Capítulo Único

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Fleur não tinha um sono pesado, mas naquela manhã foi muito difícil acordar.

Não era todo dia que você via uma pessoa morta. Apesar de saber dos riscos do Torneio Tribruxo, de saber que campeões morreram por anos por causa daquela competição, não imaginava que aconteceria outra vez. O Ministério tinha garantido que estava tudo sob controle, que as tarefas seriam menos perigosas que nas outras vezes — apesar de que dragões não poderiam ser considerados criaturas inofensivas.

Mas acima de tudo: a morte de Cedric Diggory não tinha sido justa. Ele não morreu por causa do Torneio, ele foi assassinado por Voldemort. Uma armadilha que transformou a Taça Tribruxo em uma chave de portal.

É claro, ela só soube disso horas mais tarde, quando encontraram o seu corpo no labirinto. Não sabia o que tinha acontecido. Em um momento, a tarefa ia bem e, de repente, ela apagou. Não imaginava alguém que poderia ser covarde o suficiente para atingi-la pelas costas, mas Dumbledore ainda não tinha dado explicações sobre o que tinha acontecido, ele provavelmente esperaria a poeira abaixar, ela só escutava o que Gabrielle e as suas colegas de Beauxbatons tinham lhe contado.

Ela devia ter percebido que alguma coisa estava errada quando saíram da enorme carruagem para tomarem café da manhã, como fizeram nos últimos meses, mas como estava sem vontade de conversar, só percebeu quando chegaram no Salão Principal.

O clima não estava ruim, parecia um dia normal em Hogwarts.

E Cedric estava na mesa da sua casa, em volta de seus amigos, que conversavam animadamente sobre a tarefa que aconteceria durante a noite.

Ela paralisou perto da mesa da Ravenclaw, que era onde estiveram sentando-se desde outubro, perguntando-se se a sua mente estava pregando-lhe peças.

— Madame Maxime pediu para avisar que é para ir para a câmara vizinha depois do café — Gabrielle foi em sua direção e então hesitou ao ver a sua expressão, que com certeza devia estar pálida — Está tudo bem?

Oui — respondeu quase automaticamente.

Estava sonhando? Por que estava revivendo o dia anterior?

Foi até onde suas colegas se alimentavam e obrigou a si mesma a comer. Levou a sua mão direita para o seu braço esquerdo e deu um beliscão, apenas para garantir a si mesma que não era um sonho. Então olhou para suas mãos, tentando se concentrar em seus dedos, mas não teve dificuldade alguma. Eram cinco, como sempre foram.

Então não estava sonhando.

Era mesmo 24 de junho de 1995.

— Não precisa ficar nervosa, vai se sair bem — Josephine, uma de suas colegas, tentou animá-la.

— Deveria comer alguma coisa, vai precisar de energia — pôde sentir o não dito "para recuperar o atraso no placar" venenoso vindo de Mirella, mas não conseguiu se importar com isso.

Agora que tinha posto algo de comida e suco no estômago, e que os vestígios de sono desapareciam, conseguia raciocinar melhor. Devia saber que algum dia isso aconteceria, acontecia com todos, só não esperava que fosse tão cedo.

Em algum momento daquele dia devia ter esbarrado com a sua alma gêmea, por isso estava presa em um looping temporal. Só conseguiria sair dele depois que descobrisse quem era. Tinha que ser algum visitante. Passou meses no castelo, era impossível que tivesse se desencontrado de algum aluno por tanto tempo.

Desviou o olhar mais uma vez, observando Cedric trocar algumas palavras com a garota que tinha levado para o Baile de Yule.

Não ia conseguir se concentrar em procurar a sua alma gêmea sabendo que alguém ia morrer dentro de algumas horas e que ela podia evitar isso.

The Day We MetOnde histórias criam vida. Descubra agora