A luxuosa Casa dos Prazeres de Paola não era longe das ruas vicinais agitadas onde ficava o
ateliê de Leonardo, mas Ezio precisou atravessar a ampla e movimentada Piazza del Duomo, e
ali suas recém-adquiridas habilidades de se misturar à multidão se provaram especialmente
úteis. Fazia bem uns dez dias desde as execuções e era provável que Alberti pensasse que
Ezio já havia deixado Florença, mas ele não queria arriscar — nem tampouco Alberti, a julgar
pela quantidade de guardas a postos na praça e ao redor dela. Devia haver agentes à paisana
por ali também. Ezio manteve a cabeça bem baixa, especialmente ao passar entre a catedral
e o Batistério, onde a praça era mais movimentada. Passou pelo campanário de Giotto, que
havia dominado a cidade por quase 150 anos, e pelo enorme domo vermelho da catedral, feito
por Brunelleschi, que só o completara havia quinze anos, sem vê-los. Porém, estava ciente dos
grupos de turistas franceses e espanhóis olhando para cima cheios de surpresa e admiração
genuínas, e uma pequena explosão de orgulho de sua cidade tomou seu coração. Mas será
que a cidade continuava sendo sua, afinal?
Afastando os pensamentos tristes, ele se dirigiu rapidamente até o lado sul da praça, para
o ateliê de Leonardo. O mestre estava em casa, disseram-lhe, no jardim dos fundos. O estúdio
estava ainda mais caótico do que antes, embora parecesse haver certa ordem naquela
loucura. Os artefatos que Ezio havia notado na visita anterior pareciam ter se multiplicado, e no
teto estava pendurado um estranho aparelho de madeira que mais parecia um esqueleto de
morcego em escala maior. Em um dos cavaletes um enorme pergaminho preso a uma tábua
mostrava um desenho de nó celta enorme e impossivelmente intrincado — em um dos cantos
havia algum indecifrável rabisco de Leonardo. Além de Agniolo agora havia outro assistente,
Innocento, e os dois estavam tentando colocar alguma ordem no ateliê, catalogando os objetos
a fim de esclarecer o que havia ali.
— Ele está no quintal dos fundos — disse Agniolo a Ezio. — Pode ir. Ele não vai se
importar.
Ezio encontrou Leonardo entretido em uma atividade curiosa. Era possível comprar
pássaros canoros em gaiolas em qualquer lugar de Florença. As pessoas os penduravam nas
janelas por prazer e, quando as aves morriam, simplesmente as substituíam por outras.
Leonardo estava rodeado de uma dúzia dessas gaiolas e, enquanto Ezio observava,
selecionou uma, abriu a pequenina porta, ergueu a gaiola e observou o pássaro, um milheiro no
caso, encontrar a entrada, passar por ela e voar. Leonardo observou sua partida com
entusiasmo e estava se virando para pegar outra gaiola quando notou Ezio parado ali.
Ele sorriu de forma triunfante e calorosa ao vê-lo e o abraçou. Então seu rosto ficou grave.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Assasins Creed : Renascença - Oliver Bowden
AventuraEmbora eu acreditasse estar aprendendo a viver, estava aprendendo a morrer - Leonardo da Vinci