Declarações são tão difíceis quanto imposto de renda

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3° ano, ensino médio, um mês e poucos dias de aula. Bem, muitas pessoas sabem esse sentimento - felizmente - grupos formados, flertes, piadas e começo de uma disputa interna entre as turmas da manhã e da tarde.
O garoto estava em um quadrado social, ele e mais três amigos sem muito destaque fazendo os mesmos trabalhos em grupo e sempre conversando com uma linguagem própria.
- Hoje é o quê? - Denis perguntou quase deitado na cadeira azul dura como o chão, os braços jogados ao lado do corpo e as pernas esticadas.
- Sei lá, cheirava a frango - Caio foi o primeiro a responder, se ele estava distraído da aula. Então estava realmente chata.
- Mas tudo cheira a frango, mongolóide - Elian falou e logo em seguida tirou a franja da cara. - Eles não lavam aquela panela desde que a escola abriu. O quê que tu acha, laranja?
- Tô tentando escrever - Outono tinha problemas em fazer coisas sob pressão ou duas coisas ao mesmo tempo, logo conversar e escrever o estava matando.
- Sério, Tono? Tu tem dislexia? Ele terminou faz quase meia hora - Denis agora estava sentado de lado, com as pernas atrapalhando a passagem do próximo aluno o qual saísse do fundão.
- Não tenho dislexia, é só lentidão - ele parou para analisar - na real, vocês que estão atrapalhando. Fiquem quietos e eu acho que vai guizado. Satisfeitos?
- É, verdade. Tinha cheiro disso - Caio concordou já guardando o caderno na mochila.
- Hummmm guizado de frango - Denis lambeu os beiços como um cachorro bizarro.
- Daqui a pouco a gente sai cacarejando - Elian deixou sua opinião moribunda.
- Nam, acho que a tua mãe já faz isso - Outono comentou enquanto terminava a última linha do texto - e ninguém reclama.
- Vai se fuder - Elian retrucou enquanto segurava um sorriso nos lábios.
- É, Outono. Não fala da mãe do cara, ela não tem culpa dele ser emo - Denis relembrou aquele fato interessante sobre Elian, o emo.
- Nada contra emos, até tenho um amigo - Caio brincou.
- Vão se fuder!!! - Elian falou e rio ao mesmo tempo, só que dessa vez um pouco alto.
- Ei! - o professor interviu. - Sem esse palavreado na frente dos colegas, faça isso em casa ou na rua.
- Desculpa, Sr. Oliveiras - os quatro falaram em unissono.
- Ótimo - e voltou a mexer no celular esperando a aula acabar e se livrar dos alunos.

Pátio, filas de todas as idades para pegar o lanche - a maioria só queria ocupar espaço prós amigos. - Caio sempre o primeiro, ele amava comer, sempre dizia ser o maior presente de Deus; Denis conversava com um grupo de alunos, mesmo sendo chato, era bem carismático; Elian estava encostado em uma pilastra quadrada, comendo seu lanche comprado, Outono o avistou e decidiu bater um papo com ele, dos três amigos de Outono, Elian era o menos insuportável com sua camisa de alfaiataria amarrada na cintura e "Rihanna" tocando alto no fone.
- Cara, eu acho curioso - Outono chegou perto do amigo, que quase comia cabelo e pastel junto. - Você é todo trevoso e escuta Rihanna.
- Laranja, todo mundo deveria ouvir Rihanna. Capitche? - enquanto falava, Elian tinha um tique nervoso de mexer a cabeça como uma cobra, as vezes irritava quem não era acostumado com seus trejeitos. Parecia estar brincando com a cara das pessoas.
- É, preciso concordar. Por tua culpa eu escuto "Umbrella" todo dia - Outono tirou seu pacote de biscoito do bolso e colocou uma na boca. - Eai, como...
Sua pergunta inútil foi interrompida por uma garota cutucando seu ombro. Doeu um pouco, pois a unha da guria era bem grande, possivelmente não fazia educação física.
- Hummm oi? - Outono tentou falar sem cuspir.
- Você é o garoto com nome estranho? - Outono notou que gentileza não era o forte da garota.
- Sou, é bom esfaquear as pessoas? - Outono seguiu a vibe do Bullying, a garota batia um pouco abaixo do ombro do garoto, cabelos azuis amarrados num rabo de cavalo e vestindo uniforme de educação física.
- Quê? - a feição da baixinha mudou para algo questionador.
- Suas unhas, me machucaram - agora ele falava normalmente, engoliu o biscoito sem ninguém perceber.
- Desculpa, indo direto ao assunto, uma garota, quer dizer, uma amiga minha quer conversar com você.
- Ah que merda - Elian interrompeu depois do seu silêncio e ambos Outono e garota Sonic encararam o emo, - quer dizer, desculpa, vai lá, Laranja.
Outono respirou fundo e soltou o ar acumulado.
- Tá, eu vou contigo ou ela...
- Você vem - a garota agarrou o pulso de Outono e saiu puxando ele pelo pátio.

A escola de Outono era dividida em dois andares: no térreo ficavam as séries fundamentais, o pátio, a diretoria, a secretaria, a lanchonete, o portão de entrada - óbvio - e a saída de emergência. No primeiro andar ficavam as salas de ensino médio e o auditório; pois bem, a garota de cabelo azul o jogou lá dentro e saiu.
No pequeno palco com microfone, instrumentos musicais e caixas de som, estava uma garota sentada numa cadeira giratória, a cabeça pendia pra trás demonstrando um enorme tédio.
- Hummm você quer falar comigo? - Outono parou perto do palco, o palanque ficava na altura da cintura dele, ele era um garoto bem alto.
- Nossa, que demora. Sobe aí - sua voz era carregada de atitude, falava como se não tivesse medo. Só que seu rosto demonstrava certa timidez no momento em que encarava Outono.
O garoto decidiu usar a escada, não era muito inteligente arriscar ser vândalo na frente de uma desconhecida.
- Não respondeu minha pergunta - ele decidiu ficar de pé, tinha esquecido o cinto em casa e faltava quadril pra segurar a calça.
- Quero sim - ela se levantou e Outono teve um vislumbre maior de sua convocadora. - Oi - ela ergueu a mão direita - sou a Laura.
- Eu sou Outono - ele respondeu o aperto de mão.
- Eu sei - isso assustou ele. Mas já era esperado. - Então, a Lai te atrapalhou? Ela é meio rápida.
- Não, relaxa - ambos soltaram as mãos e um clima curioso se formou no ar - meu amigo vai entender... Eu acho.
- Ah, que bom - ela fez uma pausa.
- Então...
- Eu gosto de você, Outono.
O cérebro de Outono pifou.

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