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O sono de Luna veio enquanto ela comia a sopa de legumes.

Depois de tomar água eu pus ela no meu colo e fui dando batidas leves nas costas dela pra que minha filha pudesse arrotar.

Durante esse tempo, ela deitou a cabeça no meu ombro e dormiu.

Admirei meu bebê, depois de deitá-la em seu berço por um tempinho e depois fui jantar.

O dia foi corrido, frustrante e estressante. Sequer tive tempo de me alimentar direito.

A falta de bolsas de sangue no hospital – mais um dos inúmeros problemas que a Pandemia trouxe... talvez o pior – me fez correr em círculos  o dia inteiro.

Mas no final tudo deu certo.

Ou quase tudo...

A sensação de ter perdido algo importante estava em mim como se morasse dentro da minha pele.

E sempre me levava a pensar nela.

Mas eu logo descartava a possibilidade. Afinal eu não podia ser tão egoísta. Eu não sou egoísta. Ela pode namorar quem quiser e podemos ser amigos.

Não nego ter sentido algo ruim dentro de mim ao ver ela dançando com ele no saguão, mal me reconheci enquanto identifiquei a inveja crescendo.

Imaginei ele sentado no meu lugar me vendo dançar com ela.

Demorei a pegar no sono aquela noite e o mesmo motivo que quase me causou insônia estava ali, presente no meu sonho.

Helen Sharpe sentada num canto encarando o salão vazio como se esperasse por alguém.

Não estava de jaleco e nem com suas roupas, do dia a dia.

Estava com aquele vestido verde que me deixou totalmente sem palavras quando a vi com ele.

Ela fixou os olhos em mim e sorriu.

Eu pensei que deveria dar meia volta. Óbvio que não era por mim que ela esperava.

Mas  parecia que meu corpo não obedecia mais a razão, e sim a vontade de me aproximar dela.

Quando vi já estava perto demais. A ponto ver o sorriso puro e caloroso que ela me dava, que me impedia de pensar em recuar.

Sorri em retribuição e então ela reclamou:

– Até que enfim!

Franzi o cenho e a encarei confuso.

– Não vai me chamar pra dançar? – Ela perguntou se levantando.

Senti meu coração acelerar de pronto e tremi enquanto respondia:

– C-claro!

Tocamos nossas mãos e de repente todo o saguão tomou-se da luz de uma cor mais quente e se encheu de uma música clássica suave.

Me sentia extremamente inseguro sabendo que agora com a cabeça em meu peito ela poderia ouvir as batidas do meu coração. Estava explodindo de tanto nervoso.

Ela tirou a cabeça do meu peito e eu não senti alívio, nem de longe. Senti o vazio dela ali.

– Era pra ser você, Max.

– O quê?

Seus olhos castanhos me olhavam desapontados e isso doeu demais em mim.

– Era pra ser você. Comigo.

– Eu devia ter chamado você para dançar?

– Você é complicado. Por isso eu desisti de você.

Balancei a cabeça negativamente, abri a boca para me defender mas eu sequer sabia por onde começar porque simplesmente não entendia nada. De que ela estava falando?

– Tudo bem, esquece – Respondeu me olhando daquela distância curta e tentadora – Eu não vou cobrar  mais nada a você. Muito menos aqui.

 

– Aqui onde?

Ela apenas sorriu, e voltou a deitar a cabeça em meu peito.

Ficamos dançando em silêncio por um tempo.

– Você está feliz com ele? – Não resisti em perguntar.

– Esqueça isso Max.

– Por quê?

Minha voz saiu mais exaltado do que eu gostaria. Me deixava desesperado admitir para mim mesmo, mas o ciúme estava me matando.

– Porque só nós dois estamos aqui – Helen respondeu e levantou olhar para mim – Isso não é sobre mais ninguém, além de nós dois.

Tinha o mesmo olhar de expectativa do dia em que me contou porque despediu a doutora Castro.

Eu evitei, por mais que eu sentisse até nos meus ossos o que eu tinha que ter feito.

Minhas dúvidas frearam minhas vontades uma vez. Mas não iria se repetir.

Curvei um pouco e tentei manter a calma,  não queria que nenhuma onda se ansiedade atrapalhasse o momento.

Senti a maciez da boca dela na minha e o sabor doce dos seus lábios me fez sorrir. Com a testa encostada na dela notei o seu sorriso e seu olhar de expectativa.

Era tudo o que eu precisava, uma confirmação silenciosa para fazer o que eu queria.

Cheio de sede, fui em busca de um beijo mais profundo.

Mas antes que pudesse cumprir minha expectativa. Fui tirado do meu sonho pelo despertador.

Abri os olhos imóvel e frustrado. Encarando a realidade em que ela jamais aceitaria um beijo meu.

 




Ninguém, Além De Nós DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora