Status deliberadamente mal posicionados

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Terça, Outono teve um estágio cansativo, sentia que todos os postos eram feitos para ele. Laura tinha tido uma tarde estressante, pois uma amiga não sabia calcular o próprio ciclo e sobrava para Laura fazer papel de mãe, ajudante, calendário e calculadora. Isso a irritava bastante, mas não conseguia abandonar a colega burra.
Outono nem ligou para os seis horários de aula, ficou no automático a manhã inteira. Laura dormiu bastante, ajudou a vó com as plantas, fez uma atividade atrasada e no começo da tarde saiu feliz para a escola; ambos estavam ansiosos pela tarde daquela terça-feira. Óbvio, romance era proibido nas dependências da escola - hipocrisia, todo mundo burla isso - mas em nenhum lugar proibia uma colega de sanar as dúvidas do outro companheiro educacional.

- Esse uniforme é ridículo - Elian tirou todos dos seus pensamentos com seu comentário óbvio. Os quatro garotos estavam descansando após uma partida de vôlei, coincidência ambos estarem no mesmo time? Não - a camisa é quente, o short aperta meu saco...
- E também marca a tua bunda - Denis interrompeu.
- Verdade, você tem um bundão - Caio acrescentou.
- Tenho que concordar. Você faz agachamento em casa? - Outono deixou unânime, Elian tinha uma bunda grande.
- Faço. Vocês não? - Elian não parecia tímido, estava mais curioso.
- Eu faço caminhada depois do culto - a vida de Caio se moldava ao redor do culto da igreja.
- Tô fora, tenho problema no joelho - no quesito "exercício físico", Denis era cheio de doenças.
Todos encararam Outono, como se ele fosse a peça chave na discussão.
- Eu tento umas abdominais, mas o resultado é ridículo - ele processou algum lugar na memória tentando lembrar de algo além de procrastinação. - Nam, só abdominal mesmo.
Outono voltou a olhar os lados e o horizonte, caçando sua guia.
- Ela só vai sair no lanche, gênio - Denis bem sútil.
- Como tu sabe? - indagou o (não) apaixonado.
- Todo mundo sabe...
- Porque você espalhou - Elian soltou fatos, Denis não era o fofoqueiro que Outono gostava. Ele aumentava tudo, até se tornar absurdo.
- Sim, sim. Ninguém liga - sacudiu as mãos como se quisesse expulsar a verdade. - Ela é bem conhecida, Tono. E ficou mais depois do encontro de vocês.
- Não vou cair nessa - Out conhecia o joguinho.
- Cair? Não, idiota - Denis juntou as sandálias e sentou no chão a frente de Outono - não é esse "conhecida". Ela é inteligente, bonita. Tá ligado aquele tipo de garota que fala com seletas pessoas?
- Uma patricinha? - Outono chutou.
- Não - Denis ponderou um pouco desacreditado - me admira você ter chegado no médio.
- Seja direto - Outono não sentiu a ofensa, mas doeu um pouco.
- Como posso explicar? - pensou e então estalou os dedos com a ideia - Já sei!! Ela tem um futuro. Sacou??
- AAAAAAAAAAAAA - ele finalmente entendeu o óbvio. - Verdade, ela tem cara de ser bem prodígio.
- Acho que ela tá te usando - Caio comentou o suficiente pra todo mundo se voltar para ele - ou é uma aposta.
- Uau, obrigado pelo otimismo do caralho - Outono já esperava isso de quem só curtia irmãs da igreja.
- Não, pensa comigo - Caio começou a andar de um lado para o outro, entrando no seu modo: análise - ela é inteligente, bonita, carismática e fiquei sabendo que tem um piercing no umbigo - ele se virou, caminhou, virou de novo e recomeçou a falar - mas você, Outono... É só você.
- Por que nós somos amigos? - Outono ficou curioso.
- Eu sou tua consciência.
- Você destrói minha auto - estima.
- Não, amigo - Caio parou ao lado do ombro direito de Elian - é que você deveria pensar mais no chão. Sabe?
- O que séria mais no chão? - Denis interveio curioso.
- Uma pessoa a qual combine com ele - Caio respondeu.
- Tipo? - Outono já sabia a resposta.
- Minha prima Samara - essa era a resposta.
- Nem fudendo - Samara era afim de Outono desde o fundamental, o garoto até pensou em dar uma chance pra garota. Mas era ela possessiva demais e isso o assustava.
- A Samara não pegou Herpes no natal passado? - Elian sempre lembrava dos detalhes sórdidos e nesse momento Caio o encarou com ódio.
- Sim, e genital - Denis completou a informação importante.
- Era um acampamento misto, tá?!! Qualquer coisa poderia acontecer - Caio não sabia defender aquilo, seus tios era "perfeitos" demais aos seus olhos. Samara ter pego Herpes destruiu seu mundinho.
- Acampamento da igreja, obrigado por lembrar desse fato - Outono encerrou e então ouviu-se o sinal do lanche.
- Olha só, você perdeu de novo - comentário pertinente de Denis.
- Vai a merda, Denis.
- Com orgulho, amor - Denis estalou os dedos e saiu andando em direção a fila, ele nunca dispensava um lanche.
Elian aproveitou essa chance pra se levantar e ficar ao lado de Caio, quando avistou a companhia de Outono ao longe, conversando no meio de um grupo segurando cadernos. Ela era realmente inteligente.
- Ae, Laranja.
- Eu sei - Outono estava nervoso, fato.
- Aproveita que ela já tá vindo.
- Droga, tá - e saiu andando em direção a Laura.

Atravessar a quadra foi a pior tortura que ambos sofreram desde o dia de seus nascimentos, o medo de errar um passo, cair, alguém chamar, alguém gritar, foi um momento eterno e felizmente durou poucos segundos até os dois estarem frente a frente.
- Oi - ela disse primeiro, ele queria ter dito ao mesmo tempo.
- Eai - mesmo o sol estando escondido, Laura parecia reluzente, como se estivesse muito feliz. Seu sorriso formado nos lábios era fofo e acolhedor.
- Você usa jeans na educação física? - ela o analisou de cima a baixo.
- O short é ridículo.
- Eu gosto.
- Em você fica bem.
- Fica é?
Ele corou.
- Fica.
- Eai, vamos para o nosso tour? Só preciso passar na minha sala pra pegar uma coisa - ela disse e o puxou de leve pela barra da camisa.
- Claro, vamos.
Outono sabia como era a escola, estudou nela a vida inteira e mesmo assim, andar com aquela garota era uma experiência nova, divertida. Os alunos os encaravam, alguns entendiam, outros davam palpites e a maioria estava curiosa. Ele odiava atenção demais, felizmente aquela multidão da hora do lanche foi sendo dispersada e ele perdendo os holofotes na medida em que andavam.
- Pronto - Laura entrou e saiu de sua sala rapidamente.
- O quê é isso? - ela carregava um bolo de cartas nas mãos.
- UNO.
- A gente vai jogar? - ela não parava de impressionar ele.
- Não, maginas - ela queria ser mais sarcástica, no entanto desistiu - Mas é óbvio, bobão e ainda vai ser apostado.
- O que vamos apostar?
- Você pergunta demais e no momento errado, vem logo - e o puxou novamente.

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