— Jo?
Josie crava as unhas com força nas palmas das mãos e tenta fixar o olhar no chão empoeirado abaixo dela, para evitar atacar novamente. Um pouco mais de um mês se passou desde que ela deu um machado em seu subconsciente maligno, e ainda assim a escuridão ainda consegue escapar. É frustrante. Ela pensou que estaria melhor agora, de volta à sua vida normal e seu guarda-roupa em tons pastéis, mas nenhuma respiração profunda com Lizzie e papai ou sessões de aconselhamento podem desvendar a confusão de emoções que ela sente.
Raiva. Culpa. Fúria. Ela estava na aula, sentada ao lado de Alyssa Chang (seu primeiro erro), tentando se envolver em uma conversa amigável e não assassina (seu segundo erro), quando Josie explodiu.
Ela não quis.
Ela nunca teve a intenção.
Um comentário rude e improvisado de Alyssa sobre o estado mental de Josie foi o suficiente para que ela queimasse seu caderno e acidentalmente derretesse metade da mesa.
( Raiva. Culpa. Fúria. Raiva. )
— Josie? — A voz de Hope é familiar. Suave. Não rancoroso ou condescendente, mas suave. Ela nunca lida com Josie com luvas de criança e nem a trata como um monstro.
É legal.
Josie passa o dedo sobre um dos vasos de flores, uma vez que tem certeza de que não vai queimá-lo acidentalmente e arruinar o trabalho de alguma pobre criança. Alguns dos alunos mais jovens começaram a tentar cultivar algumas coisas na estufa da escola. Flores, frutas e vegetais. Nada muito importante. Josie tem boas lembranças de ajudar a plantar tomates e roseiras quando era muito mais jovem. Algo em tudo isso é muito reconfortante para ela, ser capaz de criar e cuidar da vida. Além disso, as crianças a amam. As crianças são mais indulgentes do que os adolescentes, aparentemente, e ainda estão bem com ela participando das aulas, contanto que ela leve chocolate e prometa não 'se vestir como Darth Vader' novamente.
Ela promete. Ela também planta abóboras para o Halloween e também corta as abóboras.
— Eu sinto Muito. — Josie dá um suspiro pesado e morde o lábio inferior quando percebe que não tem certeza do que está se desculpando. Por estar tão... quebrado? Isso tem que ser culpa de alguém.
Hope circula pela estufa, parecendo claramente fora de seu ambiente. Josie duvida que Hope tenha passado muito tempo aqui. Hope odeia crianças.
— Qual é o nome desse aqui?
Ela tem que erguer a cabeça um centímetro para ver a que Hope está se referindo, o que é um pouco desafiador, já que Josie segue uma política rígida de nenhum contato visual, queixo contra peito. Hope está na ponta dos pés, batendo levemente em uma das plantas. Fica no alto de uma saliência alta, junto com as outras que normalmente precisam de mais luz do sol para prosperar.
Lavanda.
— Cecilia. — Josie a informa, sentindo-se calorosa com o sorriso curioso crescendo na boca de Hope.
Hope cantarola e bate em outra. — E este?
— Marca.
— Que tal o verde?
— Davey.
— Este?
— Ariel.
Seus dedos traçam uma flor rosa. — Que tal este?
— Princesa Chiclete. — Josie responde, abaixando a cabeça novamente, desta vez por vergonha. Ela tem certeza de que está corando. Hope olha para ela com tanto, tanto carinho às vezes, que Josie... — Pedro deu o nome a essa.
Tanto Pedro quanto Josie deram o nome, na verdade, mas isso não é algo que Hope precise saber.
A esta altura, Hope já deu uma volta completa em torno da estufa. Ela termina bem ao lado de Josie e fica atrás dela, deslizando os braços em volta da cintura de Josie com pouca ou nenhuma hesitação.
Josie inala. Segura. Expira.
Seu hálito está quente, como fogo, mas não queima da mesma forma. É quentinho. É mais confortável do que perigoso, algo a que Josie não está muito acostumada. Sua chama geralmente é destrutiva. Ela geralmente é destrutiva. Por mais que todo mundo goste de rotular Lizzie como a 'irmã má', Josie não acha que esse título vai durar. Pelo menos, não quando Lizzie está melhorando e Josie está... ela só ...
Josie inala. Segura. Expira.
(E não é que Josie queira que as pessoas pensem em Lizzie como uma pessoa má, é que ela ainda não está acostumada a andar pelos corredores e ser vista como a vilã. É só que...)
— E este? — Hope sussurra. Deus. Quando ela chegou tão perto?
Agora, Hope tem sua atenção voltada para o vaso de plantas na frente de ambas. Não é bem uma planta. Só sujeira e um pequeno broto verde escuro.
— Não sei. Estou tentando não me apegar. — Ela explica, um pouco tímida. Tentando e falhando. É uma planta fofa, ok? Josie está passando por algumas coisas, mas é uma folha adorável que ainda consegue aquecer seu coração quase tanto quanto Hope se interessa por seus hobbies. — É muito cedo para ver se vai viver ou não.
Talvez Josie tente se interessar pelos hobbies de Hope. Pintura? Uivando para a lua?
— Eu acho que vai viver.
Ela balança a cabeça e odeia o fato de sentir necessidade de ser pessimista sobre esse pequeno detalhe. — É muito cedo para dizer.
Hope fica em silêncio por um minuto ou mais. Josie não tem pressa em voltar para a aula ou dizer a Hope para ir. Ela está perfeitamente satisfeita em ter Hope segurando-a. Já faz um tempo que alguém a abraçou, o que parece um pouco patético em sua cabeça, mas Josie não pode deixar de saborear a sensação de estar sendo cuidada.
A sensação mal dura.
É mais do que ela merece. Ela era horrível. Ela quase matou Hope, no mês passado.
Josie tenta se afastar, mas Hope apenas aperta seu aperto, talvez sentindo a culpa de Josie chegando. Hope vai tão longe a ponto de entrelaçar seus dedos, todos os escrúpulos anteriores sobre o afeto físico jogado pela janela.
Honestamente, Josie não sabe o que fazer com a gentileza. Ela é destrutiva. Ela não merece isso ou Hope.
Ela é destrutiva.
— Você não é. — Hope insiste com firmeza. Oh. Josie disse isso em voz alta?
Hope pega suas mãos unidas e os move para a panela, afundando seus dedos entrelaçados na terra fria. O solo é macio e se move com facilidade, nenhuma resistência os impede de colocar a planta sob seu broto. As mãos de Hope são quentes e firmes contra as dela, um contraste gritante com as raízes delicadas escovando suas palmas. Josie jura que sente algum tipo de batimento cardíaco, uma batida suave da vida por trás de tudo. Uma luz fraca e vermelha brilha familiarmente através da sujeira, e Hope sussurra um feitiço secreto e silencioso contra o ombro coberto de suéter de Josie até que o broto comece a crescer.
Lentamente, ele rasteja mais longe do solo e se enrola no ar. Está florescendo, colorido e vivo.
Sem aviso, os olhos de Josie se enchem de lágrimas, sua visão turva. Faz muito tempo que ela não se sente assim.
Seguro.
— Vá em frente e dê um nome. — Hope instrui, enrolando os dedos com mais força. — Acho que vai ficar tudo bem.
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Someone to Stay
FanfictionJosie gosta de plantas. Hope gosta dela. Essa é uma tradução, todos os direitos para: that_one_urchin No ao3