Suspirando lentamente, Satoru passou o olho por todos os retratos espalhados pelas paredes e pela estante da sala, se sentia desolado e se o mundo acabasse nesse exato momento seria a melhor coisa que lhe aconteceu.
Dor. Isso era a única coisa que sentia, além de um grande vazio no peito, nunca imaginou que daria para sentir vários tipos de dores, mas todas elas de formas diferentes.
Como a dor física ao ser machucado por alguém, como na vez em Fishiguro Toji o esfaqueou. Ou como a dor sentimental, foi assim que ele nomeou a dor que sentia dentro do seu peito toda vez que via ______ e não podia tê-la com ele e essa mesma dor nunca o abandonou mesmo depois de quase cinquenta anos de casados.
— Pai. — Lise o chamou com a voz chorosa, a garota se aproximou e o abraçou tornando a derramar lagrimas saudosas em seguida. A menina pode até não ter herdado a técnica do clã Gojo, mas herdou os olhos da mãe. Os belos olhos que só sua amada tinha. — Dói muito.
— Eu sei. — disse quase que em um sussurro tentando confortar a menina. — Consigo vê-la em tudo aqui. Desde os momentos mais tranquilo aos mais estressados com gritos e tudo mais. — soprou uma risada tranquila.
Os olhos caídos em tristeza correram pela sala mais uma vez, era como voltar a trinta anos atrás e vê-la segurando a pequena recém nascida no colo enquanto Hiroki pintava uma folha branca sobre o vidro da mesinha de centro da sala. Ou vê-la preparando o jantar alegremente como sempre fazia, ou vê-la chegando de uma missão cansada e mesmo assim abrir um sorriso generoso ao vê os filhos e o belo marido que a esperavam ansiosos em casa.
Não, as lembranças com ela... Elas voltam muito mais do que isso, vão ao dia do primeiro beijo; o primeiro encontro deles dois; o pedido de namoro; sua primeira noite juntos compartilhando muito mais do que só a cama; o pedido de noivado; e o dia do casamento — o dia em que passaram a compartilhar a vida de uma forma unica e para sempre. O fazem lembrar das brincadeiras e brigas, da vez que a viu chorar escondido por conta dos hormônios da gravidez.
Do dia em que deu a luz ao primeiro filho do casal, vê o rosto dela encostado na borda da banheira enquanto sentia as contrações invadirem seu corpo, com os fios levemente grudados na testa por causa de todo suor. Foram as oito horas mais longas das vidas deles, mas cada segundo valeu a pena, naquele dia Gojo Satoru — mesmo sendo quem é —, se sentiu fraco e inútil como nunca antes. Prometeu a si que seu único objetivo de vida séria proteger a amada e o fruto do amor deles, e dois anos depois ambos foram abençoados com a chegada de uma menina. Ele nunca a viu tão radiante, a amava com toda sua alma e sempre deixava isso claro com os beijos calosos.
Sentiria falta de todos os detalhes, dos olhos brilhantes e vibrantes que ela e só ela tinha, o corpo perfeitamente desenhado, mesmo que aos olhos de sua amada fosse imperfeito ou fora dos padrões. Os lábios desenhados e que se encaixavam perfeitamente nos dele. E as mãos pequenas, que pareciam menores ainda se comparadas as mãos dele.
— Temos que ir. — Hiroki avisou, ele segurava Daichi no colo. Mesmo que o pequeno Gojo não entendesse perfeitamente o que estava acontecendo, sabia que não veria mais sua doce e calorosa avó que fazia questão de preparar doces deliciosos toda vez em que ia visitá-la. — Vamos pai, precisa ser forte agora.
— Diz isso como se estivesse sendo fácil para mim. — foi ríspido com as palavras encarando o filho.
— Está sendo injusto, todos nós a amávamos muito, está doendo em cada um de nós. — ele disse o encarando com os olhos marejados, de todos era o que menos havia demostrado sentimentos sobre a perda da mãe, mas aquilo estava o cortando por dentro. Havia chorado durante a madrugada toda em casa depois de receber a noticia.
— Tudo bem. — foi a única coisa que conseguiu dizer. No fundo ele sabe que tratar todos de forma rude não levaria a nada.
Três horas, foi o tempo que se passou. Satoru se mostrou muito relutante em deixá-la partir realmente, derramava lágrimas após lágrimas sem se importar em demostrar esse momento de fraqueza. Depois da cerimônia de cremação, a irmã mais nova de ______ se aproximou e entregou uma carta a ele, que foi inteiramente escrita por ela antes de partir.
Seu peito ardia e não sabia se conseguiria ler aquilo sem sentir aquela dor infernal aumentar, mas sabia que era necessário. Reunindo a pouca força que lhe restava abriu o envelope olhando rapidamente a escrita da amada.
Satoru,
Meu amado Satoru. Quase cinquenta anos ao seu lado e eu vivi uma vida inteira, obrigada pelos sorrisos, pelos abraços, pelas noites quentes que você me proporcionava mesmo durante o verão. Obrigada pelas lágrimas e momentos de dor. Obrigada pelos belos filhos e pelo lindo neto que tivemos, são tantas coisas as quais eu tenho que agradecer a você, mas a principal delas é: sua companhia por todos esses anos.
Se está lendo isso, eu realmente estava certa, parti antes de você. Mas peço que seja forte, não por mim, mas pelos nossos filhos e pelo nosso neto. Ajude Lise no que for preciso, não a deixe se engraçar com qualquer pervertido que parecer assim como eu fiz quando você apareceu na minha vida. Aconselhe Hiroki, embora seja meio distante ele o ama e o admira como ninguém. E o principal, encha Daichi de muito amor e carinho por mim.
Sinto muito o deixar sozinho agora, mas uma hora sentiria essa dor, eu sei que você odeia essa sensação de impotência, mas eu estou bem, onde quer que eu esteja. Um dia nos encontraremos, e seremos ainda mais felizes do que fomos em vida. Nunca se esqueça que eu o amo Satoru.
Com amor, de sua eterna Gojo ______.
E por último, a dor da perda. Essa dor era a que ele mais temia, pois sabia que nem mesmo o tempo ou alguma coisa poderia resolver aquilo, somente ela, só ela poderia resolver. Mas não pode fazê-lo agora porque não está mais aqui. Satoru seria capaz de romper todos os limites impostos pelo homem para abraçá-la mais uma vez, trocaria de lugar com ela se o fosse permitido.
A noite passou devagar como nunca antes, quando o homem finalmente pegou no sono já era quase de amanhã, mas finalmente pode descansar os olhos um pouco e relaxar o corpo depois de tantas emoções.
— Você não me dá um minuto de paz não é? — ele riu, ainda de olhos fechados, reconhecendo a voz da mulher.
— Não posso fazer isso, é realmente chato viver sem você. Mas... Por que não se deita aqui comigo? — ele disse esticando a mão, que levemente foi pega por ela e um pequeno peso se instalou no peito dele. — Eles vão entender. Vai ficar tudo bem agora.
Um pequeno sorriso se instalou nos lábios rosados de Satoru, sentindo a brisa suave trazer consigo o cheiro adocicado do perfume dela. Ele estava em seu lugar de paz com a pessoa que mais ama em todo mundo e jamais abriria mão disso.
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Eternamente Sua
FantasyDor, uma palavra pequena, mas que carrega muito significado e que carrega várias ramificações. Existe a dor física, a dor sentimental e a dor da perda...Ah essa dor! Era a que ele mais temia, mas a que no momento não o deixava respirar direito, sua...