– Vamos ter um bebê.
Minha voz saiu muito mais baixa do que o pretendido e, todo o discurso que eu tinha preparado antes de ir em busca da minha mulher no banheiro, de repente, sumiu da ponta da minha língua e meu cérebro pareceu derreter em um misto de êxtase, ansiedade e felicidade sem fim.
– Eu não sei se vamos ter um bebê. - sua voz foi tão baixa quanto a minha mas não pude decifrar a emoção que ela estava guardando. Balancei a cabeça trazendo meus pensamentos de volta à realidade.
– Você acabou de dizer que vamos.
– Não, meu bem. Eu disse que há a possibilidade.
Um frio estranho se apossou do pé da minha barriga.
– Tá, tudo bem. E... o que a gente faz agora?
– Agora a gente espera o resultado sair.
Abrir minha boca foi involuntário. Camila e eu decidimos que não haveria surpresa alguma nesse momento. Pelo menos não em relação ao nosso primeiro filho. Ou ela estava muito chateada ou, não sei, não fez questão de me chamar.
– Você não me esperou. - meu peito se apertou em uma leve tristeza e culpa. Além disso acho que também havia frustração e zanga.
Tentei não demonstrar nada disso a ela mas, creio que falhei quando pronunciei cada palavra com dor.
Camila ofegou e se agarrou mais ao meu peito. Senti minha blusa receber suas lágrimas. E seu suspiro, na tentativa de conter o choro, passou a ser audível.
– Meu Deus, me perdoa. E-eu não consegui nem ao menos pensar. - meu coração se apertou em culpa. – Eu - a calei com meus lábios.
Não que eu não esteja mais chateado por ela não ter me chamado. Mas eu a entendo. Acho que, quando se desconfia de algo assim, momentos depois de uma discussão tão importante e boba ao mesmo tempo como a nossa. A única coisa que não se lembra é "poxa, vou chamar o meu marido".
Não a culpo, não mais. Ela abriu a porta pra que eu entrasse e isso já diz muita coisa. Ela precisava de mim.
Assim que abriu ela se lançou em meus braços e isso diz que ela, realmente me queria naquele momento, ela me queria ali com ela.
Beijei o topo de sua cabeça a envolvendo melhor em meus braços.
– Por favor, não se sinta culpada. Há quanto tempo você fez o teste?
– Fiz há menos de dois minutos. - sua voz soou baixa e trêmula pelo choro decente. – Estou com medo.
– Medo? - senti um desespero crescer de maneira muito acelerada dentro de mim.
– Tenho medo de - inspirou tomando coragem para me dizer seus sentimentos como se, caso ela pronunciasse as palavras, elas fossem se tornar reais. – Tenho medo de que dê negativo mais uma vez. Tenho medo de que eu não... tenho medo de não ser capaz de gerar. E se, - sua voz era cheia de dívida, confusão e temor. – e se nós tivermos mesmo problemas para gerar um bebê?
Meu coração deu um solavanco como quem diz "parabés, idiota!". A culpa da dívida foi toda minha e, infelizmente, nunca se pode descartar as possibilidades, mesmo que eu sinto que nós sejamos totalmente saudáveis e férteis, não sei se seria justo jurar a ela com todas as letras que nós não teremos problemas com isso.
– Não seria a primeira vez que da negativo.
– Mas será a primeira que dá positivo! - soei tão convincente e convicto de minhas palavras que ela estremeceu.
– E se - a interrompi.
– Não há espaços para "e se", meu amor. Nós somos férteis, saudáveis e Deus irá nos abençoar com um lindo anjinho. Eu sei que vai.
– Eu queria tanto não ser a própria a olhar. - sua fala soou mais como um pensamento do que como um pedido e ao contrário do que eu, normalmente, sentiria, seu comentário fez apenas com que a pequena fé existente dentro de mim aumentasse.
Eu preciso encarar meus medos, eu preciso encarar meus desafios. Eu estou pronto para a cirurgia.
É péssimo não poder olhar por ela um simples resultado. Depois de muitas pesquisas, nós descobrimos que há um único teste de farmácia feito com tecnologia para deficientes visuais e até precisamos por ele mas, incrivelmente, a maioria dos farmacêuticos nem se quer sabiam da novidade.
– Quer que eu chame Taylor, Sofia ou, não sei, talvez sua mãe?! - busque qualquer solução que trouxesse a ela mais conforto e segurança.
– Não, esse momento é nosso! - ela pareceu convicta. – Eu mesma vou olhar e, eu mesma vou te dar a resposta positiva que nós tanto queremos.
Ela se afastou de mim quase que com relutância e, a passos leves o suficiente para não serem captados por meus super ouvidos, se aproximou do teste posto em algum lugar desconhecido naquele banheiro.
Ouvi um grito ser preso. Não tenho certeza se foi coisa da minha cabeça ou se Camila realmente emitiu aquele som. Fiquei em alerta.
– Amor. - me chamou e a muito custo eu saí do lugar.
– Sim, querida.
Meu coração estava disparado, tomado por ansiedade e antecipação.
– Deu positivo. - sua voz já demonstrava todas os sentimentos guardados em seu peito. – Nós vamos ser pais, Shawn. Nós conseguimos!
Felicidade e alívio se misturaram em sua voz. Uma emoção incontrolável e linda pairava entre nós dois. Havia um pedacinho meu e dela crescendo bem diante de nós.
Diante dos olhos dela e das minhas mãos.
– Nós vamos ter um bebê. Em menos de nove meses teremos um bebê!
– Meu amor, você está pálido. Tem certeza de que está bem? - senti sua mão encostar em minha bochecha direita.
Voltei minha atenção para ela. Sorri. Acho que o sorriso mais sincero que eu já dei em toda a minha vida.
– Desculpa, eu... eu estou tão feliz que acho que esqueci de respirar. Meu Deus, minha vontade é de, não sei. Sair gritando por aí.
Eu queria mesmo era falar com meus pais e Aaliyah. As pessoas, depois de Camila e, agora, meu bebê, mais importantes da minha vida.
– Não! Não faça isso. Não saia gritando sobre nosso bebê por aí. - ela riu.
– Meu Deus, vamos ter um bebê!
– Você já disse isso, meu bem. - ela riu enquanto fungava.
– É só que, o que a gente faz agora? Conta pra família ou algo assim? Eu quero muito falar com meus pais.
– A gente tem que pensar em algo não é? Eu não sei, nunca estive grávida antes. O ideal seria compartilhar? Ou seria saber se está tudo bem primeiro?
O ideal eu não sei.
– O ideal é apenas viver cada parte desse momento, meu amor.
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Paixão às Cegas.
Fanfic- Eu nunca quis tanto ver alguém como quero ver você. Se ao menos tivesse te conhecido antes de tudo isso... - Não se preocupe, nós vamos dar um jeito nisso tudo! Dou a minha palavra.