CASO 1977

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O vidro do carro é abaixado e uma voz familiar diz:

- Aonde pensa que vai?

Era o senhor da biblioteca, que já havia notado que Edson era um tanto impulsivo e certamente voltaria para aquele local em busca de pistas.

- Imagino que já saiba. É claro que vou ao porto. Disse-me que poderia encontrar algo a respeito do sumiço de Júlia lá. - Responde Edson

- E também disse para voltarmos lá amanhã. Ou não prestou atenção nessa parte?

- Eu não conseguiria dormir esta noite sem respostas da minha mulher. Preciso encontrá-la.

- Rapaz, não estou aqui para impedí-lo. Vamos, entre logo no meu carro.

Edson fica um pouco pensativo, mas entra no carro.

- Afinal, por que o senhor está me ajudando? Não me deve absolutamente nada. Deveria estar em casa dormindo a essas horas.

- De certo eu não lhe devo nada. E poderia muito bem estar na minha cama, aconchegado. Mas tem uma coisa que deve saber.

- E o que seria?

- Essa coisa, isso que raptou a sua esposa.

- Como assim, coisa?

- Ela não é humana, meu jovem. É uma história antiga.

- Como uma lenda?

- Oh, não. Lendas são histórias fictícias. O que vou te contar agora é algo real, que aconteceu nesta cidade.

O senhor prossegue:

- O porto da cidade foi marcado por uma macabra história de ser um lugar onde ocorria a prática de tráfico de órgãos humanos.

- Tráfico de órgãos?

- Isso mesmo. Mas já deve fazer uns 50 anos que está interditado. Este feito ocorreu após a última noite último de sumiços registrados na cidade. Uma moça, que era esposa do delegado da cidade desapareceu, deixando para trás seu marido e filho, além de uma língua. O policial no mesmo instante que notou o fato ocorrido, mobilizou todos os militares em seu comando para rastreá-la.

- Ele conseguiu?

- Uma de suas equipes de busca foi em direção ao porto, e lá notou um barco sinistro atracado. Como era suspeito, decidiram ligar para seu comandante e avisá-lo.

- Ele imediatamente foi ao local, mas ao chegar nele os dois policiais haviam desaparecido também.

- Falhou em sua missão de recuperar sua mulher, e além disso perdeu dois homens. Ele estava arrasado. A última coisa que fez antes de cometer suicídio foi estabelecer que o porto seria interditado para sempre.

- Desde então, é bem verdade que os casos de desaparecimento nunca mais ocorreram. - Completou o senhor.

- Você disse algo sobre contrariar um homem da lei em nossa  primeira conversa na biblioteca. O que significa? - Pergunta Edson.

- O filho do casal, é o atual delegado da nossa cidade.

- Então é isso.

- Após o desaparecimento de sua mãe e a morte do seu pai, ele fora levado para fora da cidade para ser criado por sua tia. Quando já era maior de idade, voltou e resolveu virar policial, como seu pai.
Talvez para resolver o mistério.

- Podemos contar com a ajuda dele nesse caso, não acha?

- Ele mesmo disse para ficar longe deste caso. Acredito que é o melhor a fazer.

- Tudo bem, então vamos logo ao porto ver se achamos algo para ajudar a nossa busca.

- Certo, garoto. Entre no carro.

Edson entra no veículo e fica calado. Pensava na possibilidade de falar com o delegado e oferecer sua ajuda.

O carro parte em direção ao local.

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