O oni da pedra

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  O túnel é um pouco mais seco do que eu estava esperando. Normalmente construções feitas debaixo da terra costumam ser um pouco úmidas, mas, nesse caso, as paredes são feitas de rocha. Me pergunto o motivo do oni ter se dado tanto trabalho para construir esses túneis.

  Passo os dedos pela rocha. Por que meu coração está tão acelerado? Devo estar realmente nervosa para lutar contra esse demônio. Ele tem que ser bem habilidoso para conseguir construir tudo isso com tanta perfeição.

  Quer saber de uma coisa? Tanto faz. Eu não me importo com a força do meu oponente desde que consiga cortar a sua cabeça, isso é o mais importante.

  Respirando fundo umas três vezes, acho que consegui controlar minhas emoções por completo. Tenho que me concentrar na luta e fazer o meu melhor. Agora é tudo ou nada.

  Segurando o cabo da minha espada ainda embainhada e correndo descalça por aquele espaço, me pergunto o motivo de não estar sentindo nenhuma vibração vinda do oni. Se estou tão perto, deveria pelo menos sentir algo, certo? Não quero admitir, mas isso só está me deixando ainda mais nervosa.

  Aquilo ali na frente é uma luz? Acho que estou começando a conseguir ver o que está acontecendo lá dentro.

  Enquanto corria em direção ao centro, já sou capaz de ver tudo o que está acontecendo lá. Eu definitivamente não estava esperando por isso. Que tipo de atrocidade é essa?

  No meio daquele enorme porão, uma arena estava suspensa no ar e iluminada por tochas. O oni se encontra sentado em um trono igualmente feito de pedra e parecia estar se divertindo enquanto vários espinhos surgiam por toda a arena em uma sequência totalmente aleatória, fazendo dois humanos, um rapaz e uma moça, correrem por duas vidas, tentando desviar daqueles ataques.

  Se isso não bastasse, gaiolas como as de passarinho flutuavam bem próximas do teto, e várias pessoas eram mantidas presas como animais selvagens. Estão magros, pálidos e repletos de machucados, como quem não come nem dorme por dias a fio.

  Todo o meu nervosismo sumiu ao observar aquele circo dos horrores. Esse merdinha vai pagar. Eu juro para qualquer ser superior que estiver disposto a me ouvir, eu vou mandar esse demônio para o inferno.

  A distância entre o túnel e a arena era de uns oito metros. Salto sem muita dificuldade e aterrisso na ponta dos pés naquele lugar de pedra. Finalmente sou capaz de captar todas as vibrações do solo.

  Um sorrisinho involuntário surge no meu rosto. Sou capaz de sentir caso algum ataque vier por baixo, vai ser realmente fácil para eu desviar daqueles espinhos.

  Deixando isso de lado, como estou mais próximo do rapaz, avanço em sua direção e o agarro pela gola do que parecia ser o uniforme negro do esquadrão de extermínio e pulo para outro túnel.

  Estava prestes a voltar para resgatar aquela moça, mas o garoto segurou a manga do meu haori com força e não permitiu que voltasse para lá.

  Mas que porra? Você quer que ela morra?! Eu só estou tentando ajudar!

  Ele começa a falar, seu rosto parecia estar deformado em uma perpétua expressão assustada. Está sem ar enquanto grita, algumas lágrimas se formam no canto de seus olhos arregalados e suas mãos tremem muito.

  Se estivesse em uma situação um pouco menos urgente, provavelmente gastaria um pouco do meu tempo para confortá-lo, mas não me importei muito com isso neste momento. Se não fazer algo logo, aquela garota pode morrer.

  Mesmo não sendo capaz de ouvir o que ele havia dito, o empurro para longe em resposta, fazendo com que batesse as costas naquela parede de rocha com uma certa brutalidade. Aquele espadachim que nem espada tem não pode ficar me atrapalhando por mais tempo. Preciso voltar para a arena logo, e ele não pode me impedir. Se realmente faz parte da corporação, deve saber como lidar com seus próprios sentimentos em uma situação com essa.

Imagine - Kyojuro Rengoku [Em Hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora