma que ele não tem futuro quando se trata de lutar com uma espada. Mas quem sou eu para ficar me intrometendo na vida dos outros?

Imagine - Kyojuro Rengoku [Em Hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora