Capítulo único - Pai.

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Pai.

Eu sou pai...

Eu sou pai?

Eu sou pai.

Os gritos agonizantes de minha mulher finalmente se calaram, porém, não houve silêncio, pois o ar foi preenchido pelo choro engasgado do recém-nascido, que berrava em plenos pulmões. Desde que deixou de sentir o líquido amniótico quente para o ar estranho e gelado que o mundo exterior lhe oferece.

— Parabéns! É uma linda menina.

Meu coração deu um solavanco. Uma menina? Eu era pai de uma menina?

Me aproximei mais da maca / cama improvisada, vendo Karin entregar o pequeno pacotinho barulhento para Sakura, enrolando numa mantinha para manter o corpo do bebê aquecido.

Sakura estava suada, sua respiração era fraca, os intervalos muito curtos, contudo, sua expressão era de alguém extremamente satisfeita. Me aproximei mais dois passos, ficando rente a Sakura, querendo ver dentro do embrulho, mas sem conseguir mover outro músculo sequer.

Sakura tirou ver isso, e com um sorriso suspendeu o volume que gritava em seu choro agudo, em um pedido mudo para que eu a pega-se. Um medo estranho se apossou de mim" E se eu deixasse cair? E se ela não gostasse de minha presença? E se eu não fosse capaz de carregar de forma correta um ser tão frágil nos braços? E se eu a machucasse?! ". Dúvidas inundaram minha mente como numa enxurrada.

Estava completamente perdido.

Mas, sem que eu percebesse, Karin pegou minha filha e sem dizer nada a repousou em meu braço, agarrei-me a ela como se fosse minha vida. Ela continuava chorando, me fazendo entrar em desespero, porém, quando pude espiar dentro da manta e observar o bebê ali todo o ar de meus pulmões desapareceu.

Meu mundo virou de ponta cabeça.

Não respirei, nem enxerguei mais nada a minha volta quando olhei para ela. Primeiro olhei para seus lábios rechonchudos e rosados, que se contorciam no choro. Depois meus olhos correram para seu nariz, idêntico ao de Sakura; Suas narinas abriam e fechavam para acompanhar o berreiro.

Então meu olhar passou para os olhos, que continuavam lacrados, e onde lágrimas escorriam sem parar. Por fim, fiquei preso em seus cabelos, eram ralos, mas tão negros quanto ônix polida. Depois reparei em outras partes de seu corpo.

Era prematura, mas isso não a impediu de ter as bochechas rechonchudas, além das mãos e pés gordinhos, que se mexiam sem parar para todos os lados. Estava embasbacado, aquela criança era com certeza a segunda coisa mais extraordinária do mundo.

Foi então que a primeira coisa mais extraordinária o chamou, me fazendo olhar para si:

— Ela é linda, né?

Olhei novamente para o bebê escandaloso em meu braço e disse a única coisa que conseguia naquele momento.

— Ela é perfeita.

Nesse momento, quando minha voz ressuou, como se estivesse encantada, minha filha se calou. Olhei mais atentamente para ela, segurando a respiração quando ela abriu os olhos vagarosamente, revelando uma escuridão penetrante.

Suas mãos balançaram para cima, tentando alcançar meu rosto, e vendo minha expressão ela soltou uma risada curta e gostosa. Meu coração parecia ter desaprendido a bater na velocidade correta, e estava prestes a sair pela boca.

Falei de forma quase engasgada:

— É minha filha.

E ela riu novamente, se deliciando com o som da minha voz, como se isso fosse tudo o que buscasse. Não havia mais como impedir, não quando eu parecia explodir por dentro em tantas emoções. Sentia medo, fascínio, confusão, admiração, alívio, assombro, calma, agitação, compaixão, confiança, conforto, curiosidade, dúvida, hesitação, êxtase, honra, gratidão, júbilo, motivação, orgulho, proteção, carinho, satisfação, ternura, serenidade; mas acima de tudo, me sentia alegre.

Me sentia incompreensivelmente, irremediavelmente e estupidamente alegre.

Havia me encontrado novamente.

Não pude evitar, meus sentimentos se tornaram líquidos, e saíram por meus olhos sem nenhum aviso prévio. Chorava baixinho, pensando que ninguém nunca poderia ser tão feliz como eu estava naquele momento. As lágrimas salgadas já não eram de saudade, não eram de dor, não eram de medo;

Eram de amor.

Pois eu a amava.

Acreditei haver alcançado a mais perfeita paz quando passei a namorar Sakura, descobrindo estar tremendamente errado, pois nada foi tão prazeroso quanto vê-la andando em direção ao altar. Éramos um, e isso era minha concepção de maior alegria possível.

Mas descobrimos que um mais um era dois. E agora éramos eu e Sakura como um, e nossa filha, para completar tudo e mudar todos meus conceitos.

Nada parecia tão certo no mundo quanto amá-las.

Meu coração agora poderia ser um turbilhão de sentimentos confusos e conflitantes, mas minha mente gritava, berrava, clamava uma única coisa:

"Proteger com minha vida."

E em meio as lágrimas eu sorri.

Aquela era minha filha, e eu era seu pai.

Olhei para Sakura, me abaixando em sua frente, e beijando-lhe a testa. Não era o melhor em demonstrar sentimentos, em fazer discursos emocionantes, cheios de palavras charmosas e expressões cativantes, mas eu a amava, e queria mostrar isso. Encostei minha testa a sua, aproximando Sarada de nossos corpos, e sussurrei:

— Obrigada.

Era essa palavra, pequena, sem graça, desvalorizada, que expressava melhor tudo o que eu sentia. Não obstante, completei, resolvendo falar realmente o que sentia:

— Obrigada, por me dar todos os dias novas razões para viver. Obrigada por me amar, e por me dar esse presente, que é ser pai. Eu amarei vocês até o fim da minha vida, e além dela.

O sorriso que ela mostrou a seguir foi um dos mais belos já vistos, daqueles capazes de iluminar o mundo, de consolar até mesmo o coração mais quebrado. Um sorriso tão singelo, com tanta ternura, que poderia salvar até o coração mais perdido; como o meu um dia foi.

Encostei meu corpo ao dela, deixando nossa filha entre nós, numa tentativa de abraço. Sorrimos juntos enquanto observávamos nossa pequena adormecer gradualmente. E foi aí que um nome me veio à mente:

— Que tal chamá-la de Sarada?

Ela olhou para mim, e depois seus olhos pousaram sobre a bebê em nosso colo.

— Acho Sarada perfeito.

Eu era pai, e Sarada era minha filha. No fim, eu não podia me imaginar em nenhum outro lugar a não ser ali, em meio a um abraço, com as pessoas mais importantes da minha vida.

Com minha família.





(Revisado®✔)

Pai - Sasuke e SaradaOnde histórias criam vida. Descubra agora