a janela tava aberta e ventava bastante. dava pra ver o sol do fim de tarde refletindo nos azulejos meio verde meio azul do banheiro da casa velha que tu mora e ao mesmo tempo em seus olhos, que encaravam a fumaça saindo da boca por causa do cigarro que tinha entre os dedos meio amarelos com unhas pintadas de preto descascado.
“o que se passa?” perguntei. sua cara de confusão foi hilária e eu só via a fumaça se dissipando pelo ar. “na sua mente, chuu.”
silêncio. demorou um pouco até você me responder; seu cigarro parecia mais interessante, tanto quanto a fumaça que você soltava dele.
‘não sei, é que... é tanta coisa e ao mesmo tempo nada, entende?’ sim, eu entendo. você colocou o cigarro de novo na boca e eu olhei pros seus lábios finos machucados.
“você parece que tá apaixonado.” soltei e você me olhou com cara de espanto; seu cigarro até caiu e apagou na banheira fria. “anda todo avoado, pensativo, reflexivo e até um pouco deprimido... você não me engana, menino chuuya.”
‘é, talvez eu esteja.’ foi o que tu respondeu antes de acender outro cigarro e dar a primeira tragada.
eu murchei por dentro, meu sorriso falhou e minha barriga ficou estranha. doeu. e então, eu ri, porque chegava a ser engraçado pacas o quanto doía te ouvir dizer que tava apaixonado.
“quem é a sortuda, uh?” eu não queria saber, mas perguntei mesmo assim porque eu tenho que saber quem roubou o coração do meu ruivinho.
‘eu ainda não tenho certeza, mas quando eu souber, talvez eu fale.’ você não vai falar, eu te conheço bem, mesmo que nem sejamos tão próximos.
“eu também tô apaixonado.” eu roubei o cigarro da sua boca, fico feliz que não se importou com o beijo indireto.
‘é?’
“é...”
suspirei. o silêncio voltou e eu me limitei a encarar a porta aberta que dava na sala bagunçada cheia de garrafas de bebidas e sujeira porque você tá sempre bêbado quando não tá dormindo.
‘coitado do indivíduo.’ soltou uma risadinha. eu ri também, porque você riu e seu riso é a melhor coisa que existe.
“uhum, é. coitado.” concordei, porque mesmo bêbado você sempre tá certo.
naquela noite, eu não dormi. minha mente estava a mil por hora pensando quem seria o filho da puta que roubou seu coração.
se, um dia, você aparecer namorando, tudo bem. eu não ligo. não somos nada além de amigos e eu não posso sentir ciúmes porque nem somos tão próximos.
naquela noite, eu ri. eu ri porque chega a ser engraçado pra caralho o quanto dói saber que você tá apaixonado e que eu tô apaixonado por você.
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engraçado, soukoku
Fanficchega a ser engraçado o quanto dói pra caralho te ouvir dizer que tá apaixonado por alguém que não sou eu. soukoku - dazachuu | oneshot + extra