Livro 4 -Fogo : Capítulo 4 -Sociedade de errantes

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Suni

Ela ainda repousava no meu colo, com um semblante sereno. Mira não tinha ideia do que estávamos fazendo e nem para onde estávamos indo. Ela só perceberia quando acordasse.

Os meninos subiram para o deque do barco. Eles estavam curiosos, e eu também estava. Tudo o que nós sabíamos sobre a União do fogo, estava restrito a imagens antigas e vídeos borrados. Eu não conseguia imaginar como aquele lugar seria.

Meelo desceu logo depois.

—Deixe que eu cuido dela, a partir de agora.

Ele se sentia culpado, porém parecia um pouco mais leve que antes.

— Não se preocupe. Eu estou bem.

E eu estava? Sim. Apesar de tudo, eu estava tranquila. Antes de virmos. Eu havia conversado com Suki, e assim. Meu pai, minha mãe e ela. Já estavam bem longe daquele lugar. Agora eu podia concentrar todas as minhas preocupações na minha situação. E quanto a isso. Eu ia vivendo e enfrentando tudo no meu tempo.

O barco finalmente havia atracado, e a próxima fase da nossa jornada estava prestes a começar.Sina, pegou a Mira no colo e jogou um lençol escuro em cima dela.

A primeira coisa que eu vi foi o céu. O sol encoberto por nuvens cinzas e pesadas. Quando eu olhei para a cidade, eu vi o porto idêntico ao da cidade da fuligem, com algumas diferenças gritantes. Parecia que aquele lugar havia parado no tempo. Só para ter uma ideia. Nosso barco,tirando os militares, era o mais moderno daquele lugar. O cheiro de peixe e sal eram predominantes, como em qualquer porto, mas naquele lugar, o cheiro de pólvora também se fazia presente.

— Peguem. – Um dos homens do barco nos ofereceu capas. – Vocês vão precisar, para chegar até a casa da Win Fu.

Eu peguei a capa. E senti logo o cheiro de mofo. Ela também estava úmida e manchada. Não fiquei muito feliz em usá-la, mas, não havia opção.

— Ele vai guiá-los. – O mais velho apontou para o mais jovem entre eles. – Depois disso estarão por conta própria.

Eu engoli em seco. Está por conta próprio naquele lugar, me dava arrepios.

Quando finalmente estávamos disfarçados, saímos do barco. Quando os meus pés tocaram no chão, eu senti a lama e as pedras. Como era bom estar em terra firme. Senti a terra entrar pelos meus dedos. Não havia concreto ali.

— Suni. Vamos indo. – Meelo chamou a minha atenção.

O porto, apesar de antigo e ultrapassado, era enorme. Maior do que qualquer um de Republic City. Havia muitas pessoas. Homens, mulheres, velhos e jovens. Todos usando uma espécie de uniforme vermelho surrado. Todos magros, os homens de cabelo curto, e as mulheres de cabelo preso. Era como os funcionários de qualquer distrito particular de Republic City, só que bem mais abatidos.

Eles sempre estavam olhando para baixo.

Eu acabei esbarrando em uma mulher. E quando eu estava pronta para me desculpar, o homem do barco me impediu.

— Não fale com ninguém. Não olhe para o rosto de ninguém. – Ele disse baixo.

Eu só acenei positivamente e continuei.

Eu podia sentir pequenos tremores em baixo dos meus pés. Podia sentir retroescavaderas um pouco mais adiante. E isso se provou com o som que ouvíamos.

Pessoas com roupas vermelhas um pouco mais novas trabalhavam em um canteiro de obras. Alguma coisa grandiosa seria erguida ali.

Uma coisa que eu percebi em todo o caminho, e que como em Republic City, se podia identificar a classe social das pessoas pelas roupas. Mas, era bem mais que isso, não só a classe social, mas sua profissão, e função. Cada classe de trabalhadores se vestia diferente. Com as cores da União. Eram raras as pessoas que não estavam uniformizadas. Por isso estava me sentindo deslocada.

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