14 Cap: Apenas uma diversão.

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Taylor Pov

Apenas uma diversão, apenas uma diversão. Vivia repetindo a mim mesma. Era no que eu queria acreditar, mas minha mente se recusava pensar dessa forma. A voz de Sofia estava me acordando todos os dias, mas não era por que ela me ligava, era porque eu escutava aquela voz suave e decidida dentro da minha cabeça a todo o momento. Eu não devia ter acertado nada com ela, não devia nem ao menos tê-la chamado para a parada gay.“Qual é Taylor ? Não viva os últimos dias da sua vida como uma covarde. Você já fez isso durante seus vinte e dois anos” me repreendia a mim mesma. Mas a verdade era que eu estava sim com medo do que esse encontro significaria. E se a Dul se apaixonasse? O que eu faria? Não podia dar esperanças a ela, pois nem eu mesma tinha esperanças.

Duas semanas se passaram sem que eu me desse conta. Não havia contado para ninguém sobre a minha doença e não contaria. Nem mesmo minha família saberia por enquanto. Não precisava de ninguém me olhando com cara de piedade. Quando fosse a hora certa, diria a eles. Alguém precisava cuidar do enterro e não queria pegá-los de surpresa. Ok. Muito dramática, eu sei. Mas eu tenho consciência que não tenho um câncer de mama ou qualquer outro tipo que posso retirar e fazer quimio depois. O negocio era mais serio do que imaginava.

Selena  havia sumido da minha vida. Sentia saudades dela. Antes vivíamos ligadas uma na outra, mas tudo estava meio diferente. Ela ainda continuava no Paraná e pouco nos falávamos. A cada dois ou três dias ela me ligava e sua voz soava fria e distante. Imaginei se ela estava pressentindo o que viria a seguir ou se ela simplesmente encontrara outra garota. Sei lá. Não queria entender também. Talvez fosse melhor assim. Não queria magoá-la e quando ela retornasse de viagem terminaria o namoro. Pensar que há dois meses atrás não me imaginava nem por um segundo ficar sem ela. Que coisa que é a vida. Tudo pode mudar em um piscar de olhos. Não digo que meu amor por ela acabou, se dissesse isso estaria mentindo, mas não era mais a mesma coisa de antes. Não havia mais a paixão. Não havia a necessidade sufocante de estar ao seu lado e de dar bom dia toda manhã. A verdade é que não existia mais necessidade de nada em minha vida; eu estava entregando os pontos.

A semana da parada. Adoro o clima purpurinado que toma conta de São Paulo nesses dias e eu ia estar em todas as festas. Sofia me disse que chegaria no sábado. Bom, nesse meio tempo ela ia perder a feira GLBT no Anhangabaú, a passeata lésbica e outras atividades que aconteceria e euzinha estaria em todas.

- Oi Lê! – cumprimentei Leandro que ligava no celular – E ai vai lá pra Republica hoje?

- Ainda não sei Taylor ... Essa parada de ficar no meio de um monte de gays ainda me assusta. E se um deles chegar em mim?

- Para de ser chato. Se algum cara chegar em você, diga que é apenas um simpatizante e está ali para curtir. Não precisa beijar ninguém.

- Mesmo assim. Todas as mulheres que estiverem lá, só vai querer ficar com mulher. Eu vou ficar na mão.

- Cara não viaja. Tem muita mulher hetero, assim como homens heteros. Só porque o evento é gay não significa que só vai ter gay. Lembra da Malu? – falei tentando dissuadi-lo a ir – eu chamei e ela vai. Você não era louco pra ficar com ela? Sua chance?

- Ela não tá namorando?

- Que nada. Terminaram tem uma semana. Ela está tão triste e carente...

- Onde eu pego vocês?

- Vamos de trem e metro. É mais seguro e outra: você vai poder beber horrores amigo. Marca ai: dez horas no Brás. Me espera na catraca do metro.

Desliguei o telefone e liguei para Malu convidando-a. Não foi difícil dissuadi-la. A festa de abertura das comemorações foi ótima. De lá fui direto trabalhar e só passei em casa para trocar de roupa. Na sexta emendei mais um dia, mas não tinha forças para continuar na farra sem nem ao menos dormir um pouco.

- Malu! – gritei devido ao barulho – Eu preciso dormir gata. Vou procurar algum hotel pulgueiro por aqui.

- Para com isso. Ainda é uma da manhã.

