Livro 3 -Terra : Capítulo 12 - Tempos de transição

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Haru -

O sangue dele ainda está em minhas mãos. Eu apenas espero a culpa me preencher, me rasgar por dentro, mas ela não vem.

Antes de tudo, antes de toda essa confusão, antes de toda essa raiva, eu estava disposto a conversar, a chegar a um acordo pacificamente, mas as pessoas que estão no poder não estão dispostas a isto.

No inicio do dia eu tinha uma reunião marcada com ele, tudo estava planejado na minha cabeça, eu iria exigir que ele renunciasse, que fossem convocadas novas eleições para que a roda da democracia começasse a girar novamente. Eu realmente tinha boas intenções.

O que será que acontecerá agora? Nem eu mesmo sei. A dúvida é a única coisa em minha mente. Porém eu não me arrependo de ter feito o que eu fiz. Assim agora eu tenho que tomar uma decisão. Eu sei que posso parecer mesquinho, egocêntrico, mas a única maneira do mundo voltar a ser o que era é ter um Avatar no poder. Minha mãe ainda me diz que aquela era uma boa época, o tempo de sua mãe e avó, onde mesmo morando distante de Republic City, as influências do Avatar Aang rompiam fronteiras e tornavam as coisas melhores, mais justas.

Eu quero ser essa justiça, eu quero tornar a coisas justas, porém sei que o caminho não vai ser fácil.

Me sento na cadeira dele, perto do seu corpo sem vida. A essa altura as pessoas já sabem, seus assessores, sua família, acho que com toda essa tecnologia em volta, o mundo inteiro já sabe.

Eu não estou sozinho nessa, tenho pessoas que me apoiam, seja no meio de toda a população, e no meio dos dobradores que eu recrutei. Apesar de jovens, ele tem muita certeza do que querem. E é nisso que vou me apoiar.

Zurigi Weing, ele era presidente antes, e até poucos minutos ainda era. Eu me lembrava dele, da sua campanha popular, eu havia acabado de chegar nessas terras, e ele veio me visitar, tirei fotos com ele para a sua campanha, o ajudei a se eleger, mas eu não tinha escolha, eu era apenas uma criança guiada pelo conselho. Fiquei surpreso dele ainda estar no poder depois que eu voltei, já haviam se passado quase 22 anos e ele ainda estava aqui, mandando e desmandando, dando privilégios aos ricos e tirando o que podia dos pobres.

E ai está a ironia de tudo isso, eu o ajudei a colocá-lo na presidência antes e nada mais justo do que eu o tirar. Seguro um riso, em razão do pouco respeito que eu ainda tenho por ele.

Ouço batidas na porta. E peço que entre.

— Senhor, eles já estão prontos. – Kiwe, uma das recrutadas me diz.

— Ótimo. – Me levanto e espero um grupo de pessoas entrare na sala para retirar o corpo de Zurigi. – Entregue a sua família, eles saberão o que fazer. – Digo no fim.

Olho pelas grandes janelas, o caos se instaura lá fora. Mas, não devo me preocupar, nesses últimos dias eu conquistei o único aliado que faria isso ser possível. O líder da força nacional.

Ele entra na sala em passos firmes, faz um reverencia formal e olha diretamente para mim. Talvez a pessoa mais ambiciosa que eu já havia conhecido.

— Tudo está feito. Todas as três forças estão com você.

General Tzar, não foi tão difícil convencê-lo, acho que desde o inicio ele espera alguma coisa assim.

— Perfeito. Quero três coisas. Um toque de recolher para daqui a três horas, enquanto isso , prenda para mim todos os lideres de distritos e qualquer opositor e por ultimo quero todos os dobradores de Republic City aqui comigo, quero conversar pessoalmente com eles.

— Como quiser, senhor. --

Falei com três assistentes. Eu iria fazer um pronunciamento para explicar ao povo de Republic City o que havia acontecido. Assim eu poderia acalmar os ânimos.

A tecnologia evoluiu muito desde a minha ultima vez aqui. Satélites, internet, tudo que possa me conectar com todo o mundo em poucos minutos. Minha farda está pronta com medalhas que representam os 4 povos originais, os quatro elementos.

ME posiciono na frente da câmera, meus assessores estão prontos, meu discurso bem ensaiado. A luz acende.

— Caros cidadãos de Republic City. E com grande pesar que anuncio a morte do presidente anterior, Zurigi Weing.

Faço um minuto de silêncio e recomeço a falar.

— Apesar das minhas propostas o falecido presidente Zurigi, não se deu o trabalho de analisá-las, assim ele ordenou a minha prisão, e a de todos os meu aliados. Ouve um conflito e pessoas dos dois lados perderam a sua vida.

O general Tzar se aproxima do meu lado.

— Junto com o General Tzar, líder da força nacional iremos fazer uma Republic City melhor, para todos, não somente para os privilegiados. Conto com o apoio de todos você para esses tempos de transição.

Um dos meus assessores acena. A gravação terminou, espero que as pessoas compreendam.

— Senhor, o toque de recolher já foi expedido. – Tzar diz para mim.

— ótimo, quero rondas em todos os bairros, até nos distritos particulares, ninguém deverá sair de casa até o nascer do sol.

— A polícia já está ciente.

— Falando em policia, como foi a prisão do comissário Beifong?

— Calma, ele não resistiu.

— Bom. - Apesar de desejar que ele tivesse resistido.

— E o novo comissário.

— Ele já foi instruído senhor.

— Ótimo. Bom trabalho Tzar.

O homem era uma muralha, nada o abalava, eu não conseguia ler nada em seu rosto, porém seu grau de eficiência era notável.

— E o dobradores?

— Bem, conseguimos capturar alguns, outros, atacaram e se esconderam.

Isso me deixou preocupado.

— E a lista dos escondidos?

— Falsa. Aqueles nomes não existem, não correspondem àquelas pessoas.

Eu tinha pleno conhecimento da existência de dobradores não credenciados, e a lista de suspeitas do governo se mostrou inútil.

— Bem, vamos ver os que vieram.

No palácio presidencial havia uma prisão. Eu realmente tinha suspeitas da sua utilidade, porém ela se mostrou necessária quando eu vi aquelas pessoas.

Eu já havia as vistos, na escola de combate. Grande parte dos alunos que me vaiaram e me humilharam naquele dia na arena.

— E cadê a Mira?

— Quem? --Tzar perguntou.

—A dobradora de água, ar, tanto faz.

— Senhor, eu disse que alguns conseguiram escapar.

E foi nessa hora que aquele sentimento me atingiu. Eu olhei para Tzar e prendi todo o ar de seus pulmões. Seu rosto mudou de cor, de branco para roxo em questão de segundos. Quando ele caiu de joelhos eu o soltei.

— Traga a garota. Tudo isso é por causa dela.

Uma risada no fundo das celas era familiar.

— Bem, parece que o seu plano não é lá grandes coisas.

O garoto foi se aproximando das grades e com o fogo azul em suas mãos, derretendo as barras.

— Tem certeza que você quer prender duas dúzias de dobradores juntos em uma prisão de papel? 

Avatar - A lenda de Mira ( Repostando)Onde histórias criam vida. Descubra agora