Não diga que me ama

20. Dá para parar de fugir de mim?

Delphine POV

– Bom dia, Srta. Cormier – ouvi a voz robótica de Alex preencher o ambiente, e só quando abri os olhos, vi as janelas, que antes estava escuras, ficarem totalmente transparentes e liberarem a luz do dia para dentro do quarto.

Abracei os lençóis novamente, por pura de preguiça de me levantar. Foi então que lembrei... a noite passada... Merde! Eu ainda estava na casa de Cosima! Anthony... puta merda, eu estava condenada à morte! Me assustava o que o tesão acumulado e a falta do toque humano poderia fazer com as pessoas.

Eu queria me sentir culpada, me arrepender, mas Cosima era tão mais do que eu sempre esperei a minha vida inteira, e a noite passada fora tão... surreal, que eu não conseguia sequer me sentir mal por estar traindo Anthony. Não que eu acreditasse que ele era um santo, e que não faria o mesmo com cinco semanas em outro país.

Apertei o travesseiro contra meu rosto, e senti o afrodisíaco perfume de Cosima me invadir.

"Quero que saiba, que ninguém vai te dar o prazer que eu vou te dar agora, entendeu isso?"

"Você é incrivelmente linda, Delphine!"

Os elogios de Cosima me atingiam mais do que deveriam, e apenas por lembrar de todas aquelas coisas, ruborizei imediatamente. Anthony não me elogiava, e quase nem olhava para mim. Por que é que eu tinha sempre que comparar os dois? Como isso acabaria? Será que Cosima lutaria por mim se descobrisse a verdade? Não, não estávamos em uma época em que duas pessoas lutavam até a morte por uma única mulher.

Sem dúvida, Cosima havia sido maravilhosa na noite anterior, e me peguei sorrindo feito uma adolescente. Nunca antes eu havia tido uma experiência com outra mulher, e sem a mínima indagação, seria difícil para outra pessoa, fosse essa homem ou mulher, chegar ao patamar de Cosima. Seus toques, seus beijos, suas investidas atrevidas que ainda mexiam comigo. Tudo parecia meramente calculado para me levar à loucura.

Senti como se uma onda forte de vento tivesse batido contra mim, e me arrepiado por inteiro, apenas por pensar naquele contato tão sedento e disposto a me proporcionar um prazer descomunal como aquele. Sentei-me na cama, e vi a mais bela paisagem pelas janelas altas do quarto, que dava vista para o mar calmo e um céu extremamente azul, apesar de eu saber que, ainda sim, faria frio naquela manhã.

– Está fazendo dezesseis graus hoje, e a máxima do dia será de vinte graus – disse Alex, e por um segundo me esqueci de que ela estava sempre por perto – A Sra. Niehaus te espera no escritório, no piso inferior, e pediu para que eu lhe deixasse à vontade para a sua higiene matinal.

– Obrigada Alex – agradeci sorrindo. Como era possível alguém ser tão inteligente ao ponto de criar algo como aquela IA?

Me levantei, com o lençol enrolado envolta do corpo até ver um papel sobre a ponta da cama em que a pouco eu dormia. O peguei, e abri para ver do que se tratava. Eu conhecia aquela letra, e obviamente só poderia ser a letra de Cosima.

"O banheiro fica na porta da frente. Há roupas limpas e escova de dentes nova sobre a pia, para se aprontar. Venha logo, Cormier! Já sinto falta do seu cheiro.

CN."

Mordi o lábio inferior na intenção de conter o sorriso involuntário que tentou escapar de minha boca. Eu não poderia ter gostado daquilo. Eu deveria apenas me levantar, e ir para casa cuidar dos meus interesses pessoais.

Como eu poderia ter me envolvido com alguém como Cosima, mesmo tendo relutado tanto para admitir que eu a desejava, e que tudo o que ela fazia para me irritar, apenas me atraía ainda mais para o seu covil de predadora compulsiva? Dobrei o papel e o coloquei sobre a mesa ao lado da cama, para então me dirigir para o banheiro, e me aprontar para vê-la novamente.