Mas para tudo se dá um jeito

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A pacata cidade de Ohara, localizada no coração do país, era conhecida pela tranquilidade esbanjada nas ruas cobertas de verde, por possuir a maior universidade do Leste e também pela velha e grande árvore que havia no parque central — o símbolo da cidade. Os moradores, em sua maioria, eram renomados estudiosos ou gente que viera atrás de uma vida pacífica com ar límpido. A junção desses componentes formava a inspiradora cidade ecológica que Ohara era.

Toda manhã era possível ouvir o canto dos pássaros ou avistar pequenos animais aventurando-se a espiar os humanos nos arredores da cidade ou nos parques. A água era cristalina, o ar fresco, além dos transportes serem movidos a água ou energia solar. Todos que ali habitavam pareciam alcançar algo próximo da paz espiritual de tanto que o elo com o meio-ambiente era alimentado. Ou pelo menos, as pessoas ficavam mais harmoniosas umas com as outras em Ohara, diferente do restante do mundo em ritmo de atrito constante graças ao capitalismo compulsório — embora o custo de vida em Ohara não fosse baixo.

Isto é, toda a cidade menos duas pessoas: Vinsmoke Sanji e Roronoa Zoro.

Sanji era o típico habitante de metrópole que vive em meio a barulho e poluição, sempre perto demais de ser acometido por um derrame de puro estresse. Cansado dessa vida que o levava ao limite da saúde mental e física, ele largou o antigo emprego e decidiu se mudar para Ohara. Lá arranjou um novo emprego de modo bem fácil graças ao ótimo currículo, um emprego que não o exauria como o anterior, e estabeleceu-se em uma casinha simples no entorno de um museu.

Sua vida, então, foi de 0 a 100 em questão de qualidade. Todos os dias acordava disposto, o trabalho ia bem e a comida parecia até mais saborosa. Estava tudo tão perfeito que se ficasse melhor, estragava. Porém, arrependeu-se de ter pensado isso quando um infeliz acontecimento quebrou sua rotina. Sanji não possuía automóvel, preferia ir para o trabalho de bonde, que era o transporte de melhor custo-benefício em Ohara. O bonde era extremamente pontual, assim como as pessoas que o utilizavam. Via praticamente os mesmos rostos no dia-a-dia, pois a cidade, como dito anteriormente, era pacata e previsível.

Quando chegava o horário de sair, Sanji ia para a parada do bonde que ficava perto de sua casa, subia naquele transporte elétrico de ar pitoresco, cumprimentava o motorista — que as vezes era o animado Luffy ou a bela Nami — e sentava-se em seu banco. Bom, o banco não levava seu nome realmente, mas habituara-se a sentar nele depois de perceber que tinha a localização perfeita.

Dentro do bonde havia duas fileiras de bancos, do lado direito ficava a fileira de bancos de assento duplo e do lado esquerdo ficava os bancos de assento único. O seu banco, por assim dizer, era o último da fileira de bancos de assento único. E por ser único não precisava se preocupar sobre ter alguém desagradável sentando-se ao seu lado, além de poder se levantar com tranquilidade quando quisesse sair. O banco também era ligeiramente mais macio que o restante e, por estar ao fundo e do lado esquerdo, Sanji podia ver melhor a paisagem que se estendia pela janela, o que incluía as belas moças que saíam para correr naquele horário. Ademais, a janela desse banco era mais prolongada, estendia-se até o banco a sua frente, e não tinha como ser aberto, fazendo com que o vento não bagunçasse seu cabelo macio e brilhoso.

Foi por todos esses motivos que ao subir no bonde e avistar seu lugar já ocupado, Sanji foi tomado pela surpresa e pela raiva. Isso quebrava sua preciosa rotina que seguira quase que religiosamente desde que se mudou, mas limitou-se a encará-lo com visível irritação antes de sentar noutro banco mais à frente. Se tivesse sido apenas esse dia, Sanji teria superado rápido esse acontecimento, entretanto, o mesmo se repetiu pelo restante da semana e também na seguinte. A sua rotina virou encarar com a maior insatisfação possível o abominável homem de cabelo verde, enquanto o maldizia das maneiras mais criativas em sua mente antes de chegar ao ponto onde descia do bonde.

Dois corpos não ocupam o mesmo espaçoOnde histórias criam vida. Descubra agora