A última cabeça rolou pelo chão úmido do vilarejo, agora devastado. Uma leve chuva regava as cabanas, algumas completamente em cinzas, rodeadas por fuligem, outras ainda em chamas fracas e crepitantes.
-Acabou? - Perguntou um jovem combatente, tremendo em adrenalina, com sua espada, banhada em sangue, em punhos.
-Sim, filho. - Odin respondeu com o tom mais suave que sua voz de trovão conseguiria soltar. - Vamos voltar para casa.
E cavalgando seu imponente cavalo de batalha começou seu rumo para longe do que um dia foi um vilarejo pacato e farto, seguido de perto pelos sobreviventes da árdua batalha.
-Pai-de-Todos. - Outro cavaleiro, mais experiente e atento, que vinha mais atrás, chamou atenção do Rei de Asgard. - O que é aquilo?
Inutilmente erguendo seu tapa olho, Odin forçou a visão para onde o súdito apontara, se surpreendendo com o que viu.
O que parecia uma criança ferida, envolta por penas negras de asas grandes demais para qualquer pássaro que já haviam visto, estava desacordada em meio às árvores, mas ainda com uma respiração forte de quem lutava por sua vida. Em volta de seu corpo uma aura amarelada formava uma espécie de névoa escondendo algo dentro da floresta.
Sem hesitação, dois dos cavaleiros desceram de seus respectivos cavalos e foram até a criança, sendo arremessados metros de distância quando tentaram encostá-la. Odin arregalou seus olhos ao ver a aura amarelada se dissolver aos poucos.
O que era aquela criança? Como sobrevivera a uma batalha tão cruel?
Lentamente, o Pai-de-Todos desceu de seu cavalo e caminhou pessoalmente até perto da criança. Ao contrário do que acontecera instantes antes, algo parecia chamar por ele, uma sensação estranhamente familiar lhe acolhia num abraço sufocante.
Com as pontas dos dedos, o rei retirou os fios de cabelo da frente do rosto da garotinha que parecia perdida em um sonho ruim. Com delicadeza pegou a pequena em seus braços e ordenou com sua voz imponente:
-De volta ao castelo!
xxx
Ao longe a garotinha ouvia uma discussão. Tudo parecia girar e ela não tinha forças para esboçar qualquer reação. Não tinha forças, sequer, para abrir os olhos.
Sua pouca idade não poderia fazê-la entender o que estava acontecendo com seu corpo, o porquê tudo doía daquela forma. Ela estava machucada, era tudo o que sabia. Não tinha ideia do porquê. Não sabia nem ao menos o seu nome.
-Não podemos fazer isso, Frigga! - Uma voz forte disse se aproximando.
-Não vejo impedimentos para isso. Não nos falta comida, não nos falta espaço, não nos falta nada. - Uma voz feminina, suave como a pétala de uma rosa, respondeu.
-Eu sinto algo ruim vindo desse ser, Frigga. Algo maligno.
-Ora, Odin! Não diga isso! Ela é apenas uma criança! - A mulher exaltou-se, sem perder o tom de voz suave. - Tem idade para ser um dos nossos filhos.
-Ela não é minha filha. Nunca será. - A voz masculina baixou, ainda parecendo imponente.
-Que não seja a tua, ou a minha, mas que tenha um lar. Que tenha comida para se sustentar, roupas para vestir. Que tenha um lugar para dormir e uma educação digna. Que tenha a infância que lhe foi roubada pela guerra. - A mulher argumentou firmemente.
Houve um silêncio, quase como um vazio frio no meio daquela conversa onde cada palavra não dita teve o espaço que precisava para ser digerida.
O homem soltou um suspiro pesado.
-Está bem. Que fique. Mas que saiba de onde veio e que nunca chegará perto ao trono.
A pequena ouviu passos pesados se afastarem e um calor acolhedor se aproximar.
-Não se preocupe. Você será amada da forma que deve. - A mulher de voz macia disse acariciando os cabelos da criança. - Minha pequena Thália.
_________________________________________
Depois de muito, muito, muito, MUITO tempo, estou de volta com o recomeço dessa história que eu tenho em mente há tantos anos. Eu espero que gostem do novo rumo que darei.
Até logo!
-Be
VOCÊ ESTÁ LENDO
Asgardian | Marvel (Reescrevendo)
Hayran Kurgu"Eu nunca fui uma heroína, Thor. Odin sempre esteve certo. Eu sou um monstro. Essa é a única denominação correta para a deusa da destruição"