Noite Estrelada

Prólogo

Nova Orleans, 23 de março de 1950.

JUNGKOOK

   Acabou, ela se foi. Tudo que vivemos até hoje vão se tornar memórias doloridas.
   Eu sei que nada dura para sempre mas... quando amamos perdemos a noção da realidade, ela disse que ficaria para sempre, que estaria do meu lado, que eu fui e seria o homem que ela mais amava.
   Era quase impossível de abrir meu olhos por conta do inchaço que o choro causou. Levantei de minha cama e pousei na cadeira macia da penteadeira presenteada por meu avô, aliás, preciso arrumá-la.

  - Oras, Jungkook - disse para mim mesmo em voz alta - Você é um tremendo galã e está aí se esperneando por uma garota??

  - "Não era apenas uma garota, eu a considerava mulher da minha vida, pretendia casar com ela o mais rápido possível mas ela me deixou para seguir seu sonho, não a culpo mas deixamos claro de que o "nós" seria eterno..."
   A lágrimas voltaram a rolar em meu rosto incontrolavelmente logo após concluir meu pensamento, os soluços ecoavam pelo meu quarto.
   Segundos depois, ouço batidas na minha porta. Eram de Suzy, minha irmã mais nova. Ela abre a porta gradualmente até conseguir entrar no quarto.

    - Olha, eu sei que você está muito abalado, Gguk, mas... - ela fez uma pausa dramática - ACABOU DE CHEGAR UM CIRCO AQUI NA CIDADE E EU QUERIA MUITO IR, ESTREIA HOJE À NOITE ME LEVA POR FAVOR POR FAVOR POR FAVOOOOOR.

     Ela só podia estar brincando comigo, veio pedir isso para mim, logo eu, que estava de luto amoroso.

     - Estou muito ocupado, pede para o Yoongi, ele é o mais velho, não é?? - franzi o cenho com um olhar frio.

     - Yoongi está ocupado com um projeto da universidade, você só está sendo mariquinha. - disse Suzy, cruzando os braços.

    Ela me chamou de mariquinha??? Sou um homem muito forte mas com sentimentos.

    - Escuta aqui, sua peste, eu não-

    - JUNGKOOK - ela me interrompe batendo o pé no chão - EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ VAI FICAR TRANCAFIADO NESTE QUARTO CHORANDO POR UMA MENINA QUE NEM AQUI ESTÁ MAIS, VIVA A VIDA, HOMEM.

    Não esperava isso saindo da boca de uma garota de 12 anos, fiquei em silêncio pois me senti atacado. Ela se virou indo em direção à porta.

     - Não gosto de ver você assim... caso queira me levar é so avisar. - disse saindo do quarto, de costas para mim.

     Suas palavras ficaram martelando em minha cabeça. Não podia deixar as coisas como estão. Peguei todas as fotos que tinha com Gracy, rasguei e as joguei no lixo.
     Ao lado de minha penteadeira estava meu saxofone, encarei ele por alguns segundos e o apanhei, deixando em meu colo.
     Não estava com nenhuma partitura por perto então dedilhei algumas notas aleatórias até se transformarem em uma melodia melancólica. Era assim que meu coração se sentia, porém ao mesmo tempo, tocar saxofone me aliviava de todas as dores do mundo, a leveza tomava conta de meu corpo. Acho que começar a fazer aula de música aos 8 anos foi a melhor decisão da minha vida.

              *                *                *  

    Assim que começou a escurecer fui me arrumar para levar Suzy ao seu tão esperado circo. Quando apareci na sala te terno a menor explodiu de alegria, agarrou minha mão e me arrastou para fora de casa.
       Fomos de bondinho pois era o meio mais rápido e mais usado aqui em Nova Orleans. Nosso motorista estava doente e não pode nos levar.
       A noite estava perfeita, o ar fresco entrava pelas minhas narinas e me lembrava de estar vivo, o som do jazz saindo dos bares que passávamos davam uma sensação de aconchego. Ah... como amo essa cidade. As estrelas brilhavam mais que o normal, deslumbrantes, formavam um cinturão que parecia nos guiar até o nosso destino; o circo.
  
    A parada do bonde dava de frente com a entrada do circo, a tenda era luminosa com um tom lilás, a música vindo de dentro, os palhaços e malabaristas desencadearam uma grande euforia em mim. Algo naquilo me atraía, não sei o que era, mas tinha a impressão de que algo estava para acontecer, algo novo....