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Um dia qualquer.

Uma folga.

Wang Yibo adentrou o local.

Foi tomado subitamente pelo típico cheiro de livros antigos misturado a novos quando perpassou pelas fileiras rústicas de madeira. Ainda era tarde, o pôr do sol estava lá fora e os raios atravessavam o vidro das janelas cumpridas e limpas - sem qualquer ornamento -, que davam uma espécie de arquitetura interessante ao estabelecimento que misturava a simplicidade com uma certa modernidade.

Andou devagar, observando o lugar e seus detalhes, os títulos nas laterais dos livros que provavelmente jamais leria. Por que estava ali, afinal?
Nem mesmo ele sabia, embora desconfiasse do motivo.

Entretanto, ainda que tivesse de fato um motivo, algo mudou naquele instante em que parou na seção onde havia uma variedade de dicionários, provavelmente o único livro que se recordava de ter tocado na adolescência.

Ele o folheou e parou nas palavras com letra P.
Fechou os olhos e com o dedo indicador perpassou pela página até parar em qualquer palavra aleatória.

Ele os abriu novamente; "paráfrase"

Ele era assim, se divertindo com jogos mentais solitários que apenas ele poderia rir e apreciar. Havia uma certa excentricidade naquele confuso entretenimento, mas não importava.
Todavia, decidiu ler sobre o que era paráfrase, embora já soubesse.

"interpretação de um texto através das próprias palavras, de modo a manter o mesmo pensamento do original."

E ouviu-se um barulho logo após, vindo a poucos metros. Wang Yibo ergueu o olhar e percebeu a presença de um homem alto que agachado no chão juntava uma pilha de livros que haviam caído.

Eram tantos livros que o mesmo precisou colocar duas metades da pilha em cima da mesa de leitura.

E não só aquele fato o intrigou, mas quando o homem ergueu a cabeça, afim de encontrar qualquer testemunha de sua vergonha, Wang Yibo semicerrou os olhos.

Ele é...

Notável.

Para que tantos livros? Conseguirá ler todos eles? De uma única vez?
Isso é humanamente possível.

Curioso sobre o desconhecido, decidiu ficar atrás de uma das estantes afim de observar o outro como se este fosse um objeto de estudo.

E talvez fosse.

Paráfrase, Wang Yibo pensou.

Uma interpretação própria de um texto sem mudar sua essência, mas como seria uma interpretação própria de uma pessoa?

O que Wang Yibo definitivamente não sabia era que o outro também criava sua própria diversão mental naquelas horas.

Yibo decidiu pegar o dicionário e se sentar na mesa ao lado de onde estava o desconhecido, de frente ao mesmo. Ele manteve sua expressão habitual e não o fitou uma única vez enquanto se ajeitava na cadeira.

Wang Yibo abriu o livro, o folheou e ergueu o olhar para observar o homem distraído.

Havia um tipo de sorriso genuíno naquele rosto. Um do tipo que a maioria expressava quando sentia uma quantidade considerável de felicidade.

Um sorriso que dificilmente alguém era capaz de arrancar de Yibo.

O homem abriu o primeiro livro, lendo a introdução.

E poucos minutos depois, surpreendentemente abriu o livro na última página, lendo atentamente as páginas finais, com o sorriso sumindo gradualmente.

PARÁFRASE | YIZHANOnde histórias criam vida. Descubra agora