Haru
Meus olhos ainda não se acostumaram com as linhas negras que cortam tudo o que eu vejo. Eu estou no prédio mais alto de Republic City, na cobertura, olhando a cidade inteira, e as linhas estão em todas as direções. Linhas negras que não tremulam com o vento. Que apenas eu posso vê-las e tocá-las.
— Haru?
Olho para Venon, o atual dono da Varrick Tower. Seus olhos de admiração quase me dão nojo. Sua lealdade é absoluta e cega, e eu me aproveito disso, pois, é a única pessoa que me segue por sua própria vontade e sem interesses.
— O que foi? – Digo secamente.
— Não é nada. Eu só queria agradecer novamente.
Desde que seus irmãos mais velhos fugiram do país, ele me agradece constantemente, como se eu tivesse alguma coisa haver com a covardia da sua família. Eles não quiseram responder por todo o apoio dado ao antigo governo, e preferiram ir embora, levando tudo o que conseguiram, porém, é impossível levar todos os prédios da família. Deixando Venon como único Varrick na cidade.
Os agradecimentos dele me cansam. Muitas coisas me cansam agora. Eu suspiro. Estou entediado. Faz mais de 15 dias que tudo aconteceu e de lá para cá, nada de relevante ocorreu. Só burocracia e chateação.
O general Tzar assumiu um governo provisório. Ele ainda segue todas as minhas ordens, mesmo que me deixe de escanteio sobre alguns assuntos, eu não ligo. Achei que me importaria, mas essa cidade é tão inútil quanto todas as outras.
Gosto de vir aqui e olhar para todas as direções. Eu tento encontrar uma razão para tudo o que eu fiz, mas minha mente fica cada vez mais vazia, e eu me perco nos pensamentos dele.
Ele. É assim que eu chamo algo que já faz parte de mim. Vaatu não sussurra mais nos meus ouvidos, eu ouço suas palavras direto da minha boca . Ele não aparece mais no canto dos meus olhos, já que agora compartilhamos a mesma aparência. Ele não é mais uma coisa separada. Ele e eu somos um só agora.
— Vamos descer. – Eu digo para Venon que me acompanha como um cachorro obediente.
Eu preciso acompanhar mais uma sessão de interrogatório. Tzar havia me dito que eles conseguiram capturar mais algumas pessoas que ajudaram Mira na sua fuga. E isso faz o tédio se dissipar um pouco.
A força policial foi trocada. O exército assumiu tudo. Assim, quando eu entro na delegacia, só vejo rostos conhecidos. Militares de altas patentes. Eles me reverenciam e abrem caminho quando eu entro.
Sinto um leve formigamento nas mãos. Eu estou usando luvas e as toco levemente. Minha pele ainda dói. Respiro profundamente e entro na sala do interrogatório.
A sala está gelada. O ar condicionado está no máximo. Vejo logo o motivo. O interrogado é um dobrador de fogo. Suas mãos estão presas uma a outra e há grilhões eletrônico presos ao seus pés. È um homem de uns 30 anos pelo menos. Ele é careca e possui as sobrancelhas muito grossas. Sinto a sua raiva quando ele olha para mim.
— Senhor. – Um soldado bate continência.
— Pode falar. – Eu digo quase sem interesse.
— Esse é Jav. Jav de Feng. Foi capturado perto da fronteira norte. Estava fugindo com duas crianças dobradoras. Ele se tornou um facilitador nos últimos dias.
Minha mão direita não estava mais formigando. Comecei a senti dor entre os meus dedos e uma ardência cada vez maior.
— E ele disse alguma coisa? – Perguntei
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Avatar - A lenda de Mira ( Repostando)
AdventureO mundo não é mais o mesmo. O número de dobradores está caindo a cada geração. O mundo está em paz. A tecnologia evoluiu muito e os dobradores não são mais necessários. Mas quanto mais raros eles ficam, mais poderosos e influentes eles são. O últi...