Quando Menos Se Espera - Capítulo Único

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4.862 palavras

- Tem certeza que não quer esperar até amanhã para que possamos ir juntos? - Marcos tentava me convencer pela quinta vez desde que comecei a arrumar as malas.
- Amor, eu já falei que não tem necessidade, é só um último check-up das coisas, você sabe que vai perder mais se ir comigo - falei enquanto terminava de prender meu cabelo em um rabo de cavalo.
- É nosso casamento, não é importante que eu esteja junto? - ele fechou o porta-malas e olhou para mim com um olhar sério, ri e fui até ele.
- Claro que é - deslizei meus dedos pelo rosto de meu futuro marido - mas você vai deixar todo o seu trabalho aqui apenas para ir ver tudo que já viu? Vou apenas checar o salão, a igreja, a decoração... tudo que nós dois já organizamos antes. Vão ser apenas dois dias e logo logo você vai me ver tanto que vai enjoar de mim.
- Vai ficar bem fazendo tudo sozinha? - ele entrelaçou seus braços ao redor de minha cintura, apoiei meus pulsos atrás de sua nuca.
- Claro, seu bobo - ri - não confia mais em mim?

Marcos revirou os olhos, selei seus lábios rapidamente.

- Te vejo no altar então?
- Te vejo no altar - ele confirmou com um leve sorriso.

Beijei a bochecha de meu noivo e entrei no carro.

- Manda um beijo pros meus sogros - ele disse da janela do passageiro.
- Pode deixar - sorri - não deixe os casos de divórcio te influenciarem.
- Também vou sentir muito a sua falta, Heloísa - ele rebateu minha piada, ri.

Liguei o carro e saí, deixando Marcos na calçada em frente a nossa casa. 

- Até depois de amanhã! - me despedi, ele acenou para mim.

Marcos parecia sério como sempre, mas sei que no fundo ele sentia muito por não poder ir comigo até minha cidade para organizar os últimos preparativos do nosso casamento.
Eu e Marcos nos conhecíamos há pouco mais de um ano, apesar de termos personalidades e gostos bem distintos nós nos damos muito bem, e conforme o tempo passava a ideia do casamento foi ficando inevitável. Já morávamos juntos desde o segundo mês de namoro então casar era o de menos para quem já vivia uma vida a dois há tanto tempo. E como qualquer noiva, meu sobrenome era nervosismo! Mas eu tinha certeza de meus sentimentos por ele, então não havia nada a temer.

Eram cerca de seis horas de viagem de Londrina à minha cidade natal. Decidimos realizar a cerimônia no interior do Paraná por conta de uma velha tradição da minha família materna onde todos deveriam se casar na mesma capela, Marcos como sempre não viu problema então organizamos tudo a distância, apenas com a aprovação física dos meus pais que ainda moram lá. E aliás, foi um ótimo negócio, a cidade é linda e inspira casamento.

Cheguei por volta das 22h00. A rua estava uma calmaria só e meu carro seria o único ligado na rua se não houvesse outro exatamente do lado contrário do meu. Quando estacionei em frente de casa, sequer precisei buzinar para que minha mãe aparecesse radiante na calçada, conhecendo-a bem ela já devia estar a minha espera. 

- Heloísa! Por que demorou tanto? - ela me abraçou calorosamente assim que pisei para fora do carro, papai apareceu logo em seguida.
- Sabe quantas horas são de Londrina para cá, Dona Mônica? - ri.
- Finalmente a noiva chegou - papai me deu um beijo na testa - achei que o Marcos viria com você também.
- Ele estava muito ocupado com o escritório, mas mandou beijos.
- Fiz aquela moqueca que você gosta! - minha mãe disse toda animada - vamos logo antes que esfrie.

Tranquei o carro, peguei minha bolsa e entramos, o cheiro da moqueca de frango especial da minha mãe inundava a casa inteira. Fazia alguns bons meses desde que vi meus pais pela última vez, sentia a falta deles, embora nos falássemos por mensagem praticamente todo dia.

Depois do jantar - e consequentemente da melhor refeição que fiz nos últimos três meses - e após muitas conversas sobre o casório e meus planos futuros, subi para meu quarto. Estava morta de cansaço e tudo que eu queria era uma boa noite de sono, e nada me impediria de tê-lo, afinal o dia seria longo amanhã e mais do que nunca eu precisava estar bem disposta.
Assim que abri a porta e acendi as luzes senti meu coração se encher de boas lembranças. Tudo ali estava como deixei desde quando saí de casa para a faculdade há quase quinze anos, era a primeira vez de fato que eu dormiria lá de novo pois das outras vezes fazia questão de ficar na minha avó.
Me joguei na cama de barriga para cima e pensei em como era surreal voltar ali com trinta e dois anos e prestes a me casar! Durante toda a minha infância eu sonhei por horas nesse quarto como seria o príncipe dos meus sonhos, o castelo que moraríamos e como seriam nossos oito filhos. Ri sozinha com as lembranças. Hoje meu príncipe é um advogado, meu castelo um pequeno apartamento no meio da cidade grande e filhos? Um só e olhe lá. Aquele quarto foi o ninho das minhas melhores memórias, dormir ali nesses últimos dias de solteira era quase como uma despedida da juventude.

Quando Menos Se Espera - Concurso RomanceLPOnde histórias criam vida. Descubra agora