Capítulo 10 - Parte Cinco - B

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Ele partiu determinado em direção à floresta, deixando a escola e o os típicos estudantes barulhentos e ansiosos em uma tarde de Sexta­-Feira para trás. Ele podia ouvir música, em algum lugar sob o distante barulho do estacionamento e um esquilo raivoso chiando perto dele. Talvez a banda estivesse começando a ensaiar, ou talvez fosse só o rádio de algum carro. Ele parou no limite da floresta, encarando o esquilo ameaçador, tentando obrigar­-se à dar o próximo passo.

"Apenas se mexa", ele murmurou para si mesmo, agitado e aterrorizado e ansioso. O esquilo parecia concordar, ficando cada vez mais estridente, até Gerard finalmente levantar suas palmas em forma de rendição. "Você venceu", ele disse, inspirando profundamente. E então ele seguiu a trilha. O bosque vazio, por agora, e não levou muito tempo para Gerard chegar no que ele imaginou ser sua parede. Sua e de Frank. Aquela parede de pedra aos pedaços onde Frank geralmente aparecia. Tinha a perfeita altura para se recostar sobre ela e tinha rochas desgastadas por décadas de chuva. Gerard tirou um momento para si, para fechar os olhos e respirar e tentar formar um semblante calmo.

"Ei, ei!"

Os olhos de Gerard se abriram imediatamente e ele soltou um gritinho em alarme. Frank estava parado bem à sua frente, segurando uma case de violão e seu sorriso alegre mudou rapidamente para um sorriso transtornado quando ele notou o olhar de Gerard.

"Hey, o que aconteceu?" ele perguntou, deixando o violão encostado delicadamente contra a parede ao lado de Gerard. Ele bateu seus ombros juntos, confuso mas ainda animado. "Está tudo bem?"

Gerard se sacudiu. Frank, totalmente sólido, totalmente gostoso. Totalmente normal. Não tinha como... "Não, quer dizer, sim", ele disse, oferecendo um sorriso em retorno ao seu. "Está tudo legal. Porém, a escola é uma merda."

Frank assentiu. "Escolas são sempre uma merda, parceiro", ele considerou e ergueu seu punho para que Gerard tocasse com o seu próprio. Gerard olhou para Frank, que definitivamente tinha que estar de brincadeira com aquela coisa do gesto brodástico, mas Frank apenas balançou as sobrancelhas e esperou. Gerard suspirou desconfortável e bateu seu punho contra o de Frank. Foi um breve momento de contato. Teria sido fácil confundir a gélida pele de Frank como uma má circulação, ou hipotermia, ou alguma coisa.

Alguma coisa tipo estar morto, Gerard pensou. Talvez ele esteja. Talvez ele esteja morto. Ele se recostou em Frank, que parecia confuso mas satisfeito com o contato, recostando-­se de volta sobre Gerard e sorrindo. Antes que ele pudesse pensar muito sobre isso, Gerard esticou uma mão às cegas e envolveu seus dedos ao redor do braço de Frank, bem embaixo de seu cotovelo.

Frank tentou livrar seu braço imediatamente, mas Gerard tinha congelado, a respiração presa em sua garganta.

"Gee— o que? Qual é, cara, o que você tá fazendo?" Frank disse com uma risada frágil. "Me solta."

Em Belleville, Gabe tinha uma cobra de estimação, uma rabo­-vermelha Colombiana chamada Beatrice, e algumas vezes eles todos ficavam vidrados na TV, assistindo os antigos filmes de kung­fu na sala de Gabe. A cobra deslizando pelo sofá e se esfregando sobre os ombros de Gerard, escorregando por seu braço. Aquilo era como Frank parecia, como Beatrice, sangue-­frio e esticadiço sob a palma de Gerard. Não gelado, não congelante. Mas— Gerard observou a si mesmo deslizar o polegar sobre a tatuagem de uma santa. Fria. Como uma forma entalhada em pedra.

Frank soltou um estranho e estrangulado ruído e fez uma careta adorável. Gerard o encarou, estranhamente ciente do quão rápido seu coração estava batendo em seu próprio peito. Aquilo não podia ser— mas—

"Okay, sério", Frank guinchou, puxando seus braços contra seu peito e encolhendo­-se contra si mesmo. "Que porra tá acontecendo, Gerard?"

Okay. Provavelmente tinha algum jeito súbito e diplomático de abordar o assunto.

Anatomy of a Fall (portuguese version)Onde histórias criam vida. Descubra agora