Luz no fim do túnel

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  Isso pode vir a ser bem problemático. Momotaro-san vai querer me degolar ao ver que a espada que ele mesmo forjou com tanto cuidado e capricho foi quebrada em duas partes.

  A dor havia conseguido me deixar um pouco tonta e atordoada por um momento, mas não posso me entregar ao desespero tão facilmente assim. Ainda posso lutar usando apenas a metade da minha lâmina. Ainda não estou morta.

  Mas a frustração se recusava com todas as suas forças a sair da minha mente. Por que estou agindo como se ele fosse apenas mais um oni? Por que não estou levando esta luta tão a sério quanto deveria?

  Meus erros atravessavam minha mente como se fossem as rochas que perfuraram o meu corpo. Eu poderia ter chegado perto da menina antes que a parede tivesse se erguido, eu poderia ter desviado daquelas navalhas, eu poderia ter quebrado aquela rocha atrás de mim.

  Além do mais, por que estou subestimando o oni ao ponto de não ter usado nenhuma técnica de Respiração até agora? Por acaso sou tão idiota assim?

  Usando a Respiração de Concentração Total, enviei a maior quantidade de ar que meus pulmões eram capazes de suportar para a minha circulação sanguínea. Isso provavelmente vai ser o suficiente para estancar o sangramento e aumentar a minha força, assim como Tieko-san me explicou em seus treinamentos.

  Vejo meu sangue no chão, mas não posso me amedrontar. Com a mão livre, fecho meus dedos ao redor de uma daquelas lâminas de pedra que havia se alojado em minha coxa direita e a puxo com força.

  AI! CACETE!

  Isso doeu. Bastante. Provavelmente fiz uma careta durante o processo. Minha respiração pareceu falhar por um instante, mas permaneço firme. Isso vai doer ainda mais, mas não posso me render tão facilmente assim.

  Em meio a dor e observando aquelas pedras manchadas com o meu sangue ainda quente, retiro mais uma daquelas coisas do meu corpo. Esse é o preço que pago por ser tão idiota.

  Alguém está se aproximando por trás, mas seus passos são suaves demais para serem comparados com aquele oni. Após puxar o terceiro pedaço de rocha, aquela garota de antes entrou no meu campo de visão.

  Ela está com os olhos arregalados e algumas gostas de suor escorrem pelo seu rosto pálido. Ela disse algo, provavelmente perguntando se estou bem. Em resposta, falei:

  "Eu estou bem. Fique atrás de mim."

  E ela me desobedeceu. Rasgou uma tira do tecido da manga do kimono e a enrolou em um dos meus ferimentos mais sérios. Bem, acho que o melhor a se fazer é não reclamar e continuar com a tediosa e dolorida atividade de tirar aquelas coisas do meu corpo.

  Ou era isso o que eu queria fazer.

  Os pelos da nuca se arrepiaram e levanto meus olhos para o Lua Inferior. Ele está com o dedo indicador apontado para a minha direção, mas não sentia nada de estranho ao meu redor. O que ele está planejando?

  Os cantos dos seus lábios se ergueram em sorriso irritante, que denunciou definitivamente o fato de estar aprontando algo.

  O oni apontou para cima e meu primeiro reflexo foi levantar a cabeça para o alto. Por acaso alguma coisa iria cair em cima de mim e dessa garota? Agarrei o pulso dela, mas ao olhar para cima, o teto estava completamente plano. Além das gaiolas, nenhum tipo de pedra está flutuando lá em cima.

  Então o chão sob os meus pés sumiu. A respiração chegou a falhar com o susto, mas volto a minha atenção para o que está acontecendo ao meu redor.

  A arena havia girado noventa graus para baixo, fazendo com que se tornasse praticamente uma parede na minha frente, e não mais o chão.

  Cravo rapidamente o que restava da minha nichirin na "parede" de rocha para diminuir a velocidade da descida. Meus braços doeram em protesto por serem obrigados a suportar o peso daquela jovem somado com o meu próprio peso e o impacto da queda repentina.

Imagine - Kyojuro Rengoku [Em Hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora