Capítulo 1

37 3 0
                                    

Eu tinha oito anos quando passei por aquelas portas pela primeira vez. Sentia-me assustada e pequena.

   –Mas você me disse que íamos pro parque, mãe. – eu dizia com lágrimas nos olhos. Emma parecia surda de uma hora para outra. Perguntei-me se havia algo errado, talvez eu devesse falar mais alto.

   –Mãe! –gritei. Emma virou as costas, recolocou os óculos escuros e procurava algo em sua bolsa enquanto caminhava em direção ao carro. Tentei segui-la, mas alguém me segurou. –MÃE!

   Eu chorava e esperneava enquanto Emma consertava seus cabelos loiros tingidos no espelho do retrovisor.

   –Não! Mãe... –o motor foi ligado e o automóvel prata seguiu seu caminho, o que fez meu coração queimar. Eu não sabia que corações podiam fazer aquilo. –Por quê? Por quê? Por... –dizia entre soluços.

   O que aconteceu logo depois disso é um borrão em minha memória. Mas ainda me lembro de uma mulher com um vestido longo e florido que se agachou para limpar minhas lágrimas.

   –Você está linda de uniforme. –ela disse.

   Olhei para baixo para contemplar meu traje estranho que, sob protestos, aceitei vestir naquela manhã. Saia xadrez nas cores azul e cinza, meias brancas que alcançavam meus joelhos e uma gravata escura que me enforcava todas as vezes que eu soluçava. No canto esquerdo do meu peito havia um brasão costurado em azul e preto que, não tinha como eu saber na época, mas levava os escritos "Colégio Montagmer".

   –Dá coceira. –disse fungando o nariz. –Mas eu vesti porque vai ter uma festa a fantasia no parque. Você pode me levar? –minha animação cresceu.

   –Ah, querida... –sua voz ficou frágil e expressava pena. Seus olhos cor de avelã reluziram-se como uma gota de água antes de desviar o olhar. Essa foi a primeira vez que vi Melissa.

   Agora, sete anos e várias numerações de gravata depois, eu passava pelos mesmos portões. Naquele dia, há anos atrás, o céu estava azul claro e ensolarado, praticamente sem nuvens, o que eu me lembro pensar ser uma grande ironia. Mas hoje, já no fim da tarde, um degradê verde-água e laranja junto a esboços de estrelas tomava conta da paisagem. Ali era o melhor lugar na escola para assistir o pôr do sol.

   Mãos que apertaram a minha cintura me despertaram de meus devaneios. Estremeci em um pulo e instantaneamente soube quem era o engraçadinho.

   –Você nunca vai parar de fazer isso, vai? –perguntei fingindo irritação.

   –Eu não consigo evitar! Você se assusta muito fácil. –Victor deu de ombros sorrindo. Ele andou alguns passos na minha frente, o que me deixou com a visão de seus cabelos negros como carvão. O garoto virou-se em minha direção com um olhar curioso. –Você quer ser atropelada?

   –O que?

   –Valentina, você está parada no meio da escadaria principal na hora da saída.

   –Ah, sim. –eu disse olhando em volta e só agora percebendo os rostos enfurecidos dos alunos que tinham que desviar do caminho por eu estar atrapalhando a passagem. Descemos as escadas e nos escoramos nas grades que cercavam a escola. –Eu estava... Olhando o céu.

   –É claro que estava. –murmurou ele com um meio sorriso.

   –Ora, ora o que temos aqui. –Luana chegou por trás de Victor, colocou uma mão em seu ombro esquerdo e o sacudiu com força. –Se não é o pior companheiro de trabalho em grupo de toda a Montagmer. Parece que suas tentativas em me evitar o dia todo foram em vão porque aqui estamos. –o menino franziu as sobrancelhas e soltou um suspiro, frustrado. Levou as mãos ao coração como se sentisse dor no local.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Apr 13, 2021 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

MontagmerOnde histórias criam vida. Descubra agora