Haru
Eu não consigo mais sonhar. Eu durmo e sou engolido por uma escuridão sufocante. Acordo sem ar e sem saber onde estou. As memórias vêm aos poucos.
Um cheiro bom invade o meu quarto. O cheiro de panquecas que só a minha mãe sabe fazer.
— Bom dia. – Ela me diz com uma alegria invejável.
Ela que sofreu tanto sem minha presença. Foi forçada a trabalhar em uma fábrica em troca de moradia, entrou para uma organização terrorista com expectativas de mudanças e viu o meu irmão morrer por essas mudanças. O tempo foi cruel com ela, porem ela continua linda aos meus olhos.
— Mãe. – Eu a cumprimento com um singelo olhar, mesmo assim ela me abraça e eu posso ver lágrimas em seus olhos.
Uma visão constante que eu tenho desde que nos encontramos.
Foi difícil localizá-la. Eles haviam mudado de nome por segurança. Minha única família estava refém de uma fábrica. Quando ela me viu, ela desmaiou e quando acordou chorou muito. Eu também fiquei abalado pela situação dela, mas quando eu soube da morte do meu irmão eu quase desabei.
Eu não derramei uma única lágrima. Eu acho que perdi essa capacidade. Na verdade eu perdi várias capacidades.
O mundo está diferente. Eu fiquei congelado por quase 15 anos, e quando eu despertei Republic City estava entrando em guerra com a União do Fogo. O conselho estava tão corrupto quanto antes, e a desigualdade social era mais palpável. E tínhamos um novo Avatar.
Acho que isso foi o que mais me chocou. Mira é o nome da garota. A primeira pessoa que eu vi ao despertar. Ouvi dizer que ela podia dobrar o ar e a água. Vi gravações dela salvando pessoas nos festival, e vi uma gravação de um teste escolar em que ela derrotava uma professora com a dobra de água.
Isso seria suficiente para convencer qualquer pessoa da minha época, foi assim que me descobriram, mas agora, eles queriam provas, dobrar dois elementos não é mais o suficiente comigo aqui.
Se eu acredito que ela é o Avatar? Não, só pode haver um avatar, a menos que e Vaatu esteja envolvido. Pensei nessa possibilidade por alguns dias, mas não fazia tanto sentido. Tirei esse pensamento da cabeça.
Hoje eu me encontrarei com o presidente de Republic City e tentarei fazê-lo renunciar. O governo dele já dura tempo demais, e se assemelha muito a uma ditadura.
Depois de comer me despeço da minha mãe. Ela não quer se separar de mim. Me abraça com força, mas sou forçado a me desvincular dela.
— Prometo que volto. – Eu falo a ela.
Mesmo com os seus olhos marejados sou forçado a deixá-la.
Estamos morando em um lugar improvisado. Em um Hotel das indústrias Varrick. Um amigo antigo de longa data me ofereceu ajuda. Apesar das nossas personalidades não combinarem nós sempre chegamos a algum acordo.
— Venon! – Eu o cumprimento
— Aonde vamos hoje? – Ele me diz animado.
Ele envelheceu, aliás, todos envelheceram, mas ver aquele garotinho que me seguia para todos os lados falando que faz parte do time Avatar se transformar em um homem de negócios como toda a sua família, me fez ver o tempo que eu perdi.
— Eu vou. Você deve ter as suas próprias responsabilidades.
— Não, eu limpei a minha agenda hoje.
— Venon. Eu não posso te levar. Eu tenho uma reunião com o presidente hoje.
Seus olhos antes animados se baixaram em decepção.
Antes de me congelarem os Varricks ficavam em oposição ao governo, mas agora eles apoiam menos Venon, ele culpava o governo pela minha suposta morte, tanto que ele era um dos investidores da UCG.
— Certo, mas, nos encontramos depois?
— Sim! – Eu confirmo para ele.
Antes de ir para o palácio presidencial eu passo em um dos departamentos do governo regido pelo conselho, a central de apoio aos dobradores, estou montando uma equipe para me ajudar na reestruturação de Republic City.
— Senhor. – Um dos coordenadores me cumprimenta.
— Essas crianças foram as últimas que passaram na prova.
Ele me apresenta uma fila com cinco jovens entre 14 e 18 anos. Dois deles são garotos bem apessoados, maiores que eu. Há três garotas. Uma delas, a menor de todas, parece um pouco chocada em me ver.
— Algum problema? – Eu me dirijo a ela.
Ela possui cabelos curtos e claros.
— Nada. É que só estou um pouco impressionada. – ela falou um pouco contida.
— Qual o seu nome?
— Meu nome é Hina.
O nome dela me fez lembrar. Eu havia pedido pessoalmente que recrutassem uma jovem chamada Hina. Ela é próxima a Mira. Amigas, alguma coisa assim.
— Você é a irmã do Sina não é?
— Sim!
Sina é o responsável pela Mira no departamento. Ele é diferente de todos aqui, ele não parece que gosta muito de mim e sempre tenta me colocar em uma saia justa com perguntas desnecessárias, se ele não fosse tão influente eu já teria me livrado dele no inicio, mas com a irmã dele aqui, eu sinto que poderei colocá-lo nas rédeas.
— Bem, seja bem vinda! – Eu digo com o meu melhor sorriso.
Sinto uma tontura de repente. Elas estão ficando constantes. Aparo-me em uma mesa. Vejo o olhar de preocupação de todos em volta.
— Preciso descansar. – Digo subitamente.
Me afasto e entro em uma sala disponível para mim. Sento-me em uma cadeira e fecho os olhos.
Concentro-me faço tudo o que e fazia antes, mas ela não vem. Korra não me atende mais, aliás, nenhum outro avatar.
O gosto de sangue invade a minha boca, percebo que meu nariz está sangrando. Limpo com uma caixa de lenços que estava em uma das gavetas. Sinto-me fraco. Minha mente fica confusa! Eu preciso vê-la. Tudo fica melhor quando eu vejo essa pessoa. Eu preciso ver a Mira.
No primeiro dia que nos afastamos eu me senti assim. Tudo parecia confuso até eu ter o meu segundo contato com ela. Eu ajudei o pai dela, e quando eu a vi, minha energia voltou com tudo. Eu estava bem de novo, eu podia pensar com clareza, mas mesmo com todos esses benefícios que a presença dela me proporcionava eu senti raiva dela, inveja algum sentimento ruim .
Por isso eu tinha que vê-la escondido, eu não queria que ela soubesse o efeito que ela tinha sobre mim. Mesmo que eu ficasse uma tarde inteira esperando qualquer vislumbre da janela do seu quarto. E era isso que eu precisava agora.
Mesmo que isso vá contra tudo o que eu estava idealizando. Ela pode não ser o Avatar, mas faz parte de tudo isso.
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Avatar - A lenda de Mira ( Repostando)
AventuraO mundo não é mais o mesmo. O número de dobradores está caindo a cada geração. O mundo está em paz. A tecnologia evoluiu muito e os dobradores não são mais necessários. Mas quanto mais raros eles ficam, mais poderosos e influentes eles são. O últi...