- Eu sei, mas não sei se você se lembra, ontem saímos também. Como vocês dois conseguem ficar tão animados sem nem dormir?

- Quer ficar animada? – perguntou Leandro se postando ao meu lado.

- Quero e pra isso eu preciso dormir.- respondi sem entender o que diziam.

- Vem aqui Taylor .

Saímos do meio da muvuca e fomos em direção a lateral do Teatro Municipal. Leandro deu um beijo em Malu antes que ela tirasse um pacote com pó branco do bolso da calça jeans.

- Eu não acredito que vocês usam drogas! Vocês são loucos?

- Não é sempre. Só pra ficar na brisa. Curtindo a noite. – respondeu despejando um pouco encima da carteira de Leandro. Tem uma nota ai?

Tirei uma nota de dinheiro do bolso e entreguei a Leandro. Depois de fazer seis fileirinhas, enrolou um canudinho com ela. Deu um tiro, passando para Malu que fez o mesmo. Olhava aquilo abismada. Leandro eu já desconfiava que usava alguma porcaria, apesar de nunca ter visto antes, mas Malu?

- Porque vocês fazem isso? Que coisa estúpida! Vocês tem uma vida inteira pela frente. Pra que desperdiçar com isso?

- Taylor  relaxa gata! Eu não uso direto e a Malu tá usando hoje. Para de ser careta. Você também tem uma vida inteira pela frente e nada vai mudar se você ficar doidona hoje, vai?

Eu não tenho uma vida inteira pela frente. Tive vontade de responder. Não sabia quanto tempo eu ainda tinha de vida, mas não era tempo o suficiente para tudo o que eu queria fazer... Taí... Eu não tinha tempo de me arrepender e queria curtir. Nunca havia usado drogas na minha vida e achava uma tremenda besteira quem fazia, mas eu poderia provar. Não queria morrer sem provar tudo da vida. Mandei o bom senso a merda e peguei o canudinho da mão de Malu. Foi a pior besteira que fiz naquela noite: Meu nariz ficou todo anestesiado e coçando a todo o momento, fiquei espirrando que nem uma vaca com a coriza escorrendo e não senti a tal brisa que me falaram. Agora eu já sabia porque não gostava daquela porcaria.

O sábado amanheceu com chuva. Não era uma boa premissa. Liguei para Selena , mas ela não me atendeu. Um primo dela me ligou depois e disse que ela tinha ido para o hospital pois o tio talvez não passasse daquela noite. Por que ela não levara o celular? Bom isso não era importante. Sofia chegaria naquela tarde. Fui no cabeleireiro domar os cachinhos e fazer as unhas. Queria que ela me desejasse ao extremo e para isso precisava me sentir linda.

Cheguei no aeroporto quinze minutos antes do pouso do avião vindo do Rio de Janeiro. Tomei um café forte para aplacar a vontade de fumar. Não queria que o primeiro cheiro que Sofia sentisse fosse nicotina. Fui para a área de desembarque assim que o pouso foi anunciado. Olhei ansiosa para as pessoas que desembarcava e, entre as ultimas pessoas a sair, ela apareceu. Deus! Que mulher linda! É... Deus era um grande brincalhão; Como colocar uma mulher daquela no meu caminho por apenas poucos dias? Eu não podia me apaixonar. Eu não podia me apaixonar. Repeti sem parar ao vê-la se encaminhando pra mim. Um olhar sedutor, um corpo lindo, cabelos esvoaçante e um sorriso que me fez esquecer como era o ato de respirar.

- Oi... – falei engolindo em seco.

- Taylor ... Prazer em conhecê-la. – falou me dando dois beijinhos no rosto.

- Prazer... – A verdade é que eu não sabia o que dizer. Fiquei realmente sem palavras. Virei a cabeça e contemplei o céu através de uma vidraça. “Obrigada Deus... Valeu mesmo pelo presente de despedida”.



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Eu estava distraída quando ouvi a porta do meu quarto bater, me virei de frente para ela, era lauren  que me olhava com a cara fechada de reprovação. Indiferente, continuei arrumando minha mochila de viagem. - Não acredito que você vai mesmo continuar com essa sacanagem – disse ela. - Sacanagem é o que vamos fazer...

ՏOTᗩY ✓   Kɴᴏᴡɴ SᴛʀᴀɴɢᴇʀsOnde histórias criam vida. Descubra agora