Prólogo

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Se você for sensível, peço que não leia! Contém gatilhos!
Boa leitura!
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Eu não me lembro de quem são meus pais, não sei como fui criada mas eu sei que algo diferente reside em mim. Não sei se as pessoas não gostam de mim por culpa de minha aparência, porque realmente eu não sou normal como as outras garotas, não sigo um padrão de beleza imposto pela sociedade e infelizmente isso me faz ser infeliz. Talvez as cicatrizes pelo corpo e rosto sejam o motivo do afastamento das pessoas, mas eu me sinto bem com elas, me mostram o quão forte e guerreira eu fui e continuo sendo.

Tenho 20 anos e trabalho como prostituta, sim eu sei, surpreendente não? Mas por culpa de minha aparência não consegui emprego em lugar algum, eu preciso me alimentar, preciso pagar minhas dívidas de alguma forma e tendo o conhecimento de que meu corpo é bonito decidi seguir esse caminho.

Eu sempre culpei a Deus por esse motivo, porque ele permitia que homens abusassem de mim? Porque permitia que criassem cada vez mais cicatrizes físicas e emocionais em mim? Mas depois de um tempo, junto com a maturidade veio a noção de que não é culpa de algum ser divino, na verdade é culpa do homem que perdeu sua humanidade.

Como eu falei antes, não conheço meus pais, não sei como ou onde nasci mas minha primeira lembrança é eu deitada no campo de alguma escola qualquer, depois disso tentei seguir com a minha vida com o pouco que aprendia vendo a sociedade. Aos poucos percebi que sempre havia um ou dois homens me seguindo, eles eram estranhos mas eu a princípio deixei de lado, porém esse foi um erro fatal.

- O que uma maldição como você de nível especial está fazendo andando por aí como uma humana? - Perguntou um homem alto e carrancudo. Eu fiquei assustada, como assim maldição de nível especial? Afinal, o que é isso?

- Moço como assim? Eu sou uma humana não sei o que é isso de maldição de nível especial. - Digo com uma dúvida genuína.

- Mentirosa. - Julgou o outro homem mais baixo ao lado do carrancudo, ele estava apontando uma adaga estranha em minha direção.

- O-o que? Por favor não me machuca, eu não sei do que vocês estão falando. - Falei assustada e aos poucos fui dando alguns passos para trás, eles estavam me assustando, como ninguém podia ver aquilo que acontecia, tinha um homem literalmente querendo me matar!

- Maldições de cidade grande tem uma inteligência avançada não é mesmo? - Disse o homem sarcástico.

Vendo que não poderia tentar salvar minha pele apenas na base da conversa sai correndo, eu precisava me salvar. Correndo como nunca corri antes, cheguei perto de um estabelecimento. Eu estava esperançosa, eles iam me deixar em paz quando perceberem que vão ter pessoas olhando eu já consegui sentir um sorriso crescendo em meu rosto, olho para trás e vejo que eles ainda estavam me seguindo, entrei rápido na loja e fingi estar comprando.

Aos poucos meu horror e medo de morrer foram passando, bom... eles estavam, até voltarem no ápice.

O homem carrancudo me puxou pelo braço enquanto o mais baixo pegava a adaga e a colocava pressionada em meu pescoço, comecei a chorar de medo.

- Porque estão fazendo isso? Eu eu não fiz nada eu juro.

- Você é uma maldição, se não te exorcizarmos você irá piorar a taxa de mortalidade de Tokyo.

- Eu juro, não sei do que estão falando. - Falei já juntando as mãos, me humilhando e implorando por minha vida.

- Hm, certo. Mas não vamos embora sem aproveitar pelo menos um pouco. - Disse o mais baixo apertando a adaga e tirando um filete de sangue de meu pescoço antes de se afastar. - Leve ela para o beco.

Assim que o mais alto começou a me puxar pelo braço eu me virei desesperada para o caixa da loja, e infelizmente ele não estava prestando atenção, se ao menos ele virasse o rosto, se ao menos ele olhasse em minha direção tudo poderia ter sido diferente. Naquela noite eu entendi o porque dos homens serem um câncer na humanidade, naquela noite eu perdi uma parte de mim.

Amanheci dentro do beco toda cortada com ferimentos sangrando sem parar, e sem minhas roupas. Tentei levantar mas uma ardência forte se fez presente no meio de minhas pernas, eu precisava ser forte.

No final disso tudo descobri que eu era uma maldição de nível especial criada por culpa de emoções de tristeza e raiva emanadas de alunos da escola Spectral, escola essa que foi onde eu apareci pela primeira vez. Desde então eu fui caçada, carregando marcas de batalhas em minha pele como honra de aguentar até aqui. Eu queria entender, como eu poderia ser uma maldição mas ser tão humana ao ponto de ter compaixão por quem me machucou? Não queria ser assim, queria ao menos ser uma maldição vingativa. Mas enfim, aqui estou eu em mais um sessão, dando prazer para um homem qualquer e apenas pensando no dinheiro que vou ganhar. Ele estocava com força ao mesmo tempo que me prendia na cama, conseguia perceber que ele iria gozar pelo menos estava próximo do fim.

- Você foi a melhor que apareceu. - Disse o homem sorrindo e me dando 78.164 ¥ (iene - dinheiro japonês) sorri com a grande quantia em minhas mãos.

Assim que termino de trabalhar vou em direção a minha casa, ser prostituta a princípio não é muito bom ao olhar dos outros, mas por incrível que pareça me da uma boa grana. Chegando em casa vou tomar um banho para me livrar da energia deixada em meu corpo pelo homem, antes de entrar no box me olho no espelho.

Grandes olhos castanhos, cabelo grande castanho ondulado e um corpo cheio de curvas, se fosse apenas isso eu estaria feliz, mas ali estavam minhas cicatrizes. Eu tenho uma cicatriz em meu rosto, ela passa pela minha sobrancelha e olho e chega até o meio da bochecha, feita na vertical. Se eu não fosse uma maldição eu claramente estaria cega.

Com algumas pesquisas entendi que sou metade maldição e metade humana, por esse motivo não me entreguei ao meu lado animalesco totalmente. Sendo assim, mesmo me machucando eu vou possuir cicatrizes.

Entro dentro do box e sinto a água gelada cair diretamente em minha pele, um arrepio passa pelo meu corpo e automaticamente eu relaxo. Começo a pensar sobre os acontecimentos que ocorreram em minha vida desde o momento em que fui criada, eu precisava guardar a empatia e dó de tirar vidas no fundo do meu âmago, se eu ficasse apenas me defendendo uma hora ou outra eu irei morrer, 'tá na hora de revidar, sou guerreira e vou até o fim, ou eu não me chamo S/N.

Cursed - Toji FushiguroOnde histórias criam vida. Descubra agora