SAHWN

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– Agora pronto, Camila, minha filha, eu pensava que você iria colocar juízo na cabeça do meu filho, não que ele iria tirar o juízo que você tem. - quase me senti ofendido. Mamãe tem a mania de me difamar sempre que pode.

Camila riu, a risada mais gostosa que eu já ouvi em toda a minha vida. O riso da minha mulher sempre foi sincero, nunca a ouvi rir sem vontade. Imagino sempre como deve ser o seu sorriso. Me falaram uma vez que quando a risada é bonita ou gostosa de ouvir, o sorriso é mil vezes mais bonito e gostoso de se ver.

– Não me surpreendo, Karen, estranhamente não me surpreendo. - é, talvez Alejandro esteja do nosso lado, mas só talvez. – Uma coisa que Camila herdou de mim foi a curiosidade. Se começasse a chegar cartas anônimas de uma, aparentemente, desconhecida na minha casa. Eu com toda certeza do mundo eu teria todas.

– Tudo bem, mas que isso é estranho, é. Vocês vão querer me dizer que não sentiram medo?! Eu divido.

– Eu não disse isso, Sofi. Shawn ficou menos apreensivo que eu, pelo menos foi o que pareceu.

– Não sei, eu sinto como se eu precisasse ler todas. É algo que, não sei, é como se eu conhecesse essa pessoa.

– Acho que isso vai nos render coisas boas no futuro... além do mais, é quase como se eu estivesse participando de um daqueles filmes dramáticos cheios de mistério. - Camila falava com muita empolgação sobre o assunto. As nossas cartas misteriosas tomaram conta da festinha de onze meses da pequena Olívia.

– Shawn. - Aali me chamou quando a conversa tomou outro rumo. Virei na direção da sua voz e ela, como sempre, colocou a mão em meu rosto, nos mantendo alinhados.

Sorri. Desde que minha irmãzinha começou a entender o mundo, ela começou a fazer isso. Era a nossa maneira de conexão total. Eu sabia que, naquele momento. Meus olhos estavam conectados com o seu olhar e que ela me queria por perto.

– Diga, minha princesa. - Aaliyah nunca se incomodou com os apelidos infantis que nenhum de nós, meus pais e eu, conseguimos abandonar.

– Você nunca mais me disse nada sobre o andamento da sua cirurgia. - prendi o lábio inferior entre os dentes.

– Surgiu uma oportunidade mas... eu não estava preparado ainda. Deixei escapar. - ela guiou minha mão até seu rosto. Ela sabe que isso me acalma. – Acha que papai e mamãe vão ficar tristes?

– O que você acha? - às vezes eu acho que Aaliyah é a mais velha entre nós. Ela parece sempre tão sensata e segura de si.

– Mila disse que eu assumir não estar preparado foi um ato de coragem. Não sei se concordo, para mim parece mais com... parece mais com alguém tentando mascarar um medo com um ato heróico.

– Eu concordo com a Mila. Ela é, realmente, uma mulher inteligente. Você fez uma ótima escolha, irmão.

– Me dói muito admitir isso, pequena. - puxei-a para mais perto e ela envolveu seus braços ao redor da minha cintura. – A sua escolha também foi ótima.

O namorado de Aali era um cara muito legal e fazia muito bem à minha irmã. É difícil perceber que eu já não sou mais o porto seguro da minha menininha, mas é muito bom saber que, quando eu não estiver lá, ela vai ter alguém que a ajude a superar seus obstáculos.

– O tempo passa tão rápido. - a voz de minha mãe se fez presente em um volume alto. Todos voltaram a atenção para o que ela tinha a nos dizer. – Todos vocês cresceram e... - sua voz vacilou em um sinal claro de emoção. – E hoje todos vocês estão em pares, estão bem, estão felizes e com saúde. Nossa família está aumentando e, ver isso, me faz perceber o quão velha eu estou. - ela riu em meio à voz chorosa.

– Está velha mas continua sendo a mulher mais linda desse mundo. - papai disse e arrancou um suspiro de Aali que estava ao meu lado.

– Está vendo, Ale, seja como ele. Me elogie dessa mesma forma. - minha sogra fez graça. Se tem uma coisa que meu sogro faz nessa vida, é babar não só em suas filhas e em Oli, mas também na esposa que, obviamente, ama se sentir amada mais a cada dia. Não apenas meus pais, mas meus sogros também são um exemplo para mim. Quero que Camila e eu nos pareçamos com eles no futuro.

– Olívia já está ficando velha - Gus, namorado de Aali provocou Tony. – quando é que vocês trarão outro membro para a família, cunhado? - não sei, sinto que ele tenta uma aproximação sempre que pode e, não é que eu seja ciumento demais ou algo assim é só que, qual é... já é péssimo eu não poder dizer que ele é apenas um qualquer como eu podia fazer com o anterior. 

Fechei minha expressão apenas para fazer uma birra infantil e, depois de sentir o clima pesar o suficiente, sorri travesso pelo canto da boca cruzando os braços.

– Esse tipo de pergunta é meio arriscada, não acha, cunhado? - fiz questão de enfatizar o pronome envolvido. Mamãe murmurou algo como um lamento e Sofia inspirou e espirou o ar de seus pulmões com pesar.

– Ele está fazendo de novo, não está?! - Aaliyah sussurrou para alguém, creio que Camila e recebeu um sim murmurado.

– Arriscado? - ele pareceu surpreso. Eu queria muito poder ler seus pensamentos agora.

– Sim, já imaginou se, sei lá... eu e ela tivéssemos problemas quanto à isso? Seria constrangedor. - um frio subiu pela minha espinha apenas por pensar na possibilidade. – Além do mais, - Camila me interrompeu chamando meu nome mas fingi não escutar. – você nem ao menos sabe se nós queremos filhos ou não.

– Você não quer? - a voz dela soou quase que desesperada. Fiz merda.

– Eu não disse isso, meu bem. - clima ficou mais pesado.

– Mas foi o que pareceu.

– Cami - fui cortado por ela.

– Em casa conversamos, Shawn.

Parabéns, Shawn, você acabou de estragar uma festa inteira por pura infantilidade.

Paixão às Cegas.Onde histórias criam vida. Descubra agora