Capítulo 1

6.8K 422 110
                                    

Sentada sobre as minhas panturrilhas, o peso de meu corpo repousava no vasto tapete de um roxo desbotado que dominava o chão do cômodo, suavizando o frio do porcelanato. Diferente das paredes de toda a casa, tão vivas e claras como um dia de verão, aquele cômodo parecia conter um fragmento de suavidade intencional. Com um pincel entre os dedos, procurava saber quando dar a primeira pincelada em uma ainda tela em branco, tentando capturar o mundo que via além de meus olhos.

Era um sábado. O calor pairava como um véu preguiçoso, quebrado apenas por uma brisa gentil que serpenteava pelo ambiente, carregando consigo o aroma de flores ao longe. Já passava das duas da tarde, e o mundo lá fora parecia suspenso em sua própria letargia. Enquanto eu estava sozinha no meu quarto, Lalisa permanecia absorta em seu escritório.

Eu sabia bem o peso do trabalho de Lisa. Seus dias eram preenchidos por responsabilidades enormes, e suas mãos pareciam sempre mover entre papéis importantes, como se tecessem o destino. Assim como ela respeitava os meus momentos de estudo e dedicação, eu tentava retribuir, mantendo-me em silêncio e paciente. Sabia que, ao fim daquele dia, ela deixaria o mundo para trás e me envolveria com seu amor e sua atenção.

Entretanto, o imponente relógio de madeira, erguido no hall de entrada como um guardião silencioso, marcava as horas com precisão quase cruel. Os ponteiros moviam-se lentamente, arrastando consigo o peso de uma tarde interminável. Eu, confinada em meu quarto, mergulhava em um silêncio carregado de expectativa, aguardando o retorno de Lalisa.

O tempo parecia um adversário teimoso, e minha paciência, embora inicialmente firme, agora começava a se desfazer. Uma inquietação crescente tomou conta de mim, e minha moral, já frágil diante de tudo que me cercava, começava a vacilar perigosamente.

Foi nesse estado de insatisfação que decidi desafiar as regras rígidas de Lalisa. Com uma ousadia que oscilava entre o impulso e a rebeldia, burlava uma de suas proibições mais enfáticas: usar tinta fora do ateliê. Agora, diante do silêncio pesado que envolvia a casa, eu me permitia espalhar sobre o chão do quarto os frascos vibrantes, cujas cores pareciam refletir minha impaciência.

A porta estava trancada, um gesto que infringia outra de suas normas. Uma leve ansiedade dançava ao fundo da minha mente, e meus ouvidos, atentos como os de uma presa encurralada, buscavam por qualquer eco de seus passos firmes no corredor. Cada estalo da madeira ou sussurro do vento parecia anunciar sua chegada, mas o silêncio persistia, preenchendo o espaço entre as batidas irregulares de meu coração.

Poderia parecer trivial, mas como de costume, eu seguia as regras de Lalisa com uma precisão quase devota, especialmente quando estava no estado em que me encontrava: dócil, obediente, exatamente como ela gostava. Viver ao lado de Lalisa significava aceitar uma vida moldada, um desvio completo daquilo que eu imaginava para mim mesma. Era render-me ao toque hábil de suas mãos, que esculpiam minha essência segundo sua vontade e prazer.

Eu não a temia como deveria, não com o mesmo pavor que alguns de meus antigos amigos haviam insistido que eu sentisse. Eles, como sombras fugidias, desapareceram tão rápido quanto tentaram me advertir sobre ela. Conviver com Lalisa era aceitar uma metamorfose inevitável, reconhecendo que sua influência havia reescrito minha essência. Porém, ao mesmo tempo, era admitir que ninguém, absolutamente ninguém, havia me permitido explorar minhas nuances mais profundas, as camadas mais sombrias e feridas da minha alma.

Lalisa exigia verdade, sempre. Dizia que podia me ver através dos olhos, me decifrar como um livro e ouvir os ecos da minha alma apenas pelo toque. Seus olhos penetrantes e suas palavras carregavam uma certeza inabalável que, embora me enredassem, também me despedaçavam.

My Mommy: Lady&Submissive || G!POnde histórias criam vida. Descubra agora