Capítulo 5

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Hoje tinha aula de história de novo. Sentei no mesmo lugar do que ontem, e o menino de olhos cinzas ao meu lado.

- Bom dia. - disse ele me assustando.

Normalmente ele não puxa assunto comigo, nem eu com ele.

- Ah, Oi. Bom dia.

- Nem nos conhecemos direito ontem. A última vez em que lhe vi, você estava levando uma bolada na cabeça e caindo no chão.

Fiquei paralisada. Meu rosto devia estar completamente vermelho, pois ele deu uma risadinha. Não consigo falar. Então ele continuou.

- Você sabia que foi eu quem te levou para a enfermaria? Não tinha mais nenhum homem lá para te ajudar. - disse em um tom irônico. - E cai entre nós? Você está um pouco pesadinha.

Ok, agora eu estava vermelha, mas não de vergonha, de raiva. Como ele se atrevia me dizer tudo aquilo? Nem sei o nome dele para poder xingá-lo mentalmente... Isso!

- Qual o seu nome? - perguntei tentando disfarçar a raiva.

- Matt, e você... Claire, certo? - disse ele fazendo uma careta fofa.

Olhei para ele concordando, não dizendo mais nada para poder puxar qualquer tipo de assunto. Apoiei o meu cotovelo na mesa, tentando bloquear qualquer tipo de contato visual entre nós dois.

Bom, segundo dia de aula não poderia começar melhor. Eu já estava conhecida como a menina que levou uma bolada na cabeça. A aula acabou e eu sai correndo para a aula de química. Pelo menos, não vou encontrá-lo hoje, era o que eu pensava.

O dia foi longo. Recebi uma mensagem da Ariane que dizia o seguinte.

"Vou morar com o meu pai. Acabei de sair da escola, desculpa não ter me despedido de vocês... Mas avisa a Molly e o Peter para mim... Perdi o número deles. Talvez eu volte esse fim de semana, para passar o dia assistindo filme com vocês.
Xoxo, Ariane."

Foi uma coisa inesperada. Ela nunca iria embora sem falar conosco pessoalmente. E perder o número dos seus melhores amigos ? Aí sim, tem algo errado. A Ariane começou a ficar diferente depois que voltou da casa do pai. Ela não responde as nossas mensagens e nem nossas ligações, quando a chamamos para sair, ela sempre inventa uma desculpa. Pensei em conversar com ela pessoalmente, mas ela sempre escapa. Balancei a cabeça. Mas que ideia estúpida! Ela deve estar passando por um momento difícil, mas quero que ela saiba que eu vou estar sempre aqui.

Guardei o celular de volta na mochila e pedi ao professor se eu podia ir ao banheiro. Saí correndo para falar com a Molly. Quando eu viro para o outro corredor, bato de frente com o Matt. Por que logo com ele?

- Calma apressadinha. - disse o Matt me segurando.

- Estou com pressa, com licença. - tentei empurrá-lo, mas ele continuou me segurando. - Bom, essa é a parte que você me solta.

Não consegui identificar na aula, mas agora consegui ver com clareza. Ele tinha uma tatuagem, no seu braço direito. Ela era toda preta, mas com algumas ondulações em cima, formando três círculos, e uma pequena linha reta embaixo, dando uma volta completa em seu braço. Quando toco em sua tatuagem, tudo ao meu redor parecia desmoronar. Comecei a ficar com frio, e foi nesse exato momento que tive uma visão.

Eu o vejo conversando com o diretor da escola, no primeiro dia de aula. Como ele se sentiu conversando comigo, quando ele me pegou no colo, como ele estava me olhando. E por último, ele conversando com um homem alto e loiro, estavam falando sobre mim, sobre minhas visões. Ele sabia de mim! As imagens passavam como flashes na minha cabeça. Parei de encarar o chão, e olhei em seus olhos. Ele estava assustado.

Seus olhos antes eram brincalhões, agora assumiam um tom de preocupação.

- Você está muito fria, Claire! - disse ele. - Está se sentindo bem?

O que eu mais queria era sair de perto dele. Estava ficando com medo. Nunca aconteceu nada assim antes. E aquela cara de espanto não ajudava em nada.

- Tô... Tô bem. Tenho que ir.

Saí correndo. Olhei para trás e ele estava me olhando. Estava desesperada. A primeira pessoa que veio na minha cabeça: Peter.

Todas as vezes em que eu ficava com medo, ou qualquer outra coisa, eu procurava por ele.

Peter estava na aula de matemática. Bati na porta e pedi ao professor se podia falar com o Peter por um segundo. Fiquei com um pouco de receio, em atrapalhar ele, mas era importante.

Puxo ele pelo braço, indo na direção dos armários.

- Peter, preciso da sua ajuda. - digo quase chorando.

- O que houve, Claire? - ele me pergunta surpreso.

Eu estava tremendo. Ele segurou os meus braços.

- Claire. O que aconteceu? 

Peter levantou o meu queixo devagar. Olhei nos olhos dele e respirei fundo. Seus olhos eram verdes safiras, cada dia mais impressionantes.

Tentei esquecer esse pensamento.

- É que aconteceu... - Lembrei que o Peter não sabia de nada sombre as minhas visões, mas eu estava desesperada. - Peter, pode passar lá em casa hoje à tarde? Precisamos conversar.

Peter concordou no mesmo instante. Me puxou para um abraço e disse que tudo iria ficar bem, mas ele não sabia nem da metade.

Vejo o Peter voltar para a sala de aula, e volto para o corredor, mas dessa vez ando devagar.

Lembrei imediatamente da Molly, mas depois eu converso com ela melhor. Ela vai me ajudar a entender o que está acontecendo.

Meus joelhos estavam tremendo de cansaço. Não durmo direito à dias. 

Fui para o banheiro feminino e lavei o meu rosto. Pensei em todos os detalhes possíveis de tudo que acabou de acontecer. 

Dizem que os olhos são a janela da alma, mas eu só conseguia ver segredos através dos olhos do Peter.



A EscolhidaOnde histórias criam vida. Descubra agora