Laços inquebráveis

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- Vamos logo porque você mesmo disse que é algo importante e tem a ver com os meninos e comigo. E se a pressa é tamanha que nem quer esperar até a noite para conversarmos...

- É o suficiente para me preocupar com a sua vida e a dos meninos.

- Do que... Você está falando, Gustavo?

- Você sabe que a mãe biológica dos meninos os havia vendido mas não chegou a entregar as crianças para as pessoas que as venderam.

- Sim... Eu lembro, nunca comentei nem com Daniel nem com Heitor... Eles não iriam entender... E na verdade, eles não a consideram como mãe, já que ela abandonou os meninos.

Agnes e Gustavo conversavam na padaria de um mercado próximo à escola dos filhos, enquanto a fila do pão, próxima à bancada onde dividiam um misto quente, aumentava a olhos vistos.

O empresário, cuja aparência impositiva o fazia deslocado enquanto tomava café com leite em um copo de vidro, prosseguiu com a conversa que, concluíra, deveria ter sido feita antes.

- É melhor assim. Se Viviana não queria saber das crianças em vida não vou dar esse gostinho para ela em morte.

- Mas você não quer falar sobre a mãe biológica dos garotos...

- Não. Eu preciso explicar a você que Viviana não vendeu as crianças para qualquer pessoa. Minha mãe e meu irmão estão envolvidos na venda dos gêmeos. – "o quê?" - Eles queriam repassar os meninos para outras pessoas, revendê-los, assim que nascessem.

Aos poucos, as palavras de Gustavo entraram na mente de Agnes e ela finalmente entendeu o que significava aquela constatação. Sua expressão, analítica e preocupada, se transformou em uma máscara de horror e choque.

O sanduíche que comia desceu amargo e ela parecia prestes a vomitar.

- Você está querendo dizer que... Sua mãe e seu irmão revenderam meus filhos? Sua família foi capaz de... Gustavo, você convive com a sua mãe o seu irmão? Essa gente sabe que eu existo? Tô perguntando porque você sabe muito bem que essas pessoas serão capazes de tudo! Eu tenho certeza disso, eles podem sequestrar meus meninos, mandar pra longe, se vendem bebês... Assim... Sem se preocuparem com parentesco, laços de sangue... Meu Deus... Ninguém quis, ninguém amou meus meninos... Por tanto tempo, Gustavo...

A voz de Agnes estava embargada, e a professora não conseguia segurar a emoção. Gustavo, instintivamente, segurou na mão da jovem buscando acalmá-la.

- Eu tinha mantido tudo em segredo até a minha mãe descobrir que não apenas os gêmeos existem, como Tininha e você também. Ela pensa que Tininha é minha filha biológica e acredita que nós temos um caso.

- De onde ela chegou a essa... Quem falou tudo isso para ela, Gustavo?

- Infelizmente, foi por causa da diretora do Escala... Após a briga com os pais de Cláudio, quando Heitor bateu no colega.

Não precisava de mais informações, aquilo fora o suficiente para deixar Agnes ainda mais irritada.

- Eu sei o que você vai dizer, e eu me arrependo amargamente. Se eu não tivesse sido tão apressado em colocar as crianças no Escala, minha mãe jamais ia descobrir sobre a existência deles.

- Isso não me interessa mais, Gustavo: só quero saber o que você vai fazer em relação a isso! A sua mãe e seu irmão são dois bandidos, dois miseráveis! Eu não quero ver nenhum deles próximos de meus filhos.

- Eles não vão ficar próximos das crianças, Agnes. Amparo e Edgar nem sabem onde vivo; além disso, eu vou colocar seguranças para proteger você e as crianças. Eu não vou deixar vocês sozinhos.

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