30 Cap: nua e crua

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Sofia

Chegamos no farol Madalena e Leandro já estava reunido com a molecada que costumávamos sair. Eles estavam totalmente baratinados ao ver tanta mulher junta. Confesso que ver a Taylor  no meio daqueles bagunceiros me deixou apreensiva. Queria que ela gostasse deles, afinal eram parte importante da minha vida, especialmente Leandro. Este alias ficou todo saidinho pra cima dela. Dei-lhe uns bons tabefes para ele aprender a se comportar com a mulher dos outros.

A noite estava ótima. Taylor estava se dando bem com os garotos, até mesmo “tirando uma” com a cara deles. O único problema foi quando a cerveja começou a chamar meu nome e a Coca-Cola já não me satisfazia.

- O que você está pensando em fazer? – perguntou Taylor enquanto eu bebericava a cerveja de Leandro.

- Só um tico para molhar o bico... – falei como uma garotinha repreendida.

- Claro que não! Eu quero ver você bem, e pra isso vou cuidar de você...

- Que fofa – falei com um sorriso – Obrigada por me ajudar... Vamos lá fora? Vou fumar um cigarro.

- Você tá de brincadeira comigo não é? – me perguntou Taylor me fuzilando com o olhar. Ops!!! Dei mancada.

- Um cigarrinho...

- Você já leu a porcaria desse maço? – falou Taylor tomando-o da minha mão - Quatro mil e setecentas substancias tóxicas.

- Ok... Já entendi – respondi voltando a me sentar. Com toda a certeza ela era minha salvação.

- Sofia , isso não é brincadeira...

- Tá... Não to acostumada com as pessoas se preocupando com o que faço. Sorry.

- Agora você tem uma que vai cuidar direitinho de você.

- Adoro!!!

Busquei a boca de Taylor para um beijo caloroso que arrancou piadinhas da boca doa meninos presentes. Estávamos entretidas uma com a outra que me assustei com a vibração do meu celular.

- Droga – resmunguei olhando para o visor. Era Selena . Desliguei o aparelho e voltei a colocar no bolso.

- Não vai atender? – perguntou Taylor beijando meus lábios.

- ninguém importante. – o telefone começou a vibrar novamente.

- Atende Sofia .

- É a Selena . Não quero me estressar agora. A noite está tão boa.

- Apenas a dispense.

- ok. Alo?... Não Selena ... To no farol... Na vila madalena... Eu estou acompanhada. Depois nos falamos... Tá bom. Tchau.

- Tá tudo bem?

- Sim. Ela disse que quer conversar comigo.

- Isso é ruim?

- Não mais. Não tem mais importância.

- Então vem. Vamos nos divertir!

O resto da noite passou muito rápido. Ri e dancei como a muito não fazia. Me permiti sentir toda a vida que fluía da mulher a minha frente que também se divertia muito. A energia do lugar estava renovando todos como um presságio do que me aguardava no futuro.

Na semana que se seguiu procuramos uma casa onde Taylor pudesse se instalar. Não foi muito difícil encontrar um apartamento na zona leste. A dona do lugar era uma senhora de meia idade muito simpática que se mostrou muito solicita e ansiosa em não complicar as negociações para que a locação saísse. Na quinta recebi a ligação do meu medico me pedindo para comparecer ao consultório na sexta.

- A cirurgia foi marcada.

- Pra que dia? – perguntei ansiosa.

- Daqui a oito dias...

- Mas... é muito rápido... Não pode...

- Você já tem os exames tudo pronto Sofia . Não há porque esperar – falou o medico colocando minha ficha de lado - Tirando o tumor, sua saúde está ótima. Seu caso é de risco. Não é bom se arriscar mais ainda.

- Mas eu...

- Tudo bem – falou Taylor segurando forte minha mão – vai dar tudo certo Sofia ...

- Taylor não... – Um súbito medo de perdê-la inundou meu coração. A lagrima que me escapou foi involuntária.

- Eu vou ficar do seu lado sempre...

- Doutor... – falei entre sorrisos e lagrimas – se o senhor me fizer deixar essa mulher solteira e sozinha por ai, eu volto para puxar seu pé.

- Esse é o espírito da coisa Sofia . Você vai se sair bem.

Saímos do consultório em um silencio profundo e aterrador. Cada uma imersa em seus próprios pensamentos. Daria tudo para saber o que estava passando na cabeça de Taylor. Tinha medo de que ela recuasse, que visse que não era tão  simples e romântico se sacrificar por alguém como as historias romanticamente contam.

Me despedi de Taylor na frente do hotel. Voltei pra casa buscar algumas roupas e falar para minha mãe sobre a cirurgia. Ela também teve medo. Por mais que estivesse brava comigo, eu era sua única filha. Disse que ia passar os próximos dias fora. Ela brigou, mas no fundo sabia que eu precisava daquele momento pra mim.

O final de semana se arrastou. Taylor eu não nos desgrudamos um momento, uma despedida silenciosa de algo eu não acreditávamos que aconteceria. O que eu mais queria era ficar abraçada a ela, sentindo seu perfume e ouvindo sua respiração. Não dormia de noite velando seu sono. Taylor parecia um anjo dormindo. A respiração leve, os cabelos caprichosamente bagunçados... Tudo nela era perfeito.

A semana seguinte já tinha desistido de pensar em trabalho. E usei desse tempo para aproveitar cada segundo ao seu lado. Na quinta feira a convidei para ir a um salão de beleza. Eu tinha que estar bonita, afinal se o pior acontecesse eu tinha que estar pelo menos apresentável dentro do caixão.

- Taylor... Eu tenho que me desfazer dos meus cachinhos... – falei lentamente segurando suas mãos enquanto o cabeleleiro me arrumava para lavá-lo – Vou poupar o trabalho de ele fazer uma escova...

- Você vai ficar linda de qualquer jeito...

Com o coração apertado acenei com a cabeça e beijei seus lábios. Tinha chegado a hora.

- Passa a zero... – pedi com um nó na garganta.

- Você tá maluca menina? Um cabelo lindo desse? Não vou fazer...

- Faz o que ela pediu! – falou Taylor alterada. Ela via meu estado de espírito – Ela já decidiu...

- Tudo bem moças... Se você quer assim...

Como em um flash-back da novela das oito vi lentamente meus cabelos ficando no chão. Os cachinhos que eu tanto amava agora eram apenas um amontoado no chão do salão. Não tinha como não chorar. Eu estava me transformando em outra pessoa, uma mulher que eu via refletida no espelho e não sabia quem era. Taylor se postou ao meu lado segurando minha mão, secando as lagrimas que rolavam pelo meu rosto.

- Eles vão crescer novamente...

Apenas assenti com a cabeça. Não tinha palavras. Não tinha forças para falar qualquer coisa. A maquina começou a passar pela minha cabeça arrancando o resquício de minha cabeleira. Quando me olhei no espelho novamente vi a cabeça oval que os cabelos escondiam. Eu estava nua e crua. Pronta para o que viesse.

 

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Prévia do próximo capítulo

“Eu tinha que ser forte”, essa era a frase que rondava os meus pensamentos durante todo o tempo em que via, com lágrimas presas nos meus olhos, os cabelos de Sofia  caindo no chão daquele salão. Sentada a frente dela, com as mãos segurando as da menina, que ora apertava os dedos nos meus, ora levava-os aos olhos para enxugar o seu pranto. ...

ՏOTᗩY ✓   Kɴᴏᴡɴ SᴛʀᴀɴɢᴇʀsOnde histórias criam vida. Descubra agora