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KAROL

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KAROL

Ele faz um sinal para eu esperar e corre para a cozinha.
No meio da sala, há uma mesa de quatro lugares. Ele coloca em
cima dela uma tigela de porcelana que fumega. Traz, em seguida,
copos, pratos, talheres, uma jarra de suco e uma cesta com pães.
— É uma tradicional sopa de carne e legumes. Uma das poucas
coisas que sei cozinhar.
Me levanto e vou para perto da mesa. Além do cheiro estar
divino, visualmente parece muito boa.
— Não vai ficar incômodo para você comer com o bebê no colo?
— Heitor, todo preocupado, pergunta.
— Não, eu compartilho com ele. Beni é bonzinho e não vai fazer
bagunça. Minto e torço para meu bebê desastrado se comportar a
mesa. Pressinto o cara gostosão fugindo ao ver um bebê tão
descontrolado.
— Então eu sirvo vocês. — Ele serve a sopa e me passa o prato,
em seguida coloca um copo cheio de suco perto de mim. Só então
senta e se serve.
Vou mexendo rápido a sopa com a colher e soprando, para
esfriar e poder dar Bernardo que já pula no meu colo e balbucia sons
de gula.
— Então, costuma fazer sopa para as garotas em que está
interessado? — Com um olhar descontraído, tento ser descontraída.
— Não. Você é a primeira que tem cara de sopa.
Dou uma risada, e Beni também ri sem saber do que.
— Que tola, você me insulta e eu rio.
— Não foi bem um insulto. Eu quis dizer que você aparenta
romance caseiro, daquelas garotas que preferem curtir um filme no
sofá, transar em casa do que ir para um motel de luxo, ou que topam

tomar sopa com o vizinho ao invés de ir a um restaurante caro.
Meu Jesus! Estou hipnotizada por esse olhar, por esse homem
fantástico. Heitor mantem minha atenção cativa de seus olhos
sedutores, quase eróticos, em um tom de castanho  escuros.
Engulo seco me perdendo em toda essa suculência a minha frente.
Só recobro a consciência quando Beni grita protestando, querendo
logo experimentar a sopa. Verifico se está no ponto, e enfio a colher
na boca dele.
— Na verdade, você nem me perguntou se eu gostaria de ir a
um restaurante caro. Retruco, baixinho, olhando para o bebê
comendo.
— Quer ir a um restaurante caro?
— Não hoje. Essa sopa está deliciosa.
— Obrigado.
Ele fica parado, olhando eu soprar um pouco na colher e colocar
na boca de Bernardo. Depois, enquanto o bebê mastiga, eu troco de
colher e como um pouco. Está mesmo muito boa, incrivelmente
maravilhosa e, por um segundo, eu me indago interiormente se ele
mesmo fez ou comprou pronta. Mas só a intenção de querer me
agradar e pensar no meu filho já me comprou.
— Não fique parado aí só olhando. Alimentar um bebê comilão é
uma tarefa demorada.
Heitor sorri de boca fechada.
— Vocês se amam, não é?
— Lógico. Isso é pergunta que se faça para uma mãe? —
pergunto bem humorada.
Ele sorri ainda de boca fechada. Por um instante, eu noto uma
sombra de tensão ou nervosismo nos olhos dele, e parece que o sorriso é forçado. Mas acho que é só fruto da minha mente paranoica.
— É, tem razão. Uma mãe ama seu filho incondicionalmente, é
capaz de fazer tudo por ele. E o pai também — a voz de Heitor sai
meio compassada e rouca. Um nervo pulsa no maxilar.
Eu fico sem resposta. Com certeza isso que ele falou deve ter
alguma coisa a ver com a família dele. Sei que tem um filho de um
ano que mora com a mãe, sei que ele tem um irmão apaixonado e um
pai falecido. Por um instante, fico tentada a saber mais da vida desse
homem. Ele parece ter demônios interiores.
Ou talvez só esteja representando um homem carente, meu
instinto avisa.
Nada disso. Heitor é transparente como água. Me convenço e
volto a comer.
Depois do jantar, Heitor traz um cobertor e alguns lençóis, e eu
faço uma caminha improvisada para Bernardo. Assim que o bebê
dorme, eu ganho um copo de vinho e sento em uma ponta do sofá,
Heitor ocupa a outra.
— Então quer conversar comigo? — Ele se mostra
verdadeiramente interessado, tanto no tom de voz como nos olhos,
que percorrem rápido meu corpo.
— Desde o nosso café no barco você simplesmente sumiu. Eu
quis explicar minha reação, mas não pude falar com você.
— Eu tive um trabalho no Rio. E também já falei sobre o motivo
da minha distância. Eu sinto atração por você, mas não quero
desrespeitá-la.
Nossa! Além de gostoso, é adorável. Quero beliscar ele para ver
se é verdadeiro.
— Não me desrespeitou. O beijo foi bom, eu só me afastei

porque você foi direto, e eu não sei como lidar com sexo casual.
— Eu entendo. Mas te garanto que não seria nada canalha ou
apenas casual.
— E seria como, Heitor? — Crio coragem e o pressiono —Você
não iria namorar comigo, ficar sempre ao meu lado. — Acaricio meu
pescoço, olho todo o ambiente, volto para ele e completo com um tom
mais baixo: — Droga, eu não sei ir para a cama com um homem sem
ter um sentimento envolvido.
— Só transa com quem ama?
Mirando o vinho no copo, eu nego com um gesto de cabeça.
— Não é esse sentimento, eu seria tola se pensasse isso. Mas
eu espero, ao menos, conhecer a pessoa, ter um sentimento
agradável de amizade, pelo menos. — olho brevemente nos olhos
dele e termino — Desde que Ben morreu, eu não fiquei com mais
ninguém. Entende por que saí correndo?
— Sim, eu entendo. Me desculpe pelo modo que agi.
Sem desviar meu olhar, trocamos um sorriso.
— Então quer me conhecer? — Heitor se aproxima mais de mim.
— Pretendo.
— Tudo bem. Me chamo Heitor Marques Júnior, tenho trinta
anos e sou fotógrafo. Tenho um filho que mora com a mãe em São
Paulo, não o vejo com frequência. Não tenho endereço fixo, gosto da
natureza, odeio escritórios, ternos e gravatas. Essa coisa de
executivo não é comigo. Tenho um irmão que é médico e está
apaixonado pela namorada — ele termina de falar, levanta, pega uma
caneta e puxa minha mão. Anota algo e me diz: — Esse é meu
telefone e e-mail, caso você esteja interessada. — Ergo minha mão e
leio. Estou trêmula de felicidade, como nunca estive.

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Ah coitada !


Minha perdição   (Terminada )Onde histórias criam vida. Descubra agora