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Não quero pensar em você. Simplesmente não suportaria, mas farei como minha psicóloga recomendou: pensarei em você por exatos 15 minutos e depois deixarei as lembranças, as memórias tão doces, irem embora. Como a água suja escorrendo pelo ralo de uma pia. Olho para o relógio: 10 horas. Fecho os olhos. Vamos começar... Hoje o céu amanheceu frio, chuvoso e cinza. "O dia está refletindo o que sinto", pensei. Ou melhor, o que sentia quando eu não tinha você. E o que sinto agora, pois você me deixou... Antes de você minha vida era vazia. O cotidiano, a mesmice de todos os dias, me assustavam, mas ao mesmo tempo o medo me impedia de fazer algo para mudar isso, me impedia de tentar algo diferente. E então você chegou. Virou minha vida de ponta cabeça. Baladas na sexta, ir ao cinema no sábado, curtir o domingo em um banco de praça vendo o pôr-do-sol. Novamente eu estava preso a uma rotina, mas desta vez eu estava feliz, pois não estava sozinho. Ouvir sua voz rouca dizendo que me amava, ouvir sua risada pelo apartamento, ver o brilho dos seus olhos, seu perfume, tudo me encantava, tudo me fazia te amar cada vez mais. Todos os dias tinha você ao meu lado, você me jurou o sempre e eu acreditei... Quão ingênuo sou? Será que sequer podemos chamar de ingênua uma pessoa que se apega ao que acredita ser sua grande chance de amar? De ser feliz com outra pessoa que não faz parte de nosso núcleo familiar? Me apeguei a você e de você fiquei dependente tão profunda e desesperadamente que quando me deixou uma parte de mim ficou exposta, sangrando. Dias se passaram e essa ferida não parece se curar. Ela parece, na verdade, cada dia pior. Até porque te vi com ele ontem. Vocês dois riam, provavelmente de algo que ele falou. Você nunca teve o dom para contar piadas. Parei. Olhei em sua direção e pensei em tudo o que eu queria lhe falar, tudo o que estava preso em minha garganta. Mas segui em frente. Não lhe dirigi a palavra e nem mesmo um segundo olhar. Durante todo o longo percurso até o consultório da psicóloga fiquei pensando: e se... E se eu te dissesse que sempre que entro no apartamento tenho a esperança de te encontrar sentada no sofá lendo um romance de Nicholas Sparks com uma caneca de café nas mãos? E se eu te dissesse que sempre que o vento sopra pelo pequeno espaço do apartamento penso ser o som de sua risada? E se eu te dissesse que toda vez que olho no espelho é o seu rosto que vejo e não o meu? E se eu te dissesse que seu cheiro ainda está preso em minhas roupas, meu travesseiro, por todo o apartamento? E se eu te dissesse que não vou mais a balada, ao cinema ou ao parque, pois estes lugares eram de nós dois e jamais poderia ir lá sozinho? E se eu te dissesse que sem você a rotina voltou a ser a mesma do antes e simplesmente não faz mais sentido? E se eu te dissesse que a única diferença entre o antes e o depois de você é que antes meu coração não estava partido em mil pedaços como está agora? E se eu te dissesse que, apesar de tudo o que me fez passar eu ainda espero sua volta, ainda anseio seu retorno para meus braços? Abro os olhos. 10 horas e 15 minutos. Caio de joelhos e choro. Falhei miseravelmente neste exercício. Ao invés de te esquecer, ao invés de simplesmente deixar as memórias que tenho de você escorrerem pelo ralo, eu apenas as juntei e guardei em meu coração. Não há formas de me livrar de você. Todos os métodos que utilizei apenas me fizeram te amar ainda mais. Em um momento de desespero pego o celular e lhe envio uma mensagem: E se eu te dissesse que sem você não vejo motivos para continuar vivendo, pois nada mais faz sentido?

E se eu te dissesse...Onde histórias criam vida. Descubra agora