Maratonar

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(Pela visão de Maria Lúcia)

Meus pais resolveram tomar café da manhã no parque que há perto de casa, eu não estava muito a fim de ir, mas, fazia muito tempo que não fazíamos esse tipo de coisa todos juntos, então meu pai ficaria chateado se eu não fosse.

Eu sentia que estava lá apenas de corpo, pois, minha mente não parava de pensar no quase beijo com Alice, o cheiro adocicado do seu perfume me inebriou e eu queria não ter que sair de perto dela mais, mas, era necessário, era ético.

- Filha, o que há com você? Estamos todos conversando sobre seu assunto favorito, músicas e literatura e você não comentou nada até agora.

- Desculpa, não aconteceu nada. Estou um pouco atônita.

- Nós te conhecemos, nunca iremos te julgar, pode desabafar minha querida. Tadeu e Katharina falaram em uníssono.

- É que existe uma pessoa que mexeu muito comigo, eu não esperava que isso fosse acontecer, mas eu tenho tanto medo de não dar certo e acabar prejudicando ela de alguma forma.

- É sua professora não é? Da primeira vez que você disse sobre sua faculdade e citou o nome dela seus olhos mudaram de cor para um castanho mais escuro e o brilho aumentou. Eu conheço minha própria filha e não teria como não notar. Minha mãe dizia.

- É, tem problema? O que eu faço? Falava em tom de desespero, deixando meus olhos marejar.

- Siga seu coração, meu amor. Não tenha pressa, se ela sentir o mesmo você saberá no tempo correto. Se quiser, eu comprei um apartamento na avenida paulista, um pouco mais simples do que de costume, pois, sei que fica mais próximo para você em algumas eventualidades da faculdade, ele já está mobiliado e pronto para usar, pode chamá-la para ir lá. E eu sei, que você não falou para ela sobre sua família, por medo de ficarem com você apenas por interesse, está tudo bem, compreendo e respeito. Eu te amo do jeito que você é e sei que suas escolhas são responsáveis, vá ser feliz minha menina.

Eu não esperava ouvir tudo aquilo que meus pais me falaram, mas, estava muito feliz e grata pela família que tenho. Assim que terminamos de conversas, resolvi mandar uma mensagem por Whatsapp para Alice.

"Olá. Obrigada pelo jantar, me diverti muito, fiquei curiosa com a série que mencionou, gostaria de ir até minha casa, jantar e maratonar comigo? Pelo que andei lendo ou escutando por aí, as amizades só florescem conforme nos aproximamos de alguém. Um beijo, com carinho. Maria Lúcia Giordano."

Mandei a mensagem e para não ficar com o celular na mão o tempo todo, resolvi desligar ele, até para amenizar minha ansiedade de ver a resposta e fui aproveitar o resto do domingo com minha família, em meio à filmes e videogames.

(Pela visão de Alice)

Depois do jantar e fazer minha higiene demorou mais que o esperado para dormir, pois, a cena do quase beijo em Maria Lúcia estava muito vívida, o cheiro amadeirado dela. Eu não queria sair de perto, mas, precisava, porque eu disse para ela que estávamos apenas construindo um laço de amizade.

Tentava a todo tempo fingir que não sabia o que estava acontecendo dentro de mim, mas, estava nítido que eu parecia uma adolescente de 15 anos, vivendo sua primeira paixonite, porque quando ela ia embora eu sentia uma dor e necessidade de estar perto, mas, meu profissionalismo ensurdece os sentimentos, não quero que achem que ela está tirando proveitos acadêmicos, como notas melhores, isso é por mérito dela, ser inteligente e aplicada, não quero estragar uma carreira que está apenas no começo, por imprudências.

Aos oito anos de idade, perdi minha avó, minha referência em diversas coisas, chorei muito, parecia que a dor nunca iria passar, de não te-la nunca mais comigo. A dor que estava sentindo em meu peito era semelhante a da minha avó, mas, eu não havia perdido Maria Lúcia, nem nunca tive. Minhas lágrimas não paravam de escorrer em minhas bochechas, por medo, indecisão, principalmente por amor. Então, resolvo ligar para Callie. Talvez para me acalmar, pedir dicas, conselhos, ou só para distrair disso tudo.

- Alô, Callie... Você está bem?

- Oi Ali! Que saudades, como foi o jantar?

- Foi legal, é foi bom...

- Que voz de choro é essa? A Maria Lúcia te fez alguma coisa? Pode me contar tudo.

- Não, ela não fez nada. Ela foi incrível e é ai que está o problema, eu to me apaixonando por ela.

- Ah, pelo amor de Deus! Alice, ela já é maior de idade, sabe o que faz e certamente um possível relacionamento não irá a atrapalhar academicamente, você mesma me disse que ela é brilhante. Entrega-se, seja você mesma, se ela gostar de você ela irá se apaixonar pela sua essência. Você vai ver tudo no seu próprio tempo. Lembre-se por mais apaixonada que você fique não diga com rapidez, ainda mais porque ela pode não estar e você se machucará. Faça as coisas com calma.

- Obrigada Callie, o que seria de mim sem você? Amo você, venha me visitar logo!

Após eu contar sobre o jantar e o fato de estar me apaixonando por Maria Lúcia Giordano, conversamos mais algumas amenidades sobre nossas vidas e mal vi o tempo passar. Resolvi fazer algo para comer enquanto assistia mais um episódio da minha série favorita. Coloquei meu celular para carregar na cômoda e fui preparar o almoço. Fiz um macarrão com molho branco e sentei no sofá da sala, para comer e assistir "The Flash", sem dúvidas minha série favorita.

Depois de alguns episódios devorados, assim como minha janta. Escuto meu celular apitar como notificação de mensagem. Era um vídeo engraçado de cachorros que Callie me enviou a fim de me fazer rir, entretanto havia outra mensagem que não tinha notado porque foi enviada enquanto conversava com minha melhor amiga. O remetente era a Malu, meu coração parecia saltar pela boca e a mensagem tinha sido enviada há pouco tempo.

Respondi imediatamente, como uma namorada ansiosa, eu me sentia uma verdadeira adolescente me apaixonando pelo meu primeiro amor.

"Olá, desculpa a demora, eu estava assistindo The Flash. Amei o jantar e adoraria maratonar com você, com carinho, Alice."

